sexta-feira, janeiro 22, 2010

A semana das tragédias


Está certo que a tragédia do Haiti foi na última semana, mas parece que o mundo está acordando mais para essa notícia essa semana. Todos os blogs que eu acompanho falaram pelo menos duas vezes sobre esse assunto essa semana. Eu, particularmente, prefiro evitar falar sobre esse assunto. Acho que não sou forte o suficiente para escrever sobre isso. Não sou forte nem para discutir sobre a tragédia em si - milhares de pessoas mortas, milhões de pessoas feridas e desabrigadas - como também não sou forte para ver o que os pseudocristãos dizem nesse momento.


Resolvi escrever porque acredito que minha falta de forças não justificaria tamanha irresponsabilidade essa que seria negar o direito de expressar minha opinião sobre o assunto.


Eu acredito que Deus é poderoso e que se importa com a humanidade, e quase posso dizer que tenho certeza que ele não causou essa tragédia. Também não foi algo do acaso. Isso é consequência do pecado humano, sim, mas não acredito que seja diretamente relacionado ao pecado daquela nação. É consequência do pecado uma vez que o ser humano caiu uma vez em pecado, há muito tempo, e desde então todos nós somos pecadores e todo o mundo está desequilibrado. Se os terremotos no Haiti fossem um castigo de Deus contra aquela nação seria algo que Ele próprio avisaria, como fez com Israel no tempo do Antigo Testamento.


Ele não seria injusto se quisesse mandar um raio na minha cabeça agora. Eu sou pecadora por natureza. "O salário do pecado é a morte, mas (e esse mas é que faz toda a diferença) o dom gratuito de Deus é a vida eterna". Esse versículo, que está registrado em Romanos 6:23, é a cartada final contra qualquer Pat Robertson que se levante por aí. TODOS nós deveríamos morrer porque somos pecadores. Entretanto, a partir do momento em que o próprio Deus veio pagar o preço que Ele cobrou para nos salvar, estamos "livres" desse jugo. Vamos morrer, é certo, e muitos de nós vamos sofrer na vida. Mas ele está sempre ao nosso lado. A diferença é essa quando somos cristãos. Nós conseguimos ter forças para continuar lutando depois da tempestade, porque Ele nos dá forças. O povo do Haiti, por exemplo, como negar a igreja forte que está surgindo dos restos mortais daquele país? E por forte quero dizer realmente isso. Uma árvore que cresce em meio a dificuldade extrema terá mais força para enfrentar os desastres do que aquelas que nasceram em um clima tranquilo. Isso é o que entendo por Igreja forte. E não uma igreja com muitos bens, grande quantidade de pessoas ou grande destaque na mídia.


Cada notícia boa que vejo sobre a tragédia (trinta pessoas resgatadas depois de vários dias, a senhora que saiu cantando de onde ficou soterrada, a mãe que reencontra seu bebê depois de uma semana), me dá esperanças. Esperança que a situação lá vai melhorar. Não importa o tempo que levar, mas vai melhorar. É claro que com o mundo todo se mobilizando as coisas vão melhorar mais rápido. As tragédias fazem o lado verdadeiro do ser humano surgir. Ou ele mostra a bondade que há no seu coração, ou a crueldade. E são nesses grupos que divido aqueles que dizem alguma coisa sobre a tragédia. Como cristã eu gostaria muito que aqueles que dizem professar a mesma fé que eu mostrassem a bondade que Cristo nos ensinou, mas infelizmente são muitos os que fazem exatamente o contrário.


Como igreja de Cristo devemos sofrer com os nossos irmãos haitianos. Se uma unha do dedo mindinho quebrar todo o nosso corpo irá se mobilizar até que a ferida esteja curada. A unha do dedo mindinho da igreja está quebrada e sangrando, por isso devemos sofrer com o povo no Haiti. E mesmo por aqueles que não são cristãos, porque são seres humanos como nós, afinal, quantos morreram sem conhecer a Cristo? É nossa culpa. Nós temos uma missão - levar o evangelho a todo o mundo. E evangelho não é apenas o "Jesus te ama" que estamos acostumados a pronunciar tão roboticamente. Evangelho são boas novas. E as boas novas de Cristo são capazes de transformar o ser humano integralmente. A igreja deveria estar lá para criar estruturas melhores para as casas, as escolas, as famílias. Obviamente ao dizer isso corro o risco de ser injusta. Sei que há muitos por lá fazendo a missão integral acontecer. E sei que muitos de nós não estão no Haiti, mas estão na Europa, na África e nos outros continentes. Mas sei também que há muitos que deveriam estar lá e estão sendo negligentes.


Desculpem pelas frases jogadas, é o que sei fazer quando tento escrever sobre alguma tragédia. O que sei, em síntese, é que meu coração fica apertado quando leio cada notícia dizendo que o número de mortos aumentou, que a chuva em São Paulo já matou nove pessoas, que aqueles que se dizem cristãos condenam pecadores como eles próprios. É como uma criança com o dedo no nariz rindo do coleguinha que soltou um pum na sala. Mas eu acredito que daquele vale de ossos secos pode surgir um exército. Acredito que meus irmãos haitianos vão fazer história porque passaram por isso. E acredito que a fidelidade de Deus continua a mesma, assim como sua bondade e justiça.

Um comentário:

Carol Santana disse...

Uau. Que texto. Sinto que seria injusto comentar algo sobre o que você escreveu, mas tb não posso deixar de fazê-lo.

Os haitianos precisam de ajuda e não de alguém que aponte o dedo e diga onde eles erraram. Como você disse todos nós erramos e todos somos alvo da graça. O fato de não haver terremotos no Brasil não significa que os brasileiros pecam menos. No meu ponto de vista é pura e simplesmente geografia.

Estamos tão preocupados em injetar uma pseudo espiritualidade no mundo que nos esquecemos de ser verdadeiramente cristãos. Ao invés de sermos as mãos e pés de Cristo não somente no Haiti, como no mundo apontamos o dedo e dizemos: Eles estão sofrendo porque fizeram macumbas demais. Grande hipocrisia!

Outro dia vi um soldado brasileiro agradecendo a Deus por estar no Haiti porque assim ele poderia ajudar mais pessoas. Meu Deus. Ele está agradecendo por estar no pior lugar para se estar no mundo no momento! Eu me senti orgulhosa desse soldado. Ele se sente grato porque sabe que pode fazer mais do que o esperado. Só dá algo quem o tem para oferecer. "É melhor dar do que receber"

Esse soldado se parece muito mais com Cristo do que a grande maioria dos chamados "crentes".

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