segunda-feira, junho 06, 2011

O diário de Lot - O extraordinário (Parte I)


"sabendo que era justo e santo"

Eu tinha aprendido, como disse aqui na última vez, a não me acostumar com a rotina extraordinária que eu tinha. Por isso tentava, às vezes, fazer coisas mais comuns, apesar de saber que o comum hoje é não se importar, e quem se importa e faz alguma coisa, por menor que seja, já faz algo extraordinário. É o Autor que nos motiva a isso, por isso não temos motivos para nos gloriarmos. Sabemos de onde viemos e para onde vão as pessoas se a mensagem não as alcançar.

Pois bem (acabei divagando demais), estava eu um dia num encontro de um ano de formandos de meu curso. A maioria empregado, alguns fazendo mestrado, pós-graduação e tudo mais. Mas uma coisa em comum me chamava a atenção - todos, apesar de estarem bem-sucedidos, não pareciam felizes.

Aqui, vale abrir um parênteses. Por tudo que aconteceu comigo durante os anos da faculdade, e por ter sido o orador, fui chamado a dar uma palavrinha, fazer um discurso, naquela festa. Tentei fugir da responsabilidade, mas às vezes quando o Autor da mensagem tem um propósito para você, não adianta fugir, que você vai estar lá...e que o diga o homem que foi engolido por um grande peixe há milhares de anos. Daí então não teve como, tive que aceitar, porque foi por unanimidade da turma que fui escolhido.

Fui então me preparar, com um mês de antecedência, mas nada me vinha à mente para falar, três semanas, duas, uma...e lá estava eu, sem saber o que falar logo no dia da festa. Logo eu, que de alguma forma falei com todo tipo de gente, não conseguia pensar em nada para falar com pessoas que eu tinha convivido durante cinco anos da minha vida.

Fechando o enorme parênteses, eu consegui entender. Às vezes, precisamos observar o padrão para saber o que podemos falar para as pessoas. Até que o comum não parece ser tão ruim assim, quando ele é a catapulta que nos mova para o incomum, o extraordinário.

Ainda bem que tinha tido todo esse devaneio naquele momento, porque logo me chamaram para falar. Então, anda meio inseguro quanto ao que falar, subi ao palco, peguei o microfone, e comecei:

- Boa noite!

- Boa noite!  - responderam em uníssono meus colegas.

- É engraçado como o tempo nos ensina coisas e como, apesar de tão diferentes, somos todos iguais. E não é porque seguimos todos a mesma profissão - ouvi algumas risadas à minha frente - Quando cheguei aqui, vou ser bem sincero, não tinha a mínima ideia do que falar, mas, ao observar a turma, descobri o que tinha que ser dito. Acredito que o que vou falar pode desagradar alguns, ou todos, mas a verdade deve sempre ser dita, porque ela liberta, e às vezes para conquistar a liberdade temos que passar por algumas dores.
- Vocês notaram que todos aqui têm sucesso na vida? Quantas noivas e noivos, empresários e futuros especialistas e doutores temos entre nós, não é mesmo? Nossos professores ficariam orgulhosos. Mas o que me incomoda é como eu vejo pessoas comuns. Lembram-se de que um de nossos professores dizia que mediocridade não é sinônimo de ruindade? Ser medíocre é estar na média. O mundo anseia por pessoas extraordinárias.
- Imagino que vocês devem estar imaginando se não estou me contradizendo. Pois não estou. Sucesso não significa ser extraordinário. Extraordinária é aquela pessoa que, muito mais que uma herança gorda, vão deixar valores para seus filhos. É cedo ainda para a maioria de nós falar em filhos, e alguns talvez nunca os tenham (e eu não vou tentar entender o porquê disso), mas é preciso pensar em quem você é no mundo. O mundo clama por pessoas extraordinárias! E todos nós temos a capacidade de sermos essas pessoas.
- Como vocês sabem, tudo que aconteceu comigo foi porque Alguém me deu o presente de ser extraordinário. Eu, sem falsa modéstia alguma, reconheço que não tenho essa capacidade em mim mesmo, mas é Ele que me capacita! Ele me deu o presente de andar ao lado dEle todos os dias, não porque viu algo de bom em mim (nem mesmo potencial), ou porque Ele esperava algo em troca, mas porque Ele quis. Ele me amou e me quis ao lado dele mesmo sabendo que nunca eu teria a capacidade ou recursos necessários para retribuir o favor...

Continuei falando durante um bom tempo e desci, sem saber ao certo se tinha tido algum resultado, mas com a feliz sensação de dever cumprido. Uma antiga colega, dentre vários, veio me procurar para conversar. Ela aguardou todos os que queriam conversar comigo. Ninguém revoltado como eu esperava, mas todos agradecendo, dizendo que eu sempre fui bom em palavras, e blá blá blá.

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