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quinta-feira, julho 26, 2007

Minha Litania

por Ricardo Gondim


Porque somos tão despercebidos da brevidade da vida.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque acumulamos riqueza imaginando que viveremos por longos anos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos conformamos com a maldade impessoal do mercado.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque aceitamos a inevitabilidade da guerra.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque não questionamos haverem muitos pobres e poucos ricos nas penitenciárias.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos indignamos com as súbitas desgraças e nos aquietamos com os holocaustos crônicos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque calejamos a alma para não nos revoltarmos com a mortandade africana.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque pagamos fábulas de dinheiro aos pilotos de carros de corrida e deixamos os professores com salários minguados.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque aceitamos que filhos de políticos também sejam candidatos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque tentamos fazer de Deus um servo para nos prover o que precisamos.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque nos acostumamos com as cisternas podres e abandonamos as fontes de água cristalina.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque somos religiosos semelhantes aos algozes de Jesus de Nazaré.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque, como Tomé, precisamos ver para crer.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque continuamos parecidos com os nossos pais.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Porque só te pedimos misericórdia de vez em quando.
Cordeiro de Deus, tende misericórdia de nós.

Soli Deo Gloria.

quinta-feira, junho 21, 2007

Sem perder a alma

por Ricardo Gondim
A gente chega numa idade que parece já ter visto de tudo e do seu reverso. Em meus trinta anos de convívio entre os evangélicos, ganhei a sensação de que nada mais pode me surpreender.
Fui privilegiado de conhecer heróis e heroínas da fé; gente que para evangelizar, enfrentou o cinzento do sertão, a umidade inclemente da Amazônia e o frio gaúcho. Já me arrepiei com o denodo de pastores que sobem morros perigosos, com a persistência de rapazes que dedicam tardes de domingo visitando hospitais, presídios e sanatórios, com a ternura de mulheres que cuidam de orfanatos.
Contudo, do mesmo modo, testemunhei horrores praticados em nome de Deus, escandalizei-me com evangelistas escarnecendo de paralíticos, revoltei-me com a manipulação exagerada de falsos milagres. Espantado, presenciei missionários, ávidos por demonstrar o tamanho de sua unção, inventando manifestações sobrenaturais.
Depois de conhecer os bastidores de algumas igrejas evangélicas, percebi o risco de tornar-me cínico. Diante de tanta ambigüidade na esfera religiosa, eu poderia aprender a comportar-me como uma hiena, sarcasticamente rindo por dentro perante tanto paradoxo. Sei que é possível desdenhar de tudo o que se faz em nome de Deus. Confesso que às vezes dá vontade mesmo de zombar dos arroubos ufanistas daqueles que tentam me fazer embarcar em projetos megalomaníacos.
Depois de tanto perambular pelos corredores religiosos, pregando em Congressos e ouvindo conversas de corredor, conscientizei-me de que preciso guardar o coração. Infelizmente, convivo com tantos doentes espirituais, que também corro sério risco de me desumanizar. Sei que posso sucumbir à tentação de ganhar o mundo inteiro e, no processo, perder minha alma; posso despersonalizar-me só para ter alguma notoriedade denominacional.
Conheci líderes com traquejo nos palcos religiosos, mas que já não beijam seus filhos há tempo. Posso citar vários que nunca leram poesia, jamais contemplaram a beleza de um pôr-do-sol, não jogam bola com os netos e desconhecem a alegria de deixar-se conduzir por uma melodia calma; muitos esqueceram que é possível ouvir o inaudível no cicio de uma brisa.
Vez por outra, eu me flagro assaltado pelo farisaísmo, e com isso, dou de ombros para a vida em nome da minha instituição; também me apavoro comigo mesmo quando me vejo armando esquemas para conquistar mais reconhecimento; entristeço quando percebo que ambiciono ter o status de messias. Ah, como fui tardio em desconfiar que meu ambiente religioso fosse tão perigoso! Porque não me precavi do fermento dos fariseus, paguei um preço muito alto.
Para não asfixiar a alma, senti a necessidade de achar respiradouros onde pudesse renovar meu ser.
Assim, passei a ler diversificadamente. Aprendi a gostar de poesia, biografias, romances e crônicas. Hoje, sonho ao lado de mestres das metáforas como José Lins do Rego; compenso a crueldade do mundo, viajando pelos universos paralelos imaginados por gente como Tolkien, Gabriel Garcia Márquez e Rachel de Queiroz; refresco meu coração com a sublimidade poética do Vinicius de Moraes. Em minhas tristezas, sinto-me atraído pelos Salmos de Davi e por Fernando Pessoa.
Assim, procuro ritualizar minhas refeições. Hoje, almoço sem pressa. Assim, quero consagrar cada abraço que dou e recebo, e considerar meus presentes como sacramentos do cuidado de Deus. Como alquimista, busco transformar cada instante de minha breve vida, numa gostosa saudade.
Assim, desejo aprender a conversar despretensiosamente com meus amigos. Hoje, sei que preciso antecipar-me aos meus inimigos para poder oferecer-lhes um pedaço de minha paz e pedir que me ajudem a construir pontes em direção a eles.
Assim, anseio por ler a Bíblia sem a obrigação de conseguir tirar “verdades práticas” do seu texto. Tenho sede de meditar vagarosamente nas histórias, parábolas e ensinos dos dois Testamentos. Ainda hei de descobrir o que o salmista quis comunicar quando escreveu: “Provai e vede que o Senhor é bom”.
Assim, aspiro aprender a calar-me na presença de Deus. Hoje, quero exercitar-me na oração contemplativa. Reconheço que ainda engatinho nessa disciplina espiritual, mas anelo aprender o sentido mais profundo do batismo no Espírito Santo.
Eu já quis ganhar cidades, mas hoje tenho um projeto mais fascinante, luto com todas as minhas forças para cuidar do meu coração - dele saem as fontes da vida.
Soli Deo Gloria.
http://www.ricardogondim.com.br/Artigos/artigos.info.asp?tp=71&sg=0&id=1477

