quarta-feira, junho 29, 2011

Anotações de "Oração: cartas a Malcolm"

C.S. Lewis


"Nada torna um amigo ausente tão presente quanto uma discordância." - p. 5

"É como se acreditassem [os clérigos] que as pessoas podem ser seduzidas a ir à igreja por luminosidade, claridade, morosidade, condenações, simplificações e complicações incessantes do culto." - p. 6

"Sapato bom é aquele que passa despercebido no pé. A leitura torna-se prazerosa quando você não pensa mais nos seus olhos, na luz, na letra impressa, na grafia das palavras. O culto perfeito na igreja seria aquele que transcorresse quase de forma imperceptível para nós, porque nossa atenção estaria voltada para Deus." - p. 6

"Se o rebanho se mantiver pacientemente junto, balindo sem cessar, será que, por fim, não conseguirá trazer de volta os pastores?" - p. 8

"O mundo é feito de todo tipo de gente; também uma igreja. Sobretudo a igreja. Se a graça aperfeiçoa a natureza, ela deve expandir todas as nossas naturezas à riqueza absoluta da diversidade que Deus tinha em mente quando os criou. No céu haverá maior diversidade do que no inferno." - p. 13

"[As palavras na oração] são apenas uma âncora, ou melhor dizendo, os movimentos da batuta de um maestro, não a música." - p. 15

"Nenhuma outra criatura é igual a mim; nenhuma outra situação idêntica à minha. Na verdade, eu mesmo e a situação que vivo estamos em constante mutação. Uma fórmula pronta não pode servir à minha relação com Deus" - p. 15

"A crise do momento presente, assim como o poste telegráfico mais próximo, sempre parece maior do que de fato é. Não há o perigo de que nossas necessidades maiores, permanentes objetivos - em geral mais importantes - acabem banidas de nossas orações [justificando as orações "pré-fabricadas"]? - p. 16

"Seria melhor não ter reverência alguma do que cultivar uma reverência que negasse a proximidade." - p. 18

"O ato sexual, quando lícito (...) pode, a exemplo dos demais atos meramente naturais (...), ser realizado para a glória de Deus, e aí então será santo. E como outros atos naturais, às vezes os praticamos dessa maneira, às vezes não." - p. 20

"Creio que 'as coisas belas da natureza' são um segredo que Deus decidiu partilhar conosco [seres humanos] apenas." - p. 24

"(...) o ajoelhar é importante, mas há outras coisas ainda mais importantes. A mente atenta e um corpo sentado são mais úteis à oração do que o corpo ajoelhado e a mente sonolenta." - p. 24

"Pode acontecer de perdermos o nome da pessoa, ou jamais tê-lo sabido, mas nem por isso nos esquecemos do quanto ela precisa de nossas orações." - p. 24

"Imagino que só a atenção divina sustente, da fato, minha existência (ou qualquer outra coisa)." - p. 26

"Temos de apresentar diante dele [de Deus] o que há dentro de nós, não o que deveria haver." - p. 30

"Se pusermos todas as cartas sobre a mesa, Deus nos ajudará a moderar os excessos." - p. 31

"Creio que, às vezes, sentimo-nos desestimulados de pedir coisas pequenas movidos por um sentimento de dignidade própria, em vez de nos fiarmos na dignidade divina." - p. 31

"Essa súplica ["seja feita a tua vontade"], portanto, não significa que eu deva ser mero paciente da vontade divina, mas que devo realizá-la com determinação. Devo ser agente tanto quanto paciente. Estou pedindo para ser capacitado a realizá-la. Em última análise, peço que me seja dada 'a mesma mente de Cristo Jesus'" - p. 34

"Se Deus tivesse atendido a todas as orações tolas que eu fiz na vida, onde eu estaria agora?" - p. 38

"Pode até mesmo se dar o caso de as ações mais genuinamente cristãs de um homem acontecerem fora daquela parte de sua vida que ele considera religiosa." - p. 43

"Às vezes, oro não para que me seja concedido um auto-conhecimento total, mas apenas o suficiente para o momento, o tanto que eu possa suportar e usar em um instante determinado. Minha pequena dose diária." - p. 47

"Há quem se sinta culpado da própria angústia e a interprete como falta de fé. Não concordo de modo algum. Trata-se de aflições, não de pecados." - p. 56

"Nossas orações são ouvidas (...) não apenas antes de a fazermos, mas antes mesmo de existirmos." - p. 64

"Sempre há esperança se mantivermos um problema não resolvido diante de nós; não há nenhuma se fingirmos que ele não existe." - p. 78

"Para a maioria de nós, a oração do Getsêmani é o único modelo que conta. Remover montanhas pode esperar." - p. 79

"Envenenamos o vinho que Ele decanta em nós; assassinamos uma melodia que Ele executa em nós, instrumentos dEle. Fazemos uma autocaricatura do retrato que Ele pinta de nós. Portanto, todo pecado, qualquer que seja ele, é um sacrilégio." - p. 90

"Pela graça, Ele dá às criaturas mais elevadas poder para experimentar Sua vontade (...). As menos elevadas limitam-se a executá-la automaticamente." - p. 96

"Podemos ignorar a presença de Deus, mas não fugir dela em lugar nenhum. O mundo está repleto dEle (...). A verdadeira labuta é lembrar, prestar atenção. Na verdade, despertar. Mais ainda, permanecer desperto." - p. 97

"É da natureza do real que ele tenha arestas pontiagudas e extremidades ásperas, que ele seja resistente, seja ele mesmo." - p. 98

"Nunca conheci ninguém que descresse por completo do Inferno e também mantivesse uma crença viva e inspiradora no Céu." - p. 98

"Intensidade emocional em si mesma não serve como prova alguma de profundidade espiritual (...). Só o próprio Deus pode baixar o balde às profundezas dentro de nós." - p. 106

"Nós - ou pelo menos eu - não devemos ser capazes de adorar a Deus nas ocasiões mais ilustres se não adquirirmos o hábito de fazê-lo nas mais triviais." - p. 116

"A alegria é um assunto levado a sério no Céu." - p. 119

"Enquanto estamos orando, não quando estamos lendo um romance ou resolvendo uma palavra cruzada, qualquer ninharia é suficiente para nos distrair." - p. 143

"Deus, às vezes, parece nos falar com maior intimidade quando nos pega, por assim dizer, desprevenidos. Nossos preparativos para recebê-lo por vezes encontram o resultado oposto." - p. 148

"O primeiro homem que tentasse adivinhar 'o que o público quer' e a partir de então pregasse suas conclusões como cristianismo porque o público assim o desejava seria uma bela mistura de tolo e patife." - p. 151

sexta-feira, junho 24, 2011

As sementes que caíram entre os espinhos

"Outros ainda são os que recebem a semente entre espinhos. Estes são os que ouvem a palavra, mas as preocupações do mundo, a sedução da riqueza e o desejo por outras coisas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera" - Mc 4:18,19

                           

E cá estou eu, mais uma vez escrevendo sobre a parábola do semeador. Como já disse algumas vezes, há trechos da Bíblia que estamos cansados de ouvir e por, ao passar direto por eles em nossas leitura bíblica diária, acabamos perdendo importantes lições que Jesus tem a nos ensinar.

Todos nós, quando pensamos em espinhos, pensamos imediatamente em coisas ruins, em problemas, não é à toa que algumas traduções da Bíblia dizem que o apóstolo Paulo tinha um espinho do qual não conseguia se livrar.

Mas o interessante desse trecho é ver como Jesus interpreta esse termo na parábola do semeador. Os espinhos são as preocupações do mundo, a sedução da riqueza, o desejo por outras coisas.

Os espinhos são o instrumento de defesa de muitas plantas, como a rosa. Para podermos segurar uma nas mãos sem risco, temos que retirar os espinhos. Assim também, a beleza da palavra não pode ser experimentada por aqueles que têm o foco em outras coisas, por aqueles que não querem priorizar Deus e sua palavra em seu cotidiano.

