quarta-feira, dezembro 28, 2011

Anotações de "Milagres"

Mais uma fantástica obra de prumor artístico e intelectual reservado aos gênios da literatura, como não poderia deixar de ser, em se tratando de Lewis

C.S. Lewis




"Para ele [o teísta], a razão - a razão de Deus - é mais antiga que a Natureza e dela deriva a ordem natural que, sozinha, nos capacita a conhecê-la. Para ele,  no ato do conhecimento a mente humana é iluminada pela razão Divina. Ela é libertada, na medida necessária, do imenso vínculo da causalidade não racional; é livre da necessidade de determinar esse vínculo pela verdade conhecida." - p. 41

"O Sobrenatural não é remoto e confuso. Trata-se de um assunto da experiência diária e de toda hora, tão pessoal quanto a respiração." - p. 70

"Nada parece contraditório até que se conheça o que é ordinário. A crença em milagres, longe de depender da ignorância em relação às leis da Natureza, só é possível na medida em que essas leis são conhecidas." - p. 78

"Se, de qualquer modo, for reafirmado que algo tão pequeno quanto a Terra é insignificante demais para merecer o amor do Criador, responderemos que cristão algum jamais supôs que o merecêssemos. Cristo não morreu pelos homens por eles serem dignos dessa morte, mas porque Ele é intrinsecamente amor e, por isso, ama infinitamente." - p. 85

"Por definição, milagres devem, de fato, interromper o curso habitual da Natureza, mas se forem reais devem, justamente por meio desse ato, confirmar ainda mais profundamente a harmonia intrínseca da realidade total." - p. 98

" Não é na Natureza, mas em Algo muito além dela que todas as linhas se encontram e todos os contrastes se explicam." - p. 104

"A liberdade criativa de Deus deve ser concebida de modo semelhante à do poeta: liberdade de criar algo coerente, concreto, com sabor próprio e inimitável." - p. 104

"Deus não precisava criar esta Natureza. Ele poderia ter criado outras, e deve mesmo tê-lo feito. Todavia concedeu existência a esta Natureza, então não há dúvida de que a menor parte dela existe para expressar o caráter que Ele escolheu lhe dar." - p. 104,105

"É preciso experimentar, mesmo que brevemente, a água pura de outro mundo antes de tomar consciência do sabor indescritível da corrente morna e salina da Natureza. Tratá-la como se fosse Deus ou como Tudo é perder toda a sua essência e prazer. Saia, olhe para trás e então verá...essa surpreendente cachoeira de ursos, filhotes e bananas; esse imenso dilúvio de átomos, orquídeas, laranjas, caranguejos, canários, pulgas, gases, tornados e sapos. Como pudemos pensar que essa era a realidade suprema? Como nunca pensamos que se tratava simplesmente de um cenário para o dilema moral de homens e mulheres? A Natureza continua sendo ela mesma, e não lhe ofereça adoração nem desprezo, mas vá ao seu encontro e a conheça." - p. 106

"Toda a essência do Hinduísmo, penso eu, permaneceria inalterada se você subtraísse o milagroso. O mesmo também é quase verdade quanto ao Islamismo. Todavia não se pode fazer isso com o Cristianismo, que é precisamente a história de um grande Milagre. Um Cristianismo naturalista deixaria de lado tudo que é especificamente cristão." - p. 108

"Os relatos dos 'milagres' na Palestina do século primeiro ou são mentiras, ou são lendas, ou são história. Caso todos, ou o mais importante deles, forem lendas ou mentiras, então as afirmações que o Cristianismo têm feito nos últimos dois mil anos são simplesmente falsas; mesmo que, sem dúvida, contivesse sentimentos nobres e verdades morais, assim como as mitologias grega e nórdica as contêm." - p. 124, 125

"Quem faz de sua religião o seu deus não terá Deus em sua religião." - Thomas Erskine de Linlathen, citado na p. 127

"Nós, que defendemos o Cristianismo, vemo-nos constantemente atacados pela verdadeira religião de nossos ouvintes, e não por sua falta de religião. Falemos de beleza, verdade e bondade ou de um Deus que é simplesmente o princípio de habitação interior de um desses três atributos; falemos de uma grande força espiritual que permeia todas as coisas, uma mente comum da qual todos somos partes, um reservatório de espiritualidade generalizada o qual podemos todos fluir. Iremos deparar com um amigável interesse. No entanto, a temperatura sobe quando mencionamos um Deus que tem planos e realiza atos notáveis, que faz uma coisa e não outras, um Deus concreto que escolhe, dá ordens, proíbe e tem caráter definido. Os ouvintes ficam imediatamente perturbados ou aborrecidos. Tal concepção lhes parece antiga, rude e até irreverente." - p. 128