domingo, maio 13, 2007

Carta aberta a Sua Santidade, o Papa Bento XVI.

por Ricardo Gondim


São Paulo, 12 de maio de 2007.Sua Santidade,

Respeitosamente o saúdo com paz da parte de Deus.

Percebo-lhe feliz em sua visita ao nosso país; sinta-se bem vindo. Espero que acontecimentos de bastidores não lhe tragam constrangimento – sempre existem futricas privadas nas instituições humanas.

Alegrei-me também de perceber sua coragem em defender alguns princípios inegociáveis para a igreja católica como o aborto. Concordo que os fetos não podem ser considerados meros apêndices indesejáveis do corpo das mulheres, podendo ser extirpados sem critério.

Alegrei-me de vê-lo abraçando duas velhinhas magras e pobres - acredito que elas eram conterrâneas minhas. Sua Santidade não imagina como os idosos sofrem no Brasil. A grande maioria depende que seus familiares os acolham e, geralmente, são considerados um estorvo. Lembrei-me de minha avó, Sua Santidade, que viveu seus últimos dias abandonada sem afeto e sem atenção. Ela ficou cega, e porque vivia na casa de um tio muito mau, angustiou-se até a morte com o desdém e o abandono.

Alegrei-me quando vi Sua Santidade rodeado de sacerdotes de tradições religiosas não alinhadas à sua. No Brasil, nutríamos um medo muito grande que a lenha já seca da Inquisição, que Sua Santidade já presidiu, ardesse novamente. Regozijei-me pelo rabino sorridente que pediu sua bênção. Espero que ele se sinta perdoado, principalmente, depois do constrangimento de haver quebrado um dos Dez Mandamentos, e de ser preso nos Estados Unidos.