Todos nós temos nossos espinhos (tentações) e sabemos bem quais são, assim como o apóstolo Paulo sabia. Mas cabe a nós pedir a graça de Deus para nos ajudar a superar essas dificuldades, pois é pela graça que os espinhos não crescem a ponto de nos sufocar. Pode ser que lidemos com eles a vida inteira, mas a graça de Cristo nos basta para frutificarmos.

Aqueles que se deixam dominar pelos espinhos não fruticarão, e "toda árvores que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo" (Mt 7:19).

quarta-feira, junho 22, 2011

Anotações de "Cartas de um diabo a seu aprendiz"

C.S. Lewis

Aqui, vale uma explicação antes de colocar as frases. 
C.S. Lewis, o conhecido autor de "Crônicas de Nárnia" e "Cristianismo Puro e Simples", escreveu esse livro em homenagem a seu amigo J.R.R. Tolkien (isso, o autor de "O Senhor dos Anéis"). Nele, um diabo "mestre", o Fitafuso, ensina ao seu sobrinho, Vermebile, como ser um tentador experiente, ou seja, como levar os humanos para o lado do senhor das trevas. Nesse livro, Deus é tratado como "o inimigo", já que Ele leva as pessoas para perto de si, e atrapalha as tentativas dos tentadores. O diabo é conhecido como "Nosso Pai", pai dos demônios. O ser humano tentado por Vermebile é chamado de "o paciente". Dito isso, seguem as frases:

"Há dois erros semelhantes mas opostos que seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles." - p. IX

"O problema da argumentação é que ela leva a batalha para o campo do Inimigo" - p.2

"Se [os humanos] conseguirem atravessar essa avidez inicial com sucesso, eles se tornarão bem menos dependentes das emoções e, assim, bem mais difíceis de tentar." - p. 9

"Se eu, sendo o que sou, me considero em algum nível um Cristão, por que os defeitos das pessoas sentadas no banco ao lado seriam provas de que a religião delas é pura convenção e hipocrisia?" - p. 9

Dicas de fitafuso para incentivas brigas domésticas:
"1. Faça-o prestar aenção apenas na sua vida interior" - p. 12
"3. Quando dois humanos vivem juntos por muitos anos, é bem comum que cada um tenha um tom de voz ou uma expressão facial que sejam quase insuportáveis para o outro. Aproveite-se disso" - p. 13"

´'É engraçado como os mortais sempre nos imaginam enfiando ideias em suas cabeças, quando, na verdade, somos peritos em deixar coisas de fora" - p. 18

"O modo mais simples [de fazer os humanos falharem na oração] é evitar que olhem para Ele e voltem o olhar para si mesmos" - p. 18

"Onde quer que haja uma prece, existe o perigo de Sua ação imediata" - p. 18

"(...) você deve manter seu paciente sempre rezando para isso - a coisa que ele mesmo criou, não a Pessoa que o criou" - p. 20

"Obviamente, naquele exato momento de horror, de luto ou dor física [que a guerra produz] você poderá capturar a sua presa, quando ela deixar momentaneamente de raciocinar. Mas eu descobri que, mesmo nesse instante, se ele buscar refúgio no Inimigo, quase sempre será atendido" - p. 25

"Nada mais eficaz que o suspense e a ansiedade para proteger a mente de um ser humano contra o Inimigo. Ele quer que os homens se preocupem com o que fazem; nossa tarefa é fazê-los pensar constantemente sobre o que lhes poderá acontecer." - p. 26

"Quando os humanos não acreditam na existência de demônios, não temos mais os agradáveis resultados diretos do terrorismo direto e não podemos 'produzir' nenhum mago" - p. 31

"Todos os extremos, com exceção da devoção extrema ao Inimigo, devem ser encorajados." - p. 33

"Queremos que a Igreja seja pequena, não apenas no sentido de cada vez menos homens conhecerem o Inimigo, mas também no sentido de fazer com que aqueles que O conhecem adquiram uma intensidade inquieta e o farisaísmo definitivo em uma sociedade secreta ou de um grupo fechado." - p. 33

"Nós queremos apenas um gado que finalmente poderá ser transformado em alimento; Ele quer servos que finalmente poderão tornar filhos. Nós queremos sugá-los; Ele quer fortalecê-los. Somos vazios, e por isso queremos ser preenchidos; Ele está repleto e transborda. Nosso objetivo nessa guerra é um mundo no qual o Nosso Pai nas Profundezas possa absorver todos os outros seres nele mesmo; o Inimigo quer um mundo repleto de seres unidos a Ele e ainda assim distintos." - p. 38

"Nunca a nossa causa corre tanto perigo como quando um humano que não deseja mais, mas ainda assim tenciona fazer a vontade de nosso Inimigo, perscruta um universo do qual Ele parece ter desaparecido sem deixar rastro, e pergunta por que foi abandonado, e ainda obedece." - p. 40

"Nunca se esqueça de que, quando lidamos com qualquer prazer, na sua forma normal e gratificante, estamos de certo modo, no campo do Inimigo. Eu sei que já ganhamos várias almas através do prazer. Ainda assim, o prazer é invenção dEle, não nossa. Ele concebeu os prazeres. (...) A fórmula, portanto, resume-se a uma ânsia cada vez maior por um prazer cada vez menor." - p. 43

"Uma religião moderada é tão proveitosa para nós quanto religião nenhuma - e ainda mais divertida." - p. 44

"Enquanto ele [o paciente] adiar o momento de confessar a sua fé, estará numa posição falsa. Ficará em silêncio quando deveria falar, e irá rir quando deveria ficar em silêncio." - p. 47

"Todos os mortais tendem a se transformar naquilo que fingem ser; isto é uma lei básica." - p. 48

"O tamanho dos pecados não importa, desde que seu efeito cumulativo seja o de afastar o homem da Luz e levá-lo para o Nada." - p. 60

"De fato, o caminho mais rápido para o Inferno é aquele que é gradual - um leve declive, um caminho suave, sem curvas abruptas, sem marcações e sem placas." - p. 60

"Quando Ele fala sobre o fato de eles perderem a si mesmos, Ele apenas se refere ao abandono da vontade própria; uma vez alcançado esse abandono, Ele lhes devolve toda a sua personalidade e gaba-se (desconfio que o faça sinceramente) do fato de que, quando eles pertencem totalmente a Ele, serão mais eles mesmos do que nunca." - p. 64

"(...) quando, finalmente, aprenderem a amar o próximo como a si mesmos, terão permissão para amar a si mesmos como a seus próximos." - p. 70

"(...) o presente é o ponto no qual o tempo toca a eternidade." - p. 71

"A gratidão tem os olhos no passado e o amor no presente; o medo, a avareza, a luxúria e a ambição têm os olhos no futuro." - p. 75

"Nenhum fenômeno natural está realmente a nosso favor." - p. 77

"Pois não devemos permitir que os humanos percebam que todos os grandes moralistas são enviados pelo Inimigo - não para informar os homens, mas para relembrá-los, para restabelecer aquelas obviedades morais primordiais, opondo-se ao contínuo obscurecimento que fazemos delas." - p. 116

"Os evangelhos (...) foram escritos não para criar cristãos, e sim para edificar os Cristãos já existentes." - p. 118

"Os longos, inóspitos e monótonos anos da prosperidade ou da adversidade na meia-idade proporcionam um excelente meio para suas ações." - p. 146

"A prosperidade faz com que o homem fique preso ao Mundo. Ele sente que está 'encontrando o seu lugar no mundo', quando na verdade é o mundo que encontra lugar nele." - p. 146, 147

"Quando atacamos a paciência, a castidade ou a bravura, o mais divertido é fazer os homens cederem exatamente quando o fim de sua agonia estava logo ali na esquina (ah, se eles soubessem)." - p. 158

"A fina flor da profanação só pode crescer se for plantada perto do Sagrado. Em nenhum lugar a nossa tentação é tão bem sucedida quanto nos próprios pés do altar." - p. 202

segunda-feira, junho 20, 2011

O diário de Lot - O traidor

                             
"A palavra calma desvia a fúria..."

