terça-feira, junho 23, 2009

Piores coisas para se dizer no culto


Eu e um grupo de amigos costumamos brincar de Improvável quando nos encontramos.

Um dia desses fizemos o jogo do Cenas Improváveis, onde cada um tem que interpretar a cena que o mestre de cerimônia da vez sugere. A cena daquele dia foi "Piores coisas para se dizer no culto". Nos divertimos muito, é claro, mas eu fiquei pensando depois sobre como aquelas cenas não eram cenas fictícias. A maioria das cenas interpretadas eram episódios que realmente tinham acontecido em cultos.

O culto é um momento onde, como o próprio nome diz, vamos cultuar a Deus, vamos adorá-lo. Nós, e todos os que sobem ao altar, devemos ter isso em mente. Os que estão no altar tem uma responsabilidade ainda maior, porque estão influenciando um grande número de pessoas. É preciso manter a reverência no cultos. E com isso não estou querendo dizer que o culto tem que ser uma cerimônia séria, formal e às vezes até enfadonha. Não, o culto pode ser dinâmico, engraçado, mas o propósito para o qual nos reunimos enquanto igreja para realizar um culto não deve ser esquecido.

Que as "Piores coisas para se dizer no culto" sejam apenas uma brincadeira entre amigos e não a realidade do cotidiano da igreja.

Fiquem com Jesus =)

segunda-feira, junho 22, 2009

O diário de Lot - O perseguido (Parte II)


"Mas alguns deles se endureceram e se recusaram a crer, e começaram a falar mal do Caminho".

Fomos liberados ao amanhecer, para aguardar o processo em liberdade. Devido a grande exposição da imprensa, agilizaram um pouco as coisas e marcaram a primeira sessão do julgamento o mais rápido que puderam.

Quando cheguei em casa minha mãe me abraçou e disse: filho, eu sei o que preciso saber viu? Acredite na verdadeira justiça e em breve você vai poder descansar em paz. Desandei a chorar mais uma vez. Ela me abraçou e acho que ficamos assim por pelo menos uma hora, talvez mais.

Saí para a faculdade, afinal, ainda que não tivesse forças, a vida tinha que continuar. Todos me olhavam. O trocador fez uma piadinha sobre o dinheiro da passagem. Quando me sentei, a senhora que estava ao lado se levantou e mudou de lugar. Cheguei na faculdade e lá estava um batalhão de repórteres. Disse que não tinha nada a declarar e prossegui meu caminho até minha sala. No caminho as pessoas me insultavam até que um chegou a me agredir. Desmaiei. Quando acordei estava na enfermaria, e André estava lá. Ele disse:

A: Escuta Lot. É provável que seja bem difícil daqui pra frente. Na sala alguns daqueles que dizem ser seguidores da mensagem estão zombando de você junto com os outros. Uns dois ou três acreditam na sua inocência. Os demais estudantes da sala tomaram um de três rumos: uns preferem não dizer nada, alguns estão ao seu lado, alguns acham que você é culpado. Só quero dizer uma coisa pra você. Eu sei que você é inocente. Você e o rapaz lá da comunidade.
L: Desculpa, estou meio zonzo. O que aconteceu?
A: Um cara te deu um soco. Não se preocupe. Eu iria chamar algum daqueles policiais ociosos lá fora e mandar prendê-lo, mas senti que você não iria gostar disso. Apenas disse que como acusado você deveria ter o direito de escolta policial. Eles já estão providenciando isso.
L: Porque?
A: Porque você foi agredido, ora!
L: Não André, porque você está me defendendo assim?
A: Eu já disse, eu sei que você é inocente. Além disso, você é meu amigo, acho que amigos devem fazer isso.
L: Muito obrigado.
A: Disponha sempre.

De volta a aula me acostumei com uma rotina de causar um certo tumulto, a ponto de um professor pedir que eu me retirasse da sala, mesmo eu estando calado o tempo inteiro.