Permita-me dizer-lhe, com toda reverência, que fiquei muito, muito, triste com os termos que Sua Santidade se referiu aos evangélicos. Por favor, entenda-me, não estou com melindres. Eu mesmo tenho criticado bastante os evangélicos pelos seus sérios problemas doutrinários e pelas suas enormes dificuldades éticas. Longe de mim ousar corrigi-lo, papa Bento XVI, mas o termo “seita”, é sociologicamente anacrônico; ele comunica uma atitude preconceituosa em relação aos outros, por isso, o considerei despropositado para uma declaração pública, mesmo dirigida ao seu clero.

Entristeci bastante porque notei que Sua Santidade ainda repete o antigo pressuposto agostiniano de que “fora da igreja não existe salvação”. Não o censuraria, até porque reconheço a distância que nos separa - Sua Santidade lidera centenas de milhões de crentes e eu cuido apenas de uma comunidade local –, contudo, referir-se ao grupo religioso que mais cresce na América Latina como “seita”, revela a falta de sintonia dos seus assessores com os eventos daqui.

Permita-me – com toda reverência – fazer algumas considerações sobre o crescimento dos evangélicos neo-pentecostais:
1. Os evangélicos crescem porque conseguiram juntar o discurso doutrinário protestante com a simbologia mística que o catolicismo tanto difundiu no Brasil. Acredito que bispos e teólogos católicos terão enorme dificuldade para arrefecer a força dessa combinação. Saiba que existem similares evangélicos até mais fortes para as pílulas milagrosas do Frei Galvão – acredito que um erudito como o Papa Bento XVI não dá muito valor para pedacinhos de papel, em forma de pílula, com preces escritas que precisam ser engolidos para fazer milagre, também não acredito muito nessas coisas.


Os evangélicos agora se valem de rosas ungidas, copos d’água poderosos e dos vales com sal grosso para “amarrar demônios”. Parece-me que a máquina de criar símbolos é mais eficiente entre os neo-pentecostais até porque, todo dia, surge um novo objeto milagroso. Agora que a mensagem protestante foi adubada com a simbologia católica, o terreno ficou fértil.


2. Os evangélicos crescem, Sua Santidade, porque vêm de um começo belicoso – eles são filhos do fundamentalismo que reagiu fortemente ao “Liberalismo Teológico” da sua Alemanha. Os evangélicos aumentaram o número de fiéis porque, por muitos anos, enxergaram a igreja católica, como uma instituição adversária e partiram para cima dela.


Portanto, quando Sua Santidade os chama de “seita”, eles se sentem provocados e vão investir ainda mais contra os frágeis católicos nominais. Anote o que prevejo: a sangria dos católicos nominais continuará até depois de seu papado.

Oro a Deus que se esvazie a retórica antagônica entre nós, afinal de contas, trabalhamos pela mesma causa. Sua Santidade, sou amigo de alguns padres e, confesso: suas colocações me causaram desconforto; pareceu que em seu papado, antigas rusgas da Reforma recrudescerão.

Pior, achei que houve uma atitude desprezível da cúria do Vaticano em relação às pequenas igrejas como a minha, que lutam com tanto esforço para anunciar o Evangelho com integridade. Escrevo-lhe com carinho, em nome da harmonia entre os cristãos.


O conservo de Jesus,


Ricardo Gondim.


Soli Deo Gloria.