Era mais um dia de trabalho normal quando um colega de trabalho, de outro setor, se aproximou de mim meio sem graça para conversar. O Carlos era um funcionário de cargo importante, que raramente ia ao meu setor, e nos conhecíamos apenas de vista das festas da empresa.

C: Bom dia Lot, tudo bem?
L: Carlos! Que faz aqui? Beleza e você?
C: É, eu não apareço muito por aqui, eu sei - ele riu meio sem graça - então, eu estou vivendo né. Mas aqui, posso conversar com você quando tiver um tempinho?
L: Claro, quando você quiser.
C: Vai almoçar fora hoje?
L: Eu normalmente almoço em casa, mas se a hora do almoço for melhor pra você, por mim tudo bem.
C: Não quero atrapalhar você, mas se puder, tem um restaurante aqui perto, barato e bom.
L: Ok, nos vemos lá então. Conheço o restaurante.
C: Ok, até mais então.
L: Até.

Não vou mentir que tinha ficado curioso. O Carlos tem idade para ser meu pai, e, nesse tempo de experiência, descobri que as pessoas que não me conhecem normalmente pedem para conversar comigo em busca de conselhos. E era muito estranho me imaginar dando conselhos para alguém mais velho. Claro, tinha já encontrado pessoas mais velhas, mas era diferente. Não era um colega de trabalho, alguém que eu sabia da existência antes de vir conversar comigo. E alguém que tinha me procurado para conversar, e não o contrário.

De qualquer forma, cumpri as minhas obrigações e no intervalo do almoço fui ao restaurante combinado. Carlos já estava lá, e parecia muito nervoso.

C: Ei Lot.
L: Ei Carlos. Mas então, me diga, em que posso ser útil?
C: Então Lot, não sei como dizer isso. Você tem idade para ser meu filho, mas eu não encontrei ninguém mais que imaginei que pudesse me ajudar como você. Você já ajudou tanta gente nesse mundo né? Acho que pode me ajudar.
L: Não é pra tanto, mas do que se trata?
C: ...Ok, vou dizer de uma vez, porque não tem jeito mais fácil de dizer isso. Eu traí minha esposa. Ela sabe, nós nos separamos há alguns meses. Mas agora que caiu a ficha do que eu fiz e eu a amo muito. Eu a quero de volta, mas sei que não mereço. Traí  a confiança dela, dos meus filhos, eu destruí minha família.

Eu gelei. Não tinha ideia do que fazer ou falar. Queria mesmo era sair correndo dali, porque não tinha solução viável para o que ele estava dizendo. Tentei falar alguma coisa...

L: Olha Carlos, não sou casado, não tenho filhos, mas eu entendo o que é traição. Eu também sou um traidor.
C: Você?? Mas Lot, você é a pessoa mais correta que eu conheço.

Antes que ele desistisse de conversar comigo eu completei...

L: Eu traí, e traio todos os dias. Você sabe que eu sigo uma mensagem que alguém me ensinou. Mas ao fazer coisas contrárias ao que está escrito, eu me torno um traidor.
C: Eu até entendo Lot, mas não é a mesma coisa. Você traiu um ideal, eu traí minha esposa. A mulher da minha vida.
L: Eu traí, aliás, todos nós traímos, o meu criador. Aquele que me salvou de viver a vida inútil que eu vivia. Nada pode ser pior que isso. Ele me deu um presente que eu não posso pagar e, ao invés de viver minha vida em eternas ações de agradecimento, preferi decepcioná-lo.
C: É, olhando sob esse ponto de vista...mas eu não sei se minha esposa vai me perdoar.
L: Você já tentou pedir perdão?
C: Não tive coragem de procurá-la até hoje.
L: A primeira coisa que você tem que fazer é perdoar a si mesmo.
C: Isso é impossível.
L: Quase que concordo, mas esse tipo de coisa a gente só consegue quando vê que, mesmo sem ser digno de perdão nenhum do Autor de nossas vidas, Ele nos perdoa todos os dias e literalmente esquece tudo de ruim que fizemos. Aí sim conseguimos nos perdoar.
C: Mas não pode ser tão simples assim Lot.
L: Temos que abrir mão do nosso orgulho e aceitar que não merecemos e mesmo assim podemos ganhar. Não é fácil mesmo não.
C: Está na hora de voltarmos. Podemos continuar depois o assunto?
L: Claro. Boa tarde.
C: Bom trabalho.
L: Igualmente.

Apesar de ter terminado como se ele quisesse me enrolar, vi em Carlos uma confusão diferente daquela que vi de manhã, é como se ele estivesse assimilando a ideia de que realmente poderia ser perdoado. Ele estava começando a ver que o presente do Autor era irresistível.

Nos encontramos ao final do expediente dois dias depois e Carlos estava com uma nova aparência. A aparência que eu já conhecia de alguém que era perdoado.

C: Lot, muito obrigado!
L: Por que Carlos?
C: Hoje vou conversar com minha esposa. Ela tem todo o direito do mundo de não me perdoar. Eu gostaria muito que ela me perdoasse e vai ser difícil viver sem tê-la ao meu lado. Mas caso isso não aconteça, sei que eu já fui perdoado. Eu preciso conversar com ela, nem que seja apenas para falar dessa mensagem pra ela. Você se importaria em ir comigo?
L: Fico muito feliz com essa notícia Carlos e imagino que seria melhor que você fosse sozinho, mas se você acha necessário, eu vou sim.
C: Amanhã eu vou lá e finalmente ver meus filhos, te encontro aqui então para irmos pode ser?
L: Combinado.

Deveria ter falado não, pensava eu naquele momento, porque eu fui me meter em briga de casal? Mas depois a minha escolha se mostraria acertada. No dia seguinte, então, no horário combinado, nos encontramos na porta da empresa e fomos à casa de Carlos.

Chegando lá, eu deixei que ele fosse primeiro, e a esposa abriu a porta e só não bateu a porta porque viu que ele estava acompanhado. Como a entrada da casa era próxima ao passeio, ouvi a conversa de Carlos com sua esposa, Denise.

C: Olha, antes de mais nada, desculpe por ter sumido. Eu não mereço nada de você, nem dos nossos filhos. O que eu fiz é imperdoável. Mas eu te amo, sou um novo homem, e, se você me permitir, quero reconquistar sua confiança e amor dia após dia, todos os dias de nossas vidas.
D: Carlos, eu...eu não te esperava aqui. Eu...não sei o que dizer. Eu não sei o que eu fiz para receber o que você me deu. Eu nunca te trairia. Eu nunca deixei de te amar.
C: Eu sei. Você não fez nada meu amor - Carlos, apesar de tentar, não conseguiu segurar as lágrimas - eu que fui o culpado, eu que trabalho demais, e que nunca dei atenção para vocês. Eu que troquei nossa família por uma aventura de um dia. Desculpa, não estou chorando para te comover, eu...eu tentei segurar, mas eu te amo tanto, eu não quero te perder.
D: Quem é esse garoto no carro?
C: Um colega de trabalho. É por causa dele que estou aqui hoje. Se não fosse ele, ainda estaria me afogando em minhas próprias mágoas.
D: Não quero ficar conversando sobre isso aqui na rua. As crianças ainda estão na escola. Vocês querem entrar?
C: Se você me permitir...
D: Entrem.

Entramos. Lá conversei com Denise, contei sobre a rápida conversa que tinha tido um dia no almoço com o marido dela, sobre as mudanças que ele tinha tido, tudo por causa do Autor.

Lá também fiquei sabendo da história do casal. Carlos trabalhava demais e Denise, além de trabalhar fora, tinha que cuidar da casa, das crianças, de tudo, porque não tinha babá nem empregada, por decisão deles mesmo. Eles não se viam mais, não conversavam mais, não falavam de pequenas coisas que irritavam um ao outro por medo de deixar o par chateado. Depois das crianças eles não tinham mais momentos a sós, eram como dois estranhos dormindo na mesma cama. E Carlos, por não ter deixado de ser homem por tudo isso, procurou satisfazer suas necessidades em um lugar mais fácil e mais cômodo, sem pensar nas consequências que essa diversão lhe traria.