"A natureza aperfeiçoada de qualquer coisas real é sempre, a princípio, um estorvo às nossas fantasias naturais, um intruso infame e pedante que interrompe a lógica de uma conversação que se desenvolvia maravilhosamente bem sem ele." - p. 134

"Ousemos dizer que Deus é uma Coisa específica. Outrora, Ele foi a única Coisa, mas Ele é criativo. Fez com que outras coisas passassem a existir. Ele não é, contudo, essas outras coisas que criou. Não é um 'ser universal'. Se fosse, não haveria criaturas, pois uma generalidade não pode criar nada." - p. 137

"Na linguagem do apóstolo Paulo, o propósito de nos despirmos não é fazer com que nossa ideia de Deus alcance a nudez, e sim que nossa nudez seja revestida." - p. 140

"Custe o que custar, Ele não deve ser concebido como uma generalidade sem traços característicos. Se Ele realmente existe, então é a coisa mais concreta que existe, a mais individual, 'organizada e minuciosamente articulada'. Ele é impronunciável não por ser indefinido, mas por ser definido demais para a inevitável falta de precisão de linguagem." - p. 142

"A Filiação Divina é, por assim dizer, o sólido do qual a filiação biológica é simplesmente uma representação esquemática na superfície." - p. 142

"Talvez devêssemos, acertadamente, rejeitar também grande parte do simbolismo do Antigo Testamento. Entretanto devemos ter certeza da razão de o fazermos: não é pelo fato de as imagens serem muito fortes, mas por serem muito fracas. A realidade espiritual suprema não é mais vaga, mais inerte, mais transparente que as imagens, e sim mais positiva, mais dinâmica e mais opaca." - p. 143

"Se precisamos de uma imagem mental para simbolizar o Espírito, é preciso representá-lo com algo mais sólido que a matéria." - p. 144

"Em toda parte, o grande acolhe o pequeno, e essa capacidade é praticamente a prova de sua grandeza." - p. 172

"Onde o Deus real está presente, as sombras desse Deus não aparecem, apenas aquilo com que as sombras se assemelham. Através de toda a sua história, os hebreus foram sempre desviados da adoração dos deuses da Natureza - não porque os deuses-Natureza fossem diferentes em todos os aspectos do Deus da Natureza, mas porque, na verdade, eram no máximo semelhantes, e fazia parte do destino daquela nação ser afastada das semelhanças para se aproximar do próprio Deus." - p. 178

"Deus jamais se desfaz de algo, a não ser do mal; jamais faz algo bom para depois desfazê-lo (...). Ele jamais se separará da Natureza novamente, e ela deve ser glorificada de todas as maneiras que essa união milagrosa exige." - p. 189

"Onde há um Deus cheio de propósitos e que tudo prevê agindo sobre uma Natureza totalmente interligada, não pode haver acidentes ou acasos, nada a que possamos nos referir como simplesmente." - p. 189

"A vida das Vidas que estava nele [Jesus] não odiou menos que nós esse castigo cruel [a morte] - odiou-o ainda mais. Por outro lado, só aquele que perde a própria vida a salvará. Somos batizados na morte de Cristo, e ela é o remédio para a Queda. A Morte, de fato, é o que alguns indivíduos chamam de 'ambivalente'. Ela é a grande arma de Satanás e também a grande arma de Deus. É sagrada e profana. Nossa suprema desgraça e nossa única esperança, aquilo que Cristo veio conquistar e o meio pelo qual Ele efetuou a conquista." - p. 192

"Eles [os milagres] proclamam que Aquele que veio não é apenas um rei, mas o Rei, o Rei da Natureza e nosso Rei." - p. 202

"A mente que exige um Cristianismo sem milagres é aquela que se encontra no processo de rebaixar o Cristianismo a simples 'religião'".  - p. 203

"(...) suspeito que nosso conceito de Céu como um simples estado de espírito relaciona-se com o fato de que a virtude cristã da Esperança enfraqueceu muito em nossos dias. Onde nossos pais , perscrutando o futuro, viram lampejos dourados, vemos apenas a bruma branca, informe, fria e imóvel." - p. 245

"O cristão não deve perguntar se este ou aquele acontecimento ocorreu em resposta a uma oração, mas deve acreditar que todos os eventos, sem exceção, são respostas à oração, no sentido de que, se atendidas ou recusadas, as orações de todos os aflitos, bem como suas necessidades, são todas levadas em consideração por Deus." - p. 274




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