domingo, abril 15, 2007

Mania de Perseguição

por Ricardo Gondim.
Os evangélicos convivem com muita paranóia.
Aliás, a mentalidade evangélica é belicosa; e uma espécie de síndrome persecutória acompanha o movimento faz tempo. Outrora, acreditava-se que os comunistas haviam se organizado para destruir a fé e que era necessário treinar os pastores para lutar contra os “vermelhos”. O comunismo mirrou e não foram os crentes que acabaram com ele. Depois, os homossexuais foram eleitos como inimigos. Eles, ao lado dos defensores do aborto, provocariam a queda da cristandade e fechariam igrejas.
Agora são os muçulmanos que estão na alça de mira dos evangélicos. Propaga-se que eles representam uma verdadeira ameaça à civilização e aos ensinos de Cristo. Se estes inimigos se tornaram alvos de uma guerra santa global, no Brasil os oponentes da igreja são outros.
Espanto-me com alguns evangelistas que afirmam e bradam de pés juntos que existe uma conspiração da mídia para perseguir as igrejas. E que os pastores são alvos de tramas engendradas no inferno, mas deflagradas pelos grandes jornais e, principalmente, pela Rede Globo.
Alguns gostam de falar das conspirações do Vaticano para bloquear o crescimento evangélico, como se a Igreja Católica fosse uma agência do diabo e que seus cardeais e o Papa varassem noites analisando como semear escândalos que maculem a boa reputação dos protestantes, assim, neutralizando o seu avanço.
Espalham-se teorias conspiratórias estapafúrdias com notícias de que satanistas decretaram jejum com o intuito de “derrubarem” os pastores.
Já participei de cultos em que as janelas foram untadas de óleo para evitar a entrada de demônios; já soube de pastores que, em caravana, arrancaram quadros, decorações e enfeites de alguns lares, sob o pretexto de que aqueles objetos estavam possessos de demônios.
Em um congresso de atletas cristãos tive de aconselhar um jogador de futebol que, em pânico, tinha medo de acabar com sua carreira por ter participado de um jogo com chuteiras que teriam sido amaldiçoadas.
De onde vem tanta mania de perseguição? Por que o culto evangélico precisa de uma enorme dose de medo para ser intenso?
Concordo que os quatro Evangelhos mencionam perigos na trajetória da igreja. Reconheço que os que “desejam viver corretamente, sofrerão perseguição”. Mas espera lá, o que vem acontecendo no Brasil não é bem do jeito que a Bíblia relata.
A perseguição da mídia ocorre devido à repercussão de alguns escândalos promovidos pelos evangélicos. Desde 1989, quando houve uma primeira bancada evangélica com número significativo de deputados federais para desequilibrar as votações do Congresso, começaram as levas de escândalos que parecem não parar mais, chegando às “sanguessugas”, que desviaram verbas do Ministério da Saúde. Se a mídia mostra menos pecados católicos, não isenta os evangélicos da obrigatoriedade de reconhecerem que precisam ser sal da terra e luz do mundo.
Existe muita vaidade em se achar perseguido. Percebo alguns evangelistas tomados de um enorme messianismo, achando-se tão importantes, que acreditam mesmo que o mundo inteiro maquina uma maneira de destruí-los; são tão auto referenciados que projetam sobre si mesmos o ódio que o diabo revelou contra o apóstolo Pedro.
Acontece que a igreja evangélica vem tropeçando em várias questões éticas; repetindo entre o clero os mesmos erros dos líderes políticos; amando o dinheiro, igualzinho ao mundo. A pergunta inconveniente, mas necessária é: para que o mundo precisaria persegui-la? Os evangélicos são inimigos de si mesmos. Réus e vítimas de suas próprias doenças, não provocam a indignação de ninguém, pelo contrário, são, muitas vezes, dignos de pena.
Para que o mundo odiasse a igreja, ela precisaria de uma moral que não só condenasse o vício do cigarro ou da maconha, mas procedimentos íntegros em outras áreas menos abordadas; de uma teologia que não prometesse apenas o céu, e sim engajamento transformador da miséria, dos preconceitos e das injustiças; de uma espiritualidade que não tentasse usar Deus, mas promovesse intimidade com o Pai.
Antes de ter medo do mundo e do diabo, que mais crentes tenham medo de si mesmos.
Soli Deo Gloria.

sábado, janeiro 27, 2007

Meu amor pelo livro

Olá amigos do Menininha.com!
Estou há muito tempo sem atualizar o blog porque estou aproveitando as férias para colocar minha leitura em dia. Aliás, eis o motivo dessa postagem! Estava eu dizendo a uma amiga minha paixão pelos livros e indicando a ela o site www.vidaacademica.net quando achei um artigo do pastor Ricardo Gondim exatamente com o título desse post. Ao ler esse texto descobri que tenho muito em comum com o admirável pastor Gondim, então resolvi postar aqui para que vocês pudessem se apaixonar também por esse que é o único " tipo de consumismo que não me oponho". Deliciem-se;)
Ricardo Gondim

Meu amor pelo livro - 5/1/07

Meu pai lia obsessivamente. Todas as vezes que o surpreendia, abrindo a porta do seu quarto sem bater, eu o flagrava com um livro na mão. Ele assinava pelo menos duas revistas de notícias semanais e vários pasquins.