Fui embora mais cedo, porque minha mãe poderia ficar preocupada, mas Carlos lutou ainda alguns meses, antes de conseguir a confiança da esposa de volta. Hoje, quase um ano depois, eles se casaram de novo (não haviam se divorciado legalmente, mas resolveram fazer os votos novamente), Carlos falta a eventos da empresa em prol de sua família e Denise voltou a frequentar os salões de beleza. As crianças voltaram a tirar boas notas na escola. Claro, não era tudo perfeito. Não pode haver 100% de momentos bons quando duas pessoas diferentes convivem entre si todos os dias, e todas as pessoas são diferentes. Mas eles eram um casal feliz. Um casal que aprendeu a superar as dificuldades e faziam questão de se conquistarem todos os dias. Denise conheceu o amor e o perdão do Autor, e por isso resolveu perdoar o marido.

Claro que nem sempre é assim, conheci diversos casais que nunca se reconciliaram, e até já ajudei um outro conhecido a reatar o casamento, mas não tinha sido possível. Denise poderia não ter voltado a se casar com Carlos, mesmo tendo o perdoado, sem ter cometido erro nisso, mas foi uma decisão que ela tomou, e que eu achei bacana.

Quanto a mim, apliquei ao meu contexto a lição que aprendera, tentando ser um filho melhor todos os dias. Se todos tentassem fazer a própria parte na busca de felicidade conjunta, muitos lares desfeitos poderiam ser refeitos, ou nunca terem chegado a ser desfeitos.

sexta-feira, junho 17, 2011

Muito mais que a teologia da prosperidade

"Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro" - Mt 6:24

Muito se fala hoje sobre a teologia da prosperidade. O versículo acima é apenas mais um que refuta o que essa heresia prega.Mas algo interessante acerca dele são os dois exemplos de porque não podemos servir a Deus e ao dinheiro.

O que Jesus quis dizer foi que não é preciso idolatrar o dinheiro, como os enganadores (e os enganados) da teologia da prosperidade fazem, mas dar prioridade ao dinheiro ou às coisas que levam a ele também se constitui pecado.

É claro, precisamos almejar um emprego bacana para nos sustentarmos e constituirmos família (ou sustentar a que já temos), mas nesse mundo capitalista a tendência de ficarmos pensando nisso com frequência é muito grande. A tendência de priorizar isso é muito grande.

Jesus dava tanta importância a esse tema que passou todo o restante do capítulo 6 de Mateus, no Sermão da Montanha, falando sobre isso, sobre não ficarmos  ansiosos quanto a essas coisas.

Servir a Deus e não ao dinheiro significa também confiar nEle, ainda que as circunstância indiquem que nada dará certo - a perda de um emprego ou a busca mal sucedida por ele por meses a fio, uma doença ou a insegurança de um novo emprego - enfim, qualquer circunstância terrena que nos leve a pensar que não haverá dinheiro suficiente para arcarmos com as nossas necessidades.

Não é tarefa fácil, mas Cristo está conosco, e é Ele que opera tanto o querer quanto o efetuar. Além disso, ignorar esse assunto é ficar na mesma categoria de pecadores onde estão os seguidores da teologia da prosperidade.

quinta-feira, junho 16, 2011

Beleza cotidiana

"Os céus louvam as tuas maravilhas, Senhor, e a tua fidelidade na assembléia dos santos." - Salmos 89:5


Ontem, milhares de brasileiros olharam para o céu para ver o eclipse lunar. Eu também tentei ver, mas a lua estava escondida de mim ontem.

O céu estava lindo, e foi então que lembrei de como nessa vida corrida que o mundo leva atualmente quase nenhum de nós para um tempo para olhar o céu, admirar as árvores, ouvir pássaros cantando. Nós só nos atraímos por aquilo que é diferente, porque o cotidiano já é comum demais.

Às vezes temos a mesma atitude para Deus. Já pensou no quanto é extraordinário estarmos vivos? Ou como conseguimos trabalhar e estudar todos os dias? Ou como temos comida em nossas mesas? Mas como isso é tudo cotidiano, só enxergamos Deus em grandes milagres, em cultos na igreja. Não nos damos conta que tudo em nossa vida são pequenos milagres.

Se percebêssemos isso, talvez seríamos mais generosos e caridosos com os nossos próximos, não haveria pessoas passando fome e frio nas ruas. Talvez o mundo seria um lugar melhor.

Mas infelizmente nós preferimos ver o eclipse a ver o céu estrelado todas as noites.

quarta-feira, junho 15, 2011

Anotações de "Decepcionado com Deus"

Philip Yancey


"Os israelitas são uma grande demonstração de que os sinais só conseguem nos tornar viciados em sinais, não em Deus." - p. 49

"Lá [na Bíblia] ele fala por si mesmo, e percebi que frequentemente eu não prestava atenção.  Eu me preocupava demais com os meus sentimentos para ouvir atentamente os sentimentos dele." - p. 53

"(...) Deus não faz tanta questão de ser analisado. Ele deseja, principalmente, ser amado. Quase todas as páginas de sua Palavra sussurram essa mensagem." - p. 54

"Todo novo pai que pela primeira vez carrega um nenezinho, seu nenezinho, trazendo-o bem junto à sua pele, sabe o que é isso. E foi esse o sentimento que Deus teve quando examinou o que havia feito e declarou que era bom. No início, bem no início,não houve qualquer desapontamento, só alegria." - p. 59

"Em meio a todas as suas tribulações, José [AT] aprendeu a confiar não na inexistência de dificuldades, mas que Deus compensaria até mesmo as dificuldades." - p. 68

"E, quando seu próprio amor é desprezado, até mesmo o Senhor do Universo sente-se de alguma maneira desamparado, tal como um pai que perde aquilo que ele mais estima." - p. 71

"Assim como Deus achou quase impossível viver entre um povo pecaminoso, os israelitas acharam quase impossível viver com um Deus santo no meio deles." - p. 74

"Se você mal consegue suportar a luz de vela, como conseguirá olhar para o Sol [sobre a presença de Deus]?" - p. 75

"O progresso pode ter eliminado quaisquer crises de desapontamento com Deus, mas também parece que eliminou totalmente o desejo que Salomão tinha de Deus. Quanto mais apreciava as boas dádivas do mundo, menos ele pensava no doador."  - p. 81

"[Palavras de Deus] Minha lentidão em agir é um sinal de misericórdia, não de fraqueza." - p. 90

"Deus pode ter escondido o rosto [na época dos profetas], mas aquele rosto estava marcado, marejado de lágrimas." - p. 92

"As andorinhas nos céus conhecem as estações, a maré chega na hora certa, a neve sempre cobre as montanhas elevadas, mas os seres humanos não se parecem a qualquer outra coisa na natureza. Deus não pode controlá-los. Por outro lado, ele é incapaz de simplesmente deixá-los de lado. Ele é incapaz de apagar a humanidade de seu pensamento." - p. 95

"Ninguém se queixará do ocultamento de Deus naquele dia. Sua glória encherá a terra, e o sol, em constraste, parecerá escuro." - p. 98

"Aquilo que não podia ser conquistado à força, ele conquistaria através do sofrimento." - p. 100

"Aqueles que crêem em Deus de uma certa forma jamais conseguem estar de novo seguros a seu respeito. Uma vez que o viram num estábulo, jamais conseguem ter certeza sobre onde aparecerá ou o que fará a qualquer custo ou a que nível absurdo de auto-humilhação se rebaixará em sua incansável busca pelo homem." - p. 106

"Jesus cumpriu as promessas messiânicas, porém - um importante porém - não da maneira como todos esperavam." -

"(...) será que alguma coisa mudou desde então? Conheço inúmeros ministérios que enfatizam a cura e a prosperidade física, mas poucos que concentram sua atenção em persistentes problemas humanos, tais como orgulho, hipocrisia e legalismo, os problemas que tanto preocupam Jesus." - p. 111

"Deus se segura; se esconde; chora. Por quê? Porque deseja o que o poder jamais consegue conquistar. Ele é um rei que não deseja a sujeição, mas o amor." - p. 115

"(...) os milagres nos evangelhos autênticos dizem respeito ao amor, não ao poder." - p. 119

"Jesus contribui com isto para o problema da decepção com Deus: por causa dele, podemos ir diretamente a Deus. Não necessitamos mediador humano, pois o próprio Deus se tornou mediador." - p. 129

"Uma pessoa só pode aprender a obedecer quando tentada a desobedecer, só pode aprender a ter coragem quando tentada a fugir." - p. 132

"O mundo que Deus deseja amar, o mundo que Deus está chamando, talvez nunca o veja. Nossos próprios rostos podem estar atrapalhando a sua visão." - p. 144

"Nós encarnamos  Deus no mundo; o que acontece conosco acontece com ele." - p. 145

"A Igreja é o Corpo de Cristo; portanto, se a Igreja fez, Deus fez." - p. 146

"E o mundo julga a Deus por aqueles que levam o seu nome. Uma grande parte da decepção com Deus tem raízes na desilusão com outros cristãos." - p. 152

"Para Deus, significa correr o risco de que nós, à semelhança dos israelistas, jamais cresçamos; significa correr o risco de que jamais o amamos. Evidentemente, ele considerou esse um jogo que valia a pena apostar." - p. 156

"Deus julgou necessário restaurar o elo espiritual antes de recriar céus e Terra." - p. 157

"Mas o Espírito segreda-nos acerca de uma nova realidade, uma fantasia que é realmente verdade, uma verdade na qual despertaremos por toda eternidade." - p. 157

"Conceitos teológicos não têm muito sentido, a menos que consigam falar a alguém (...) que tateia em busca do amor de Deus num mundo cercado de tristeza." - p. 166

"Nossa própria existência anuncia aos poderes do universo que a restauração está em execução. Cada ato de fé realizado por qualquer um do povo de Deus é como o soar de um sino, e uma fé com a de Jó ecoa por todo o universo." - p. 184

"Ocorreu-me (...) que se todos nós da Igreja gastássemos nossas vidas tal como ele [Jesus] fez - ministrando aos doentes, alimentando os famintos, resistindo aos poderes do mal, consolando aqueles enlutados e levando as Boas Notícias de amor e perdão - então talvez a pergunta 'Deus é injusto?' não fosse feita hoje em dia com tanta urgência." - p. 195

"A cruz revelou que tipo de mundo nós temos e que tipo de Deus nós temos." - p. 196

"Necessitamos de algo mais do que milagres. Necessitamos de um novo céu e uma nova terra, e até que tenhamos isso, a injustiça não desaparecerá." - p. 196

"No sentido mais verdadeiro, palavra alguma é capaz de falar mais audivelmente do que o Verbo." - p. 204

"A fé significa crer com antecedência no que só fará sentido ao contrário." - p. 213

"Confiar em sua bondade suprema (...), uma bondade que o tempo ainda não alcançou." - p. 213

"O tipo de fé que Deus valoriza parece se desenvolver melhor quando todas as coisas ficam confusas, quando Deus permanece calado, quando a neblina invade." - p. 218

"A Bíblia inclui muitas provas do interesse de Deus - algumas bastante espetaculares -, mas nenhuma garantia. Uma garantia, no final das contas, eliminaria toda a fé." - p. 220

"A confiança ingênua pode não sobreviver quando o milagre não ocorre, quando a oração urgente não obtém resposta, quando uma densa neblina obscurece qualquer sinal do interesse divino." - p. 220

"A fidelidade significa aprender a crer que, fora do perímetro de névoa cinzenta, Deus ainda reina e não nos abandonou, não importam as aparências." - p. 221

"Jamais conseguiremos desvendar completamente o mistério do que houve na cruz, mas isso nos oferece o consolo de que Deus não deseja submeter suas criaturas a qualquer teste que ele mesmo não tenha suportado." - p. 225

"Mas, a partir de cima, do ponto de vista de Deus, o milagre real é o da transposição; que corpos humanos possam tornar-se mais cheios do Espírito, que atos humanos corriqueiros de caridade e bondade possam tornar-se nada menos que a encarnação de Deus na Terra." - p. 243

"Um corpo saudável é aquele que segue a vontade da cabeça. Dessa mesma maneira, o Cristo ressurreto realiza sua vontade através de nós, os membros de seu corpo." - p. 243

"O que sentimos agora, nem sempre sentiremos. Nosso desapontamento é, ele próprio, um sinal, uma dor, uma fome de algo melhor. E a fé é, afinal, um tipo de saudade - de um lar que jamais visitamos, mas que nunca deixamos de desejar." - p. 266

"Difícil coisa é viver sem ter certeza de coisa alguma. A alternativa para a decepção com Deus parece ser a decepção sem Deus." - p. 275

segunda-feira, junho 13, 2011

O diário de Lot - O extraordinário (Parte II)

                                   
"Ao ouvi-lo, ficava muito impressionado e o escutava de boa vontade"

Depois então, de meia hora, ela puxou assunto:

R: - Poxa Lot, incrível o que você falou, parabéns!
L: - Valeu Renata, você sabe que, como sempre digo inclusive hoje, foi um presente que ganhei, não mérito próprio.
R: - É exatamente sobre isso que eu queria falar.

Me surpreendi, porque com nenhum outro colega o assunto tinha se estendido tanto.

L: - Como assim?
R: - Eu vim para cá bastante satisfeita, porque acho que feliz não é a palavra correta, felicidade é o que você tem, não eu. Estava satisfeita porque passei em um concurso, estou ganhando bem, ajudo minha família e posso farrear, saí de casa, comprei um carro bacana e não estou solteira com o dia dos namorados chegando - ela falou essa última frase meio constrangida, rindo um pouco.
L: - Sim, eu fiquei sabendo, fiquei muito feliz quando ouvi as notícias.
R: - Pois é...mas apesar de tudo, não me sinto feliz...não me sinto justa como você.
L:  - A origem da minha felicidade não é mistério, agora... - ela me interrompeu.
R:  - Exatamente! Eu sei! Mas deixa eu reformular. Não me sinto justa o suficiente para ser feliz como você! É muito mais fácil ser medíocre do que ser extraordinário.
L: - Em tese, até deveria concordar com você, mas sei que não é bem assim.
R: - Como não?
L: - Quando você conhece a justiça, o extraordinário (não o sobrenatural, o extraordinário), passa a ser comum para você. Já o comum, é bem difícil, você fica incomodada com ele.
R: - Como extraordinário, não sobrenatural, não é a mesma coisa?
L: - Não. É o que todos pensam, mas não é. Num mundo individualista e competitivo como o nosso, aqueles que se importam com o próximo, que amam seu próximo a ponto de se importarem com ele, esse é o que é extraordinário. Mas não é algo sobrenatural.
R: - Mas para fazer boas ações está cheio de gente. Até mesmo de gente que faz tudo de errado, gente que não é justa como você.
L: - Ok, ainda vamos discutir essa justiça minha, mas até mesmo esses, mesmo que o façam em busca de fama, reconhecimento, abatimento de impostos, ou mesmo para se sentirem bem, estão sendo instrumentos da justiça, mesmo não sendo justos. O criador de tudo é quem faz isso acontecer.
R: - Ok, mas Lot, você é justo! Eu sou uma pessoa boa, mas não justa...não assim como você.
L: - Justo é aquele que foi justificado. E só pode justificar, ou seja, imputar justiça, aquele que não precisa ser justificado, porque já é a justiça. Nesse sentido, até que sou sim, justo.
R: - E o que eu preciso para ser justificada então? Depois de hoje não vou conseguir me contentar com a mediocridade.

Expliquei para Renata o que era preciso, abrir as mãos e o coração para receber o presente. E nossa conversa durou tanto que alguns minutos depois a festa acabou. Fiquei sabendo que ela tinha se tornado então uma justa, e tinha levado seus parentes e namorado com ela. Mas, pela segunda vez, nos poucos minutos que restaram, fiquei observando meus colegas. Vi que os mesmos sorrisos vazios permaneciam nos rostos daqueles que vieram mais cedo me agradecer pelo toque que eu dei.

Foi então que eu percebi que até o injusto reconhece a justiça, mas é preciso se incomodar com a própria injustiça para ser justificado.

Ninguém aceita algo que sabe que não merece de forma alguma receber, se não reconhecer que precisa daquilo mais do que o próprio ar que respira para sobreviver.

sexta-feira, junho 10, 2011

A graça nos faz justos

"Noé, porém, encontrou graça aos olhos do Senhor. (...) Ele era homem justo e íntegro em sua geração e andava com Deus" - Gn 6:8,9.


A história de Noé é uma das mais conhecidas histórias bíblicas entre os cristãos (e entre os não cristãos também).

Relendo essa passagem notei um ponto interessante: "Noé achou graça aos olhos de Deus".

O Velho Testamento é marcado por ser o tempo da Lei, mas vemos também o Deus gracioso nessas páginas que falam do Deus justo.

Noé era, sim, justo e íntegro, mas era pecador como qualquer um de nós e dos humanos aqueles tempos. Por isso, apenas pela graça ele foi escolhido para "restaurar" a humanidade da época. Até porque suas próprias justiça e retidão derivavam da graça divina.

Nenhum ser humano merece algo de extraordinário em sua vida, já que o "ordinário" que merecemos é a morte. Mas pela graça do Pai recebemos o extraordinário milagre da salvação de nossas almas.

É pela sua graça também, única e exclusivamente, que podemos servi-lo de alguma forma.

quarta-feira, junho 08, 2011

Anotações de "Oração - ela faz alguma diferença?"

Philip Yancey


"A principal finalidade da oração não é tornar a vida mais fácil, nem conseguir poderes mágicos, mas conhecer a Deus. Preciso de Deus mais do que qualquer outra coisa que possa querer dele." - p.68

"Nos trinta anos que ele viveu nesse mundo, temos registro de apenas três vislumbres de interfer~encias sobrenaturais em sua vida. O resto do tempo, Jesus buscava alimento espiritual exatamente naquilo de que dependemos, a oração." - p.70

"A oração é a moeda corrente da amizade." - p.72

"Pois Deus também é uma pessoa, embora uma pessoa diferente de nós, alguém que corresponde mais - e não menos - ao significado da palavra." - p. 76

"Para mim, a oração é uma tarefa difícil, e não o refúgio revigorante que representava para Jesus. Luto para ver a orações como um diálogo, não como um monólogo." - p.79

"Vejo que Deus, como a maioria de nós, quer de nós principalmente amor, fê, confiança e honra." - p.79

"Aprender a dialogar com Deus é um processo que jamais termina, porque somos parceiros desiguais, Deus e eu. Admitir isso, curvar-me diante disso ajuda-me a abrir os ouvidos. Buscar Deus apesar de nossas diferenças ajuda-me a abrir a boca e, depois, o coração." - p.80

"Fica evidente pelo menos que uma igreja que segue cantando 'hinos alegres' diante da realidade crua está fazendo algo muito diferente do que faz a própria Bíblia." - p.81

"Deus formou uma aliança baseada no mundo como ele é, cheio de falhas, ao passo que a oração pede explicações a Deus pelo mundo como este deveria ser." - p.81

"(...) como todos nós às vezes, Jesus conheceu a sensação de ficar sem resposta às suas súplicas." p.93

"Descartar a oração, concluindo que ela não tem importância, significa achar que Jesus foi iludido." - p.94

"Sabemos como Deus se sente porque Jesus nos mostrou, em certas condições, uma face marcada com lágrimas. (...) Em sua bondosa misericórdia, Jesus nos deu um sinal visível de que o Pai ouve nossa oração no exato momento em que oramos." - p.95

"Embora Jesus não apresente nenhuma prova metafísica da eficácia da oração, o próprio fato de ele orar estabelece o valor dessa prática." - p.96

"De maneiras estranhas e misteriosas, a oração incorpora o desconhecido e o imprevisível na ação da graça divina." - p.99

"(...) Satanás não conquista ninguém se não houver cooperação." - p.100

"Todos os que lutam com Deus podem dirigir o olhar para aquela noite negra em que o próprio Filho de Deus lutou com o Pai." - p.102

"De algum modo, o sofrimento redimido é melhor que a absoluta ausência de sofrimento. A Páscoa é melhor do que simplesmente pular a sexta-feira santa." - p.105

"Como Abraão aprendeu, quando apelamos para a graça e a compaixão divinas, o Deus assustador logo desaparece (...). Deus é mais misericordioso do que podemos imaginar e aprecia nossos apelos à sua misericórdia." - p.110

"Talvez eu não consiga sentir muita fé em milagres, ou sonhar grandes sonhos, mas passo de fato exercitá-la comprometendo-me com Deus na oração." - p.118

"Deus submeteu a obra do Reino à sabidamente falível espécie humana." - p.133

"Pregar Deus sem o Reino é tão ruim quanto pregar o Reino sem Deus." - p. 154

"Deus não ama simplesmente ou sente amor. Ele é amor e não pode não amar. Como tal, anela um relacionamento com as criaturas feitas à sua imagem." - p.177

"Depois de passar certo tempo com Deus, posso retirar-me com uma visão diferente do mundo ou no mínimo com uma nova avaliação de meu ponto de vista. Em troca, Deus recebe atenção, meu engajamento,  minha alma." - p. 178

"A oração persistente opera mudança em mim, ajudando-me a enxergar o mundo e minha vida pelos olhos de Deus. À medida que o relacionamento progride, percebo que Deus vê minhas necessidades mais claramente que eu mesmo." - p. 188

"O verdadeiro valor da oração persistente não reside no fato de que conseguimos o que queremos quanto na constatação de que nos tornamos a pessoa que devemos ser." - p. 190

"(...) descobri que às vezes obtenho uma resposta a um insistente pedido meu depois de aprender a abrir mão dele. A resposta vem então como uma surpresa, um inesperado presente concebido por graça. Procuro a dádiva e em vez dela encontro o Doador. E acabo recebendo o presente de uma graça que já não estou buscando. " - p.191

"A oração requer fé para que Deus nos escuta - embora não haja provas concretas - e para crer que a ela é importante. Crer também não é fácil no meu caso." - p.198

"Persisto [na oração] porque estou cumprindo o mandamento de Deus e também porque estou fazendo o melhor para mim, gostando ou não de fazê-lo." - p.199

"Descobri que minha relutância em orar aumenta quando considero a oração uma disciplina necessária e diminui quando a vejo como um tempo para ficar na companhia de Deus. A verdadeira oração vem de dentro, do anseio do coração." - p. 202

"Preciso descobrir meu próprio jeito de orar, não o de outra pessoa." - p. 202

"Percebi que precisava da disciplina da regularidade para tornar possíveis aqueles momentos excepcionais de comunicação livre com Deus." - p. 206

"Muitas vezes, minhas orações parecem uma espécie de ensaio. Reviso notas básicas (o Pai Nosso), pratico peças conhecidas (os Salmos), e tento algumas melodias novas. Mas, sobretudo, marco presença." p. 206

"(...) a oração convida Deus a vir para o meu mundo e me introduz no mundo de Deus. (...) Seguindo esse padrão, procura formas de juntar os dois mundos, o de Deus e o meu, para deixar que se tornem um." - p. 207,208

"Antes eu via a oração como uma espécie de dever, não como uma válvula de escape para tudo aquilo que estava pensando ou sentindo. Os Salmos me permitiram ir mais fundo." - p. 219

"(...) aprebdu a confiar que, por meio da intercessão do Espírito, Deus ouvirá nossas orações, sejam eloquentes, sejam prosaicas." - p. 226

"Peço a Deus que me ajude a crer nas palavras de minha oração." - p. 228

"Momentos de constatação apanham-me de surpresa: uma onda de gratidão, um súbito sentimento de compaixão. Mas aprendi que eles só me apanham quando estou à procura deles." - .p. 228

"A indignidade estabelece as regras básicas, estabelecendo o posicionamento adequado entre seres humanos quebrantados e um Deus perfeito. A indignidade atualmente é para mim uma motivação a orar, não um empecilho." - p. 231

"A oração expressa o relacionamento entre duas pessoas, uma das quais incidentalmente é Deus. A realidade, não a técnica perfeita, é o objetivo." - p. 239

"Na tentativa difícil e às vezes frustrante de buscar a Deus, ocorrem em mim mudanças que me qualificam a servi-lo. Talvez o que entendo como abandono seja de fato uma delegação de poder." - p. 256

"Estou aprendendo a assumir a responsabilidade pela parte que me cabe e a deixar o resto para Deus." - p. 259

"De fato, avalio a força de um casamento observando mais como o casal se comporta nos momentos difíceis que pelos seus relatos de picos românticos." - p. 260

"Passei a confiar em Deus, até acreditar que a vontade dele é para mim a melhor saída, embora poucas vezes seja a mais fácil." - p. 262

"A oração convida-nos a descansar na certeza de que Deus está no comando, e os problemas em última análise são do mundo, não nossos. Se passar bastante tempo com Deus, provavelmente começarei a ver o mundo de um ponto de vista mais parecido com o dele. Que é a fé, afinal, senão acreditar de antemão naquilo que só fará sentido em retrospectiva?" - p. 262

"Devemos, de algum modo, fazer nossas orações com uma humildade que transmita gratidão sem triunfalismo, compaixão sem manipulação, sempre respeitando o mistério que envolve a oração." - p. 274

"O mesmo se aplica a Deus: o tratamento que dispenso à criação de Deus, os filhos de Deus, determina em parte o modo com que Deus recebe minhas orações e minha adoração. A oração envolve mais que curvar a cabeça algumas vezes por dia, ela impregna a vida toda e vice-versa." - p. 279

"Homens finitos nunca podem conhecer a vontade de um Deus infinito com certeza absoluta." - p. 282

"Atendendo a todas as orações possíveis, Deus com efeito abdicaria de sua função, entregando o mundo à nossa administração." - p. 282

"A maioria de nós aprende, com o tempo, que algumas orações se revelam melhores quando não atendidas." - p. 284

"Também aprendo, ao ponderar os mistérios da oração sem resposta, a simplesmente esperar (...). O plano de Deus constrói-se lentamente, como uma ópera, não como um sucesso de música popular." - p. 294

"Tendo todo o tempo do mundo, Deus espera, tolerando os insultos da história humana por misericórdia, não por impotência." - p. 295

"A reputação divina repousa no solene pacto de que um dia tudo acabará bem." - p. 295

"Aqueles que dentre nós lutam com a oração não atendida não ousam ignorar uma importante verdade teológica sobre o modo como Deus atua no mundo hoje. A Igreja é o Corpo de Cristo e funciona como tal." - p. 302

"Orar dizendo: 'Ó Deus, por favor, ajuda meu vizinho a resolver seus problemas financeiros' ou 'Ó Deus, faze alguma coisa pelos sem-teto lá do centro', é a abordagem de um teísta, não de um cristão. Deus escolheu manifestar o amor e a graça nesse mundo por meio daqueles entre nós que encarnam a Cristo." - p. 302

"A mera existência da oração é um dom da graça, um generoso convite a participar do futuro do cosmos." - p. 306

"Nenhum ser humano, por mais sábio ou espiritual que seja, pode interpretar os caminhos de Deus, explicar por que um milagre acontece e outro não, por que ocorre uma aparente intervenção aqui e não ali. A exemplo do apóstolo Paulo, só podemos esperar e confiar." - p. 307

"Está claro que Jesus não veio ao mundo para reverter as leis da natureza e estabelecer leis melhores - pelo menos não em sua primeira vinda." - p. 320

"O sofrimento e a dor aproximam personalidades diferentes e todos nos tornamos lamentadores, nada tendo a oferecer em nossas orações a não ser queixas." - p.333

"Ganho paz quando percebo que não preciso convencer a Deus para cuidar de nós. Seu cuidado por nós é maior do que posso imaginar, e ele tem o controle absoluto sobre tudo o que acontece." - p. 337

"O senso da presença de Deus pode aparecer e desaparecer. O crente, no entanto, pode confiar que Deus está presente, morando dentre dele; não precisa ser convocado lá de longe." - p. 338

"Ele [Paulo] aprendeu um nível diferente de fé: uma fé que não afasta as dificuldades, porém assim mesmo resiste; uma fidelidade em que a fraqueza se transforma em força, e orações pela cura se fundem em preces por aceitação." - p. 346

"Se a oração é a primeira resposta à presença de Deus, preciso antes de tudo sintonizar-me com essa presença." - p. 353

"Embora eu não possa controlar o sentido da presença de Deus - num nível emocional, ele aparece e desaparece - posso positivamente esperar sua chegada e cuidar dela." - p. 354

"Ficar na companhia de alguém que se ama nunca é uma perda de tempo, especialmente se aquele em cuja companhia eu fico for Deus."  - p. 355

"De fato, qualquer tempo passado em oração parece perdido aos olhos de quem tem outras prioridades que não sejam um relacionamento com Deus. Para alguém que ama a Deus, todavia, não há nenhum ato mais produtivo nem tão necessário." - p. 355

"A quem dirigimos a oração conta mais do que o modo que oramos ou o que dizemos." - p. 356

"Orar significa abrir-me para Deus , e não lhe impor limites por meio de meus preconceitos. Em suma, orar significa deixar Deus ser Deus." - p. 367

"Esperar não é o objetivo, mas pode ser um estágio necessário na obtenção do objetivo. Esperamos pelo que é digno de esperar, e nesse processo adquirimos a paciência." - p. 368

"Oro pedindo a paciência de ser paciente." - p. 368

"O agora, um instante fugaz, representa a intersecção da eternidade com o tempo." - p. 370

"O momento presente em si é um presente de Deus - minha vida seria mais real, e ao mesmo tempo eu realizaria muito mais se permitisse que essa verdade básica permeasse meu dia." - p. 371

"Quando oro por outra pessoa, estou orando para que Deus me abra os olhos  e eu possa vê-la como ele a vê e depois entro na corrente do amor que Deus já direcionou para essa pessoa." - p. 374

"O que desejo para as pessoas por quem oro Deus deseja muito mais." - p. 375

"Nada estimula tanto a compaixão em mim quanto a oração." - p. 376

"Na melhor das hipóteses, a oração não busca manipular Deus para que ele faça minha vontade - muito pelo contrário. A oração cai no lago do próprio amor de Deus e expande-se cada vez mais." - p. 381

"A oração associada à consciência dos inimigos que temos, sem falar na oração pelos inimigos, oferece uma oportunidade reflexão pessoal. De forma estranha, nossos inimigos ajudam-nos na definição de nós mesmos tanto quanto nossos amigos." - p. 385

"Os seguidores de Jesus, porém, têm em comum o chocante mandamento de amar os inimigos e orar, por aqueles que os maltratam. Agindo assim, unimo-nos para ampliar o círculo expansivo do amor de Deus até aqueles que talvez não o possam provar de nenhum outro modo." - p. 385

"Orar quer dizer permanecer na companhia de Deus, que já está presente. Minhas preocupações com pessoas e situações contempladas na oração de fato manifesta a presença de Deus dentro de mim. Não preciso ficar pulando feito criança e gritando: 'olhem para mim'. Deus está por perto, basta eu me sintonizar." - p. 390

"De acordo com Jesus, nada é demasiado trivial. Tudo a meu respeito - meus pensamentos, meus motivos, minha escolhas, meu estado de espírito - atrai o interesse de Deus." - p. 394

"Minha preocupação acerca das orações inapropriadas ou irrelevantes é desfeita quando vejo a oração menos como uma técnica e mais como um relacionamento, uma forma de permanecer na companhia de Deus." - p. 395

"É muito melhor agir como uma criança confiante, apresentando pedidos bobos e deixando que o pai julgue, que se preocupar de antemão com a propriedade dos pedidos." - p. 396

"Não precisamos inventar um elogio para fazer que Deus se sinta bem, precisamos, em vez disso, apenas dar crédito onde o crédito é devido." - p. 398

"Nosso dom mais apreciado por Deus, o que Deus jamais pode forçar, é o amor." - p. 400

"Minhas perguntas acerca da oração perdem a urgência à medida que aprendo a confiar na suprema bondade de Deus, que pode transformar qualquer coisa em numa coisa boa." - p. 402

"E, quando tudo corre bem, ironicamente, tenho de trabalhar ainda mais para manter a conversa, para acreditar que Deus se importa com os detalhes da minha vida." - p. 404

"Oro na assombrosa crença de que Deus deseja um relacionamento continuado. Oro confiando que o ato da oração é a maneira designada por Deus para eliminar o vasto abismo entre mim e a infinitude. Oro para colocar-me no fluir da obra restauradora de Deus aqui. Oro como respiro - porque não posso deixar de fazê-lo. A oração não é uma forma perfeita de comunicação porque eu, ser imperfeito e material que vivo num planeta imperfeito e material, estou tentando alcançar um ser perfeito e espiritual. Algumas orações ficam sem resposta; um sentido da presença de Deus vem e vai e muitas vezes sinto mais o mistério que sua solução. Insisto, contudo, acreditando como Paulo que agora conheço em parte; então conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido." - p. 404

segunda-feira, junho 06, 2011

O diário de Lot - O extraordinário (Parte I)


"sabendo que era justo e santo"

Eu tinha aprendido, como disse aqui na última vez, a não me acostumar com a rotina extraordinária que eu tinha. Por isso tentava, às vezes, fazer coisas mais comuns, apesar de saber que o comum hoje é não se importar, e quem se importa e faz alguma coisa, por menor que seja, já faz algo extraordinário. É o Autor que nos motiva a isso, por isso não temos motivos para nos gloriarmos. Sabemos de onde viemos e para onde vão as pessoas se a mensagem não as alcançar.

Pois bem (acabei divagando demais), estava eu um dia num encontro de um ano de formandos de meu curso. A maioria empregado, alguns fazendo mestrado, pós-graduação e tudo mais. Mas uma coisa em comum me chamava a atenção - todos, apesar de estarem bem-sucedidos, não pareciam felizes.

Aqui, vale abrir um parênteses. Por tudo que aconteceu comigo durante os anos da faculdade, e por ter sido o orador, fui chamado a dar uma palavrinha, fazer um discurso, naquela festa. Tentei fugir da responsabilidade, mas às vezes quando o Autor da mensagem tem um propósito para você, não adianta fugir, que você vai estar lá...e que o diga o homem que foi engolido por um grande peixe há milhares de anos. Daí então não teve como, tive que aceitar, porque foi por unanimidade da turma que fui escolhido.

Fui então me preparar, com um mês de antecedência, mas nada me vinha à mente para falar, três semanas, duas, uma...e lá estava eu, sem saber o que falar logo no dia da festa. Logo eu, que de alguma forma falei com todo tipo de gente, não conseguia pensar em nada para falar com pessoas que eu tinha convivido durante cinco anos da minha vida.

Fechando o enorme parênteses, eu consegui entender. Às vezes, precisamos observar o padrão para saber o que podemos falar para as pessoas. Até que o comum não parece ser tão ruim assim, quando ele é a catapulta que nos mova para o incomum, o extraordinário.

Ainda bem que tinha tido todo esse devaneio naquele momento, porque logo me chamaram para falar. Então, anda meio inseguro quanto ao que falar, subi ao palco, peguei o microfone, e comecei:

- Boa noite!

- Boa noite!  - responderam em uníssono meus colegas.

- É engraçado como o tempo nos ensina coisas e como, apesar de tão diferentes, somos todos iguais. E não é porque seguimos todos a mesma profissão - ouvi algumas risadas à minha frente - Quando cheguei aqui, vou ser bem sincero, não tinha a mínima ideia do que falar, mas, ao observar a turma, descobri o que tinha que ser dito. Acredito que o que vou falar pode desagradar alguns, ou todos, mas a verdade deve sempre ser dita, porque ela liberta, e às vezes para conquistar a liberdade temos que passar por algumas dores.
- Vocês notaram que todos aqui têm sucesso na vida? Quantas noivas e noivos, empresários e futuros especialistas e doutores temos entre nós, não é mesmo? Nossos professores ficariam orgulhosos. Mas o que me incomoda é como eu vejo pessoas comuns. Lembram-se de que um de nossos professores dizia que mediocridade não é sinônimo de ruindade? Ser medíocre é estar na média. O mundo anseia por pessoas extraordinárias.
- Imagino que vocês devem estar imaginando se não estou me contradizendo. Pois não estou. Sucesso não significa ser extraordinário. Extraordinária é aquela pessoa que, muito mais que uma herança gorda, vão deixar valores para seus filhos. É cedo ainda para a maioria de nós falar em filhos, e alguns talvez nunca os tenham (e eu não vou tentar entender o porquê disso), mas é preciso pensar em quem você é no mundo. O mundo clama por pessoas extraordinárias! E todos nós temos a capacidade de sermos essas pessoas.
- Como vocês sabem, tudo que aconteceu comigo foi porque Alguém me deu o presente de ser extraordinário. Eu, sem falsa modéstia alguma, reconheço que não tenho essa capacidade em mim mesmo, mas é Ele que me capacita! Ele me deu o presente de andar ao lado dEle todos os dias, não porque viu algo de bom em mim (nem mesmo potencial), ou porque Ele esperava algo em troca, mas porque Ele quis. Ele me amou e me quis ao lado dele mesmo sabendo que nunca eu teria a capacidade ou recursos necessários para retribuir o favor...

Continuei falando durante um bom tempo e desci, sem saber ao certo se tinha tido algum resultado, mas com a feliz sensação de dever cumprido. Uma antiga colega, dentre vários, veio me procurar para conversar. Ela aguardou todos os que queriam conversar comigo. Ninguém revoltado como eu esperava, mas todos agradecendo, dizendo que eu sempre fui bom em palavras, e blá blá blá.

sexta-feira, junho 03, 2011

Sobre a IPL122


Todo mundo deve ter ouvido falar sobre a IPL122, que faz algumas resoluções a respeito da homofobia.

Como cristã, devo deixar claro alguns pontos (de minha opinião):

  • Deus ama os homossexuais. Assim como ama o mentiroso, ama o guloso, ama o ladrão, ama todos os pecadores. 
  • Como cristã, tenho o dever de amar meu próximo e, portanto, não devo discriminar ninguém pela sua opção sexual.
  • Como cristã, ou seja, seguidora de Cristo, devo acolhe-los e ama-los como Ele próprio o faria.
  • Sou contra o homossexualismo enquanto prática de vida porque a Bíblia me ensina assim. E porque conheço e conheci inúmeros homossexuais e, entre todos, a história é sempre muito parecida. É gente que sofreu, de forma mais ou menos branda e se tornou o que é.
Ok, postas as minhas opiniões, devo dizer que me incomodava e muito o modo como o meio evangélico estava lidando com o tema. Distorcendo a lei, fazendo parecer que era uma coisa que não era e combatendo coisas que não deveriam ser combatidas - o direito de alheios.

O problema da IPL122 é que ela atinge não apenas os direitos dos outros, mas fere direitos constitucionais de liberdade de expressão.

E, finalmente, achei alguém sensato para dizer algo sobre isso.

O bispo Zé Bruno, da melhor banda do mundo, Resgate, resume tudo que eu quis dizer de forma mais eloquente, inclusive.

Apreciem: Link

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