Chegou o dia da primeira sessão e Vitor, Ian e eu nos apresentamos. De certa forma tinha me acostumado com a situação, mas ainda estava sem muita coragem para lutar. Nesse dia Ian já conseguiu algo positivo a nosso favor. Provou que as fotos e filmagens tinham sido editadas por Guilherme no computador. Não foi muito difícil fazer isso, porque a qualidade da edição tinha sido horrível. Ele também alegou injustiça por termos passado a noite do dia da acusação encarcerados. O promotor alegou que foi para a nossa segurança, já que havia ameaças de linchamento caso saíssemos de lá aquela noite. As outras acusações permaneciam de pé. Após um mês indo e voltando, fomos considerados culpados pelo desvio do dinheiro. Estávamos condenados a vários anos de prisão. Como havia um risco para nossa segurança, nos colocaram em uma cela separada, onde, segundo eles, só haviam seguidores da tal mensagem que nós dizíamos acreditar.

Ian foi bem firme ao dizer que iria recorrer da decisão. Enquanto eu só sabia de chorar, Vitor conversava com os colegas de cela sobre porque estavam ali. Alguns eram inegavelmente culpados, outros eram indubitavelmente inocentes. A justiça de certa forma não me parecia justa. Nem a verdadeira justiça a que minha mãe se referia. Estava desacreditado de tudo. Até que Rodrigo, o filho de um dos presos, Zilmar, foi o visitar. Ouvi os dois conversando.

R: Papai, quando você volta para casa?
Z: Assim que conseguirem provar a verdade meu filho.
R: Meus colegas dizem que você é ladrão.
Z: Você acha que eu sou?
R: Claro que não. Eu sei que você segue a mensagem, logo não pode ser ladrão. Eu sei que o Autor da mensagem vai te tirar daí em breve.
Z: Eu também sei meu filho.

Zilmar era coordenador de um centro de estudos da Mensagem dentro da cadeia. Vitor logo se associou a eles e me incentivou a participar. Não fosse essa conversa que ouvi de Zilmar e Rodrigo, o desânimo teria me feito ficar onde estava. Quando estava lá, senti a presença do Autor da mensagem como não sentia há muito tempo. Naquele dia vi como meu caráter estava sendo trabalhado. Mesmo sem perceber, estava me tornando orgulhoso por ter meu nome conhecido por meio do projeto. Não tinha deixado de fazer nada, não me achava mais importante que ninguém no mundo, mas uma certa vaidade começava a crescer dentro de mim.

Se me contassem, nunca iria acreditar que alguém no Brasil seria perseguido por seguir a mensagem. Mas eu vivia aquilo. Me juntei a Vitor e comecei a ficar feliz com isso. Toda vez que minha mãe vinha me visitar ela me dava uma incrível lição de amor incondicional. Ela sabia que eu era inocente, mas era óbvio que estava sofrendo. Ela é que estava em casa sendo acusada de ser mãe de um ladrão, de um bandido. Mas quando vinha me visitar estava sempre alegre, por saber que eu tinha recebido a honra de ser perseguido por causa do Autor da mensagem.

André também vinha me visitar às vezes, bem como alguns membros da comunidade. Logo, os horários de visitas tiveram que ser aumentados para visitar a mim e a Vitor. As pessoas vinham de diferentes lugares para nos visitar. Pessoas que nem conhecíamos. Muitas delas vieram por ouvirem algumas cartas que enviávamos para a comunidade e para os nossos amigos. O fato se tornou tão evidente que a imprensa resolveu registrar tudo. Já haviam se passado alguns meses que estávamos presos quando Ian veio com a notícia de que tinha conseguido de vez desbancar as acusações de Guilherme. A audiência foi marcada.

Quando chegamos, uma situação inusitada aconteceu. Ao invés dos insultos que nos acostumamos a ouvir nas últimas vezes, ouvíamos gente nos apoiando de todas as partes do país. O julgamento iria ser transmitido em rede nacional. Guilherme chegou perto de mim e disse:

G: Que olhar de coragem é esse garoto? Você sabe que vai amargar uns bons anos na prisão para aprender a não mexer com quem não deve.
L: A justiça verdadeira vai ser feita hoje nesse tribunal - disse eu, parafraseando minha mãe, que, aliás, estava assentada na primeira fila, com um olhar orgulhoso estampado na face.

Ian apresentou as provas. A conta bancária que estava em meu nome e que seria para onde o dinheiro tinha sido desviado era falsa. Na verdade a conta até existia, mas alguém usou meu nome para criá-la. Os registros telefônicos foram feitos de um número clonado, e o que seriam nossas vozes foram vozes de outras pessoas, modificadas por uma poderosa ferramenta tecnológica.

Guilherme até insistiu, o advogado de acusação tentou provar que éramos acusados, mas as provas eram incontestáveis. Saímos de lá com a sentença: inocentes. Quando o juiz declarou isso parecia que a seleção brasileira tinha ganhado uma final de copa do mundo contra a Argentina.

Quiseram fazer algumas reportagens conosco depois, e até pensamos em não fazer, para evitar parecer que estávamos nos orgulhando de tudo. Acabamos por fazer, para divulgar a mensagem.

Como havia passado várias meses preso, estava chateado porque iria perder aquele semestre na faculdade, apesar de que logo depois que fomos presos era período de férias. Fui ao colegiado do meu curso para ver como poderia resolver minha situação. O coordenador do colegiado disse que o reitor da faculdade queria falar comigo, e ele estava lá nesse dia. Mesmo sem entender nada, fui falar com ele.

L: O senhor queria falar comigo.
R: Sim, primeiramente, queria dizer que sinto orgulho por você ser estudante dessa instituição. Você não só era inocente, como mudou a vida de muita gente dentro da cadeia e fora dela.
L: Desculpa senhor, mas o mérito não é meu.
R: Sim sim, eu sei que vai falar aquela coisa da tal mensagem. Mas não importa, você é um herói. E como tal, conversei com o responsável pelo seu colegiado e marcamos uma reunião com os professores. Você perdeu muitas provas e trabalhos, e só faltam duas semanas para o fim desse semestre. Infelizmente não podemos simplesmente te dar os pontos, mas se você fizer todos os trabalhos e as provas nessas semanas os professores vão desconsiderar suas faltas. É claro que você perdeu conteúdo, e por isso ficaria prejudicado, e vai ter que fazer alguns trabalhos que eram em grupo sozinho. Mas se você aceitar, posso ceder um tratamento especial para você.

Não consegui falar por alguns instantes, mas logo disse:

L: Muito obrigado senhor reitor. Eu quero tentar.
R: Ok, aqui está o calendário. Você não irá assistir as aulas junto com seus colegas, vai ter uma sala só para você fazer essas provas. Todos os dias você vai ter prova. E ainda tem os trabalhos para entregar. Todos os professores se colocaram a disposição para ajudar certo?
L: Certo.

Eu estava extremamente cansado, devido ao tempo de reclusão, mas o Autor da mensagem me permitiu tirar forças de onde não tinha nada para tirar, e consegui fazer tudo. Não fui perfeitamente bem em todas as matérias. Consegui resultados satisfatórios em algumas, mediano em outras e tive que fazer exame especial em uma matéria, mas, no final, consegui passar em todas elas. Um dia me encontrei com André e disse:

L: André, primeiramente, muito obrigado. Nada que eu fizer na vida vai poder te compensar pelo que você fez.
A: Amigos são para essas coisas Lot.
L: Você sabe que o que você fez, se sacrificar por alguém aparentemente culpado, mesmo não tendo nada a ver com o assunto é muito parecido com o que o filho do Autor fez?
A: É, eu sei Lot, eu já sei de tudo isso que você sempre diz. Sério, eu acredito no seu caráter e te provei isso certo? Mas pessoas como o Guilherme e aquela tal de Marta, além dos que se dizem seguidores da Mensagem lá da sala não me deixam acreditar nessa Mensagem.
L: Você sabe que não pode basear em pessoas.
A: Ora, não é no livro que contem a mensagem que diz que pelos frutos se conhece a árvore? Eu vi muitos frutos podres.
L: Mas André...
A: Lot, eu gosto muito de você cara, sério mesmo, mas eu já te disse uma vez, vou te dizer outra. Não insista comigo que você não vai conseguir nada. Mas sempre que precisar de mim como amigo pode contar comigo.
L: É, eu sei, muito obrigado. Pode contar comigo sempre também.
A: Eu sei.

É claro que fiquei chateado sobre a decisão de André em continuar insistindo a não seguir a Mensagem, mesmo que ela tenha ido ao encontro dele, como aconteceu. Mas aprendi muitas lições com essa experiência. O orgulho, por exemplo, é um vermezinho que começa a destruir por dentro, aos poucos, sem que você perceba. Quando se dá conta já foi todo consumido por ele, não há mais volta.

Aprendi mais sobre a misericórdia do Autor da mensagem. Não só o fato de ter me livrado do orgulho antes que me consumisse, mas o fato de aceitar minha fraqueza naquele momento, e depois ainda me permitir não perder o semestre. Isso sem contar as milhares de vidas que foram influenciadas positivamente por algo que não fizemos.

Vitor e eu nos tornamos praticamente irmãos, para alegria de Pedrinho. O projeto recebeu tanto apoio financeiro que pudemos ajudar vários outros projetos com o que recebemos. As cartas que escrevemos na prisão ainda circulam por vários lugares. Nós dois sabemos que não temos poder algum, força alguma, mas sabemos também que o Autor da mensagem é quem sustenta tudo. Sabemos que toda honra e glória que recebemos na verdade são dele. Ele está ao nosso lado o tempo todo, e somos eternamente gratos por isso.




segunda-feira, junho 08, 2009

O diário de Lot - O perseguido (Parte I)


"Naquele tempo houve um grande tumulto por causa do Caminho"

Depois de ter construído o centro de ajuda no bairro de Pedrinho eu acabei ganhando uma certa notoriedade pública. Evitei o máximo que pude, mas não tinha como negar a diferença que o projeto estava fazendo pela comunidade. Evitei aparecer, porque no final das contas eu me tornei um assessor do projeto. Quem realizava mesmo as ações eram os membros da comunidade. Vitor acabou se tornando um grande líder por lá.

Certo dia estava voltando da faculdade quando ouvi por acaso algumas pessoas dizendo: É ele! É ele o arruaceiro orgulhoso que inventou aquilo tudo!

Como estava bem cansado nesse dia, que tinha sido bem corrido na faculdade, nem dei muita atenção. Até que vi na TV a manchete: FUNDADOR DE CENTRO DE AJUDA CRIADO EM BAIRRO CARENTE É SUSPEITO DE FRAUDE E DESVIO DE DOAÇÕES. Não sabia o que dizer, nem o que fazer. Tinha plena certeza de que estavam falando de mim, mas também estava convicto de que eu não tinha feito nada de errado. Foi quando Vitor me ligou:

V: Você viu?
L: No jornal?
V: É, eu não acredito no que vi!
L: A minha ficha ainda não caiu.
V: Desconfio quem teria coragem de fazer uma coisa dessas.
L: De onde surgiu isso? (eu ainda não estava raciocinando direito, por isso nem ouvi a última afirmação de Vitor).
V: Lembra que algumas pessoas da vizinhança, da parte nobre do bairro, começaram a falar que queríamos ganhar dinheiro?
L: Não.
V: Algumas pessoas do centro de ensino da Mensagem, na parte nobre do bairro. Como não lembra?

Perdi o fôlego por alguns instantes. De repente minha ficha realmente caiu. Na época que iniciamos o projeto, algumas pessoas de centros de ensino da Mensagem vieram nos ajudar. O responsável pelo centro daquele bairro ficou bastante desconfiado. Ele veio conversar comigo. Vamos supor que o nome dele fosse Guilherme.

G: Fiquei sabendo que vão criar um centro de ajuda aqui na região pobre do bairro.
L: Vamos sim!
G: Você se mudou para esse bairro, ou mora aqui? Não me lembro de você.
L: Na verdade, eu moro a uma distância considerável daqui.
G: Porque não instalou um centro de ajuda no seu bairro?
L: Bem, o meu bairro não tem condições tão precárias quanto essa região aqui do bairro.
G: Uma vez tentamos fazer algo por essas pessoas. Nós lhes demos cesta básica por um tempo, mas logo eles começaram a vender as cestas para comprar drogas. Esse povo é todo rebelde. Não estão dispostos a ouvir a verdade.
L: Que verdade?
G: Ora, depois que fizeram isso é claro que tiramos a ajuda. Fomos bem claros ao dizer que lugar de bandido não é na rua, é na cadeia. Se eles queriam ser bandidos tinham mais é que estar na cadeia.
L: Não foi um pouco duro?
G: Você ouviu o que eles fizeram?
L: Ouvi. As pessoas erram. O senhor nunca errou?
G: Menino, você não tem ideia de com quem está se metendo. Sai logo desse centro ou então eu tiro você desse centro.
L: O senhor está me ameaçando?
G: Estou te dando um aviso. O que tiver que ser feito vai ser feito.

Esse diálogo ficou bem vívido na minha cabeça por um bom tempo. E eu andava meio apreensivo toda vez que ia visitar o centro. Mas os resultados foram tão positivos, e o Autor da mensagem sempre me instruia a continuar, não importando quão difícil fosse. Eu continuei no projeto, mas como assessor. Sabia que tinha muito mais a fazer em outros lugares também. Vitor era alguém da minha confiança, por isso o deixei como supervisor. Depois de me recuperar do susto, disse algumas palavras para o Vitor:

L: Foi o Guilherme.
V: Exatamente. Também desconfio disso.
L: Vamos à sede desse canal para esclarecermos as coisas.

Mal sabíamos nós que aquilo tudo era uma emboscada. Quando chegamos lá, além de cobertura nacional de todos os canais, um batalhão de policiais nos esperavam. À frente deles estava Guilherme, que com um sorriso irônico estampado na face dirigiu a palavra a mim (de forma discreta, para não aparecer nas câmeras):

G: Eu disse que você não tinha ideia de com quem estava se metendo.

Eu não conseguia dizer nada. Os repórteres faziam mil perguntas, os policiais nos algemaram rapidamente, mas eu estava completamente em estado de choque. Dentro do camburão Vitor disse aos policiais:

V: Acredito que nós temos o direito de saber o que está acontecendo, e temos direito a um advogado.

Sabia que tinha escolhido a pessoa certa para assumir a liderança do projeto. Vitor viu que eu não teria reação por um longo tempo, por isso tomou à frente de tudo. O policial respondeu:

P: Assim que chegarem a delegacia vocês terão um advogado esperando. Ele irá explicar tudo. Logo depois vocês terão que comparecer à coletiva de imprensa que está marcada para logo mais.

Quando chegamos, o advogado, que chamarei de Ian, nos explicou que Guilherme de alguma forma tinha conseguido ligar o projeto a desvios financeiros, apoio ao tráfico, prostituição e aliciamento de menores. Foi quando eu consegui falar:

L: Como?
I: Ele tem provas. Não será um caso muito fácil. Vocês podem assumir parte da culpa e podemos negociar.
V: Somos completamente inocentes. Que provas ele tem?
I: Ele tem documentos, registros telefônicos, fotos e filmagens. Escutem, vocês foram pegos. Mas pelo acordo podemos conseguir reduzir a pena.
V: Com todo o respeito senhor, acho que você não entendeu. Somos inocentes. I-NO-CEN-TES. O projeto tem mostrado diminuição da criminalidade, da prostituição e do trabalho infantil. Isso já foi tema até de reportagem.
I: Normalmente eu não acreditaria em vocês. Eu iria insistir para vocês assumirem a culpa e partirmos para o acordo. Mas conheço um amigo seu, Lot seu nome certo?
L: É, meu nome.
I: Conheço o André, ele é filho de um amigo meu. Ele sempre chega contando de como você é convicto daquilo que acredita. Como você é alguém de caráter. Ele mesmo não acredita em nada, mas sabe que você teve uma mudança de vida e que é de confiança. Quando ele viu a reportagem ligou para mim e pediu para eu advogar em favor de vocês dois.

Se antes eu estava sem palavras, agora então queria sumir do mundo. Era tudo tão confuso. O André, logo o André, totalmente indiferente ao que eu fazia ou falava, ele veio me defender? Afinal, o que estava acontecendo?

Ian nos explicou que Guilherme tinha pego as provas, contatado a principal emissora de televisão do estado, e, junto com eles, chamaram a polícia para supostamente nos pegar em flagra.

I: Bem, vocês tem que ir a entrevista agora. A minha orientação é que vocês digam que as investigações estão sendo inciadas agora. Quem estiver certo no final vai ganhar esse caso. A justiça será cumprida.
L: Vitor?
V: Oi.
L: Você pode dizer isso? Sinto que não vou conseguir dizer nenhuma frase diante das câmeras.
V: Eu digo. Lot, acredite em mim, vai dar tudo certo.

Quando aparecemos para a entrevista diferentes coisas aconteciam ao mesmo tempo. Os repórteres queriam todos perguntar ao mesmo tempo de modo que o próprio Guilherme teve que organizar as coisas. Lá fora, podíamos ouvir pessoas gritando e nos xingando. Alguns falando mal da Mensagem, e de todos os que seguiam o que ela ensinava. Esporadicamente ouvíamos vozes conhecidas, de pessoas da comunidade que estavam lá para nos defender. Cheguei a ouvir a voz da minha mãe e de Maria. Fiquei aterrorizado. Eu realmente não conseguiria falar nada naquele momento. Vitor foi exemplar. Repetiu exatamente a frase que Ian nos orientou a dizer, e depois disse que só após o início do processo estava autorizado a dar mais detalhes. Ele estava certo. O sigilo não permitia que ninguém falasse nada antes que se iniciasse o processo.

Passamos aquela noite atrás das grades, mesmo sem nenhum antecedente criminal em nossas fichas. Ian mais tarde usaria isso em nosso favor. Naquela noite pela primeira vez consegui exprimir alguma emoção. Vitor estava radiante, por pensar que aquilo era uma perseguição por ele estar seguindo a verdade. Eu estava aterrorizado, me sentindo completamente impotente. Foi quando eu comecei a chorar.

L: Eu queria saber o que eu fiz para merecer isso. Porque acontecem coisas como essa a pessoas como nós? Mesmo que se prove que somos inocentes - o que parece que vai ser bem difícil, apesar de nós sermos - sempre teremos a fama de ladrões, corruptos e coisas do tipo.
V: Eu não estou te reconhecendo. Afinal de contas você levou a mensagem para minha casa. Você é que influenciou o André de tal forma que, mesmo que ele ainda não acredite na mensagem, o fez trazer um amigo da família para nos defender. Você influenciou tantas pessoas. Vai desistir agora?
L: Eu não sei o que fazer. Estou desesperado.
V: A verdade vai prevalecer no final. E isso vai servir para te fortalecer ainda mais, pode acreditar.

Caí no sono depois de muitas lágrimas derramadas.

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