Ele comprava folhetos subversivos não sei onde e os trazia perigosamente para casa. Papai era professor de história, mas seu fascínio maior era a II Guerra Mundial. Em sua biblioteca, sobravam tomos, fotografias e artigos sobre o conflito que marcou sua infância.

Só há um tipo de consumismo que não me oponho: comprar livros. Aliás, todas as vezes que entro numa livraria, gasto mais do que posso - divido em prestações o que não consigo pagar à vista. Não cogito fazer qualquer viagem de avião sem ler o tempo todo. Só há um momento que odeio o sono, quando estou avidamente envolvido com um romance.

Antigamente eu resumia minha leitura a textos conceituais, de não-ficção. Por causa da minha necessidade de aprender a escrever - faltei às aulas de português do Liceu - aprendi a devorar literatura brasileira e portuguesa.
Hoje abocanho com igual apetite, biografias, romances, poesias, ficção científica e contos. Os livros grossos já não me metem medo. Sou capaz de perseverar em mil páginas.

Tenho tanta avidez de compensar os anos perdidos em que não abri uma página, que faço vigília até altas horas da madrugada para terminar um livro - só não passo a noite em claro, porque, casado, obedeço ordens superiores, que zelam pela minha saúde.

Acredito que o livro faz parte da conspiração divina. Quando Deus quis falar aos homens, não fez pirotecnia celestial, apenas inspirou homens que escrevessem. Por isso, todas as vezes que Moisés subia a montanha, Jeová mandava que trouxesse um bloco de anotações. Tem razão a frase latina: Scripta manent, verba volant - 'O escrito fica, as palavras voam'.

Digo sem medo: todo livro é sagrado. O livro é relicário santo onde se registram as memórias, as fantasias, as angústias, os medos, as bravuras, a grandeza e os pecados da humanidade.

Não existe livro impuro, apenas o mal escrito. Literatura é a mais completa de todas as artes. Se um personagem numa pintura, escultura ou cinema aparecer contemplando um relvado, ninguém conhecerá com exatidão o que ele pensa. O bom escritor, contudo, discerne não só os seus pensamentos como o que move suas entranhas.

Louvado seja o livro, pois sem ele não conheceríamos o amor trágico de Tristão e Isolda, de Romeu e Julieta e de Bentinho e Capitu; jamais celebraríamos a coragem enlouquecida de Dom Quixote; não saberíamos sobre a força do ciúme em Otelo; e nunca partilharíamos da coragem do capitão Acabe.

Jorge Luis Borges afirmou que, em sua vida, procurou mais reler do que ler: Ele dizia: 'Creio que reler é mais importante que ler, embora para reler seja preciso haver lido'.

Borges, já sem enxergar, fez uma linda declaração de amor ao livro:

'Continuo fingindo não ser cego; continuo comprando livros, continuo enchendo minha casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 (ele escreveu isso em 1978) da Enciclopédia Brockhaus.

Senti a presença dessa obra em minha casa; eu a senti como uma espécie de felicidade. Aí estavam os vinte e tantos volumes, com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e gravuras que não posso ver; e, no entanto, o livro estava aí. Eu sentia como que uma gravitação amistosa do livro. Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade que temos, nós, os homens'.

A humanidade não vive só de pão, mas de palavras. No livro não se acha sabedoria pura e simples, nele está a fonte da felicidade. Deus é escritor e os que querem se achegar a Ele, devem aprender a gostar de ler.

Soli Deo Gloria

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