C.S. Lewis
Eu fico imensamente feliz de poder colocar essas anotações aqui. Esse livro é fonte de sabedoria para grandes escritores cristãos, e comigo não seria diferente. Se há alguém que foi usado por Deus, e ainda o é, mesmo após sua morte, esse é C.S. Lewis. Pensar que ele diz nesse livro que não pretende falar como um teólogo, rs.
"(...) diante da necessidade de suportar o sofrimento, um pouco de coragem contribui mais que muito conhecimento, um pouco de empatia humana ajuda mais que muita coragem e o mínimo matiz do amor de Deus vale mais que tudo isso." - p. 16
"O espetáculo do Universo, do modo em que é revelado pela experiência, jamais pode ter sido a base da religião: deve sempre ter sido algo a despeito do qual a religião, adquirida de uma fonte diversa, foi mantida." - p. 19,20
"Ou ele [Jesus] foi um lunático delirante, de um tipo abominável que raramente se encontra, ou foi - e é, exatamente o que afirma ser. Não há meio-termo. Se os registros tornam inaceitável a primeira hipótese, devemo-nos submeter à segunda. E, se fizermos isso, tudo o mais que for afirmado pelos cristãos tornar-se-á crível - que esse Homem, depois de ser morto, ainda estava vivo e que Sua morte, de alguma forma incompreensível ao pensamento humano, levou a efeito uma verdadeira mudança em nosso relacionamento com o Senhor 'temível' e 'justo' - uma mudança a nosso favor." - p. 29
"Não se trata de um sistema em que temos de enquadrar o incômodo fato do sofrimento. O Cristianismo é em si um dos fatos incômodos que tem de ser enquadrados em qualquer que sistema que venhamos a criar. Em certo sentido, ele cria, em vez de resolver, o problema do sofrimento, pois este não seria um problema se, aliado à nossa experiência diária neste mundo de dor, não tivéssemos recebido o que julgamos ser uma boa certeza de que a realidade última é justa e amorosa." - p. 29,30
"Que Deus possa modificar e, de fato, por vezes modifique o comportamento da matéria e realize o que chamamos milagre faz parte da fé cristã, mas a própria concepção de um mundo comum e, portanto, estável, requer que essas ocasiões sejam extremamente raras." - p. 41
"Tente excluir a possibilidade de sofrimento implicada pela ordem da natureza e pela existência do livre-arbítrio, e você descobrirá que excluiu a própria vida." - p. 42
"A liberdade de Deus consiste no fato de que nenhuma causa além dele mesmo produz os Seus atos e nenhum obstáculo exterior os estorva, isto é, de que Sua bondade é a raiz da qual todos eles se desenvolvem, e Sua onipotência, o ar em que todos florescem." - p. 43
"(...) se Deus é mais sábio que nós, Seu juízo deve diferir do nosso em muitas coisas e não menos no que diz respeito ao bem e ao mail. O que nos parece bom pode, portanto, não ser bom a Seus olhos, e o que nos parece mau pode não sê-lo." - p. 45
"A 'bondade divina' difere da nossa, mas não é absolutamente diversa: ela difere da nossa não como o branco do preto, mas como o círculo perfeito se distingue da primeira tentativa de uma criança em desenhar uma roda: quando a criança aprender a desenhar, ela saberá que o círculo que agora consegue fazer é justamente aquele que estava tentando reproduzir desde o começo." - p. 47
"Queremos, com efeito, menos um Pai no Céu que um avô no céu - certa benevolência senil que, como se diz, 'gostasse de ver gente jovem usufruindo as coisas' e cujo projeto para o Universo fosse simplesmente que se pudesse dizer sinceramente ao fim de cada dia: 'Todos se divertiram'." - p. 48,49
"Há bondade no Amor, mas um e outro não são sinônimos (...)." - p. 49
"Se Deus é Amor, Ele é, por definição, algo mais do que simples benevolência." - p. 50
"(...) nossa capacidade de pensar é o poder de Deus comunicado a nós." - p. 50
"Da mesma forma, é natural queremos que Deus nos tivesse designado um destino menos glorioso e árduo. Ao fazer isso, não estamos querendo mais amor, e sim menos." - p. 52
"Podemos desejar, de fato, que fôssemos tão pouco estimados por Deus, que ele nos deixasse livres para seguir nossos impulsos naturais, que Ele parasse de tentar nos treinar para levar-nos a ser algo tão diverso de nosso eu natural. No entanto, uma vez mais, não estamos pedindo mais amor, e sim menos." - p. 53
"O Amor pode perdoar todas as fraquezas e assim mesmo amar, a despeito delas, mas não pode deixar de querer que eles sejam eliminados. O Amor é mais sensível que o próprio ódio a cada imperfeição no ser amado." - p. 55
"De todos os poderes, ele [o amor] é o que perdoa mais, porém é o que menos fecha os olhos; ele se satisfaz com pouco, mas exige tudo." - p. 56
"Você pediu um Deus amoroso; agora tem um (...), não uma benevolência senil que preguiçosamente deseja que você seja feliz à sua maneira; não a fria filantropia de um juiz escrupuloso; tampouco os cuidados de um anfitrião que se sente responsável pela comodidade de seus convidados, mas Ele próprio o fogo a consumir-se, o Amor que criou os mundos; pertinaz como o amor do artista por sua obra e despótico como o amor de um homem por seu cão; providente e venerável como o amor de um pai por seus filhos; ciumento , inexorável e exigente como o amor entre os amantes." - p. 56
"O problema de reconciliar o sofrimento humano com a existência de um Deus que ama só permanecerá insolúvel se atribuirmos um sentido corriqueiro à palavra 'amor' e encararmos as coisas como se o homem fosse o centro delas. O homem não é o centro. Deus não existe para o bem do homem. O homem não existe para o próprio bem (...). Não fomos feitos em primeiro lugar para que possamos amar a Deus (embora tenhamos sido criados para isso também), mas para que Deus nos possa amar, para que possamos nos tornar algo em que o amor Divino possa repousar 'plenamente satisfeito'. Pedir que o amor de Deus fique satisfeito conosco como somos é pedir que Deus deixe de ser Deus." - p. 57,58
"Se Ele nos requer, o requerimento é escolha dele. Se o coração imutável pode ser ofendido pelos fantoches de sua criação, é a Onipotência divina, e não outra coisa que assim o subordinou, livremente e numa humildade que ultrapassa a compreensão. Se o mundo não existe principalmente por amor a Deus, mas para que Deus nos ame, esse mesmo fato, no entanto, num nível mais profundo, assim o é para nosso bem. Se Ele, que em Si Mesmo não pode ser carente de coisa alguma, escolhe carecer de nós, é porque necessitamos ser necessários." - p. 61
"Viver o amor de Deus de modo verdadeiro, não ilusório, é portanto vivê-lo na forma de nossa rendição à Sua exigência, nossa conformidade ao Seu desejo." - p. 61,62
"(...) tudo advém dele, incluindo a própria possibilidade de O amarmos (...)." - p. 62
"Quando queremos ser algo além do que Deus quer que sejamos, estamos desejando na verdade aquilo que não nos fará felizes. As exigências divinas que soam aos nossos ouvidos mais como as de um déspota e menos como de alguém que ama nos conduzem aonde deveríamos querer ir, caso soubéssemos o que desejamos." - p. 63
"Ou seja, quer gostemos, quer não, Deus intenta dar-nos aquilo de que necessitamos, não aquilo que ora achamos que queremos. Uma vez mais, vemo-nos desconcertados diante da benevolência intolerável - diante do excesso, não da escassez do amor." - p. 64
"Você não pode ter sinal maior de orgulho crônico que no momento em que se julga bastante humilde." William Law, citado na p. 65
"O Cristianismo hoje tem de anunciar o diagnóstico - em si mesmo, uma notícia muito ruim - antes de conquistar ouvintes dispostos a ouvir sobre a cura." - p. 66
"Entretanto, a menos que o Cristianismo seja inteiramente falso, a percepção de nós mesmos em momentos de vergonha deve ser a única verdadeira." - p. 67
"A culpa é purificada não pelo tempo, mas pelo arrependimento e pelo sangue de Cristo." - p. 71
"Deus pode ser mais que bondade moral: Ele não é menos que isso." - p. 76
"(...) se nossa depravação fosse total, não nos reconheceríamos como depravados e em parte porque a experiência nos mostra muita bondade na natureza humana." - p. 77
"Creio que todos pecamos tanto por desobedecer desnecessariamente à determinação apostólica de 'nos alegrarmos' quanto por qualquer outra coisa. A humildade, depois do primeiro choque, é uma virtude alegre: triste mesmo é o descrente arrogante, que tenta desesperadamente, a despeito das repetidas desilusões, reter sua 'fé na natureza humana'." - p. 78
"O que se aprende por tentativa e erro deve começar com a imperfeição, independentemente do caráter de quem começa." - p. 84
"(...) a simples existência do eu - o mero fato de chamar 'Eu' - inclui, desde o princípio, o perigo da idolatria de si mesmo." - p. 92
"O que o homem perdeu na Queda foi sua natureza original específica (...). Ao organismo como um todo, que fora alçado ao de um ser espiritual, foi concedido decair novamente à condição de simplesmente natural da qual ao ser criado, havia sido elevