segunda-feira, janeiro 18, 2010

O diário de Lot - o grito dos desesperados


"A boca do justo é fonte de vida, mas a violência cobre a boca dos perversos."

Logo que minhas dúvidas sumiram e eu consegui entender a confusão que estava minha mente ocorreu um acidente terrível em um pequeno país da América Central. Foi o pior desastre natural ocorrido na história moderna da humanidade.

Junto com essa tragédia, foi inevitável que perguntas tradicionais sobre o Autor surgissem, como: "se Ele existe, porque deixou isso acontecer?"

Estou acostumado a ouvir isso. Qualquer tragédia humana, seja ela individual ou coletiva, leva a esses questionamentos. Mas também surgiram muitos que supostamente estão envolvidos com a mensagem para falar ao público. Eu esperava ver conforto e esperança saindo da boca desses homens, mas o que surgiu foi apenas julgamento e crítica. "Eles atraíram isso ao se envolverem com o Vodu", disse um deles. Outro chegou a dizer que o que aconteceu foi bom e proposital para que as pessoas se achegassem ao Autor.

O que aconteceu? Minha mente voltou a encher-se de minhocas gordas e emaranhadas umas nas outras. Que livro essas pessoas estavam lendo? Não seria o mesmo livro onde eu li "Exortamos vocês, irmãos, a que advirtam os ociosos, confortem os desanimados, auxiliem os fracos, sejam pacientes para com todos"?

Cheguei a um ponto onde fiquei cansado desse tipo de pessoas que dizem falar do Autor da vida e da mensagem que leva a vida e na verdade só espalham a morte. Morte, sim, porque ao dizerem algo que está totalmente contra aquilo que está na palavra da vida eles automaticamente estão pregando morte.

André veio falar comigo naquela semana.

A: E você ainda quer que eu acredite no Autor que você prega. No mínimo Ele é um autor desastrado que não percebeu quando esbarrou na terra e produziu aquilo ou Ele é um sádico e mimado que fica sacudindo, literalmente, as pessoas quando elas vão contra Ele.

Eu fiquei em silêncio por alguns segundos.

A: Ok, Lot, eu sei que você acredita nisso, e você é o mais próximo do que já consegui ver de bondade nesse possível Autor que você prega. Mas quando olho em volta não consigo ver mais nada.
L: Se você se basear em mim então realmente está perdido. (nós dois rimos um pouco). Sério. Eu estou chocado com o que aquele cara da TV disse. Eu sei que o que eu li é diferente do que ele falou. De fato eu não sei o que ocorreu naquele país. Não tenho explicação e não sei se há algum propósito em dizimar milhares de vidas. Eu não acredito que o Autor seja assim. Acredito, sim, que isso é consequência do desvio dos humanos do Caminho, mas não acredito que isso é culpa dos nativos de lá. Se é pra culpar alguém, então eu culpo a mim mesmo. Cada vez que menti, cada vez que deixei de fazer algo bom, foi um pequeno ato que no final resultou naquilo. Todos nós somos culpados, mas devemos mostrar compaixão àquelas pessoas. A propósito, fiquei sabendo de três instituições do caminho que já mandaram equipe e ajuda financeira para lá.
A: Eu não ouvi nada disso.
L: O bem não tem que ser exibido. Tem que ser feito.
A: Você vai fazer alguma coisa?
L: Entrei em contato com uma dessas instituições e disse que queria me voluntariar. Aproveitar que nos formamos agora, não vou perder aula.
A: Mas você conseguiu um ótimo emprego agora, cara!
L: Eu sei, mas eu não posso deixar de fazer alguma coisa. Principalmente depois de ouvir aquilo na TV.
A:Você é o único cara que conheço que faria algo assim pela mensagem, cara!
L: Não sou o único. Várias pessoas fizeram o mesmo. E eu faço isso pelo Autor, pelas pessoas de lá. Além do mais, os nativos de lá acabaram tendo que largar empregos, casas, famílias, os que sobreviveram. Só que não foi porque eles quiseram.
A: Você sabe que isso não vai me convencer a acreditar na mensagem, as contradições ainda são muito gritantes para mim, mas você acha que eu posso ir com vocês? Tipo, eu não sou corajoso igual a você de largar um grande emprego. Como ainda tenho um dinheiro guardado do estágio que fazia na faculdade e não estou empregado ainda...
L: Você está falando sério???
A: Claro que estou! Você acha que eu brincaria com uma coisa dessas?

André estava visivelmente constrangido, mas a disposição dele e a esperança de ajudar alguém era visível em seus olhos.

L: Você sabe que vamos levar ajuda e a esperança do Autor para eles certo?
A: Eu fico com a parte da ajuda, hehe.
L: Ainda não está tudo certo da viagem, mas assim que encontrar com o pessoal eu falo com eles e te passo uma posição, combinado?
A: Ok. Mas me fala mesmo, porque eu tenho que avisar para meus pais.
L: Ok

Apesar de minha revolta continuar pelo que via na TV e lia na internet em relação aos pseudoseguidores da mensagem, a disposição de André me dava esperanças.

Continua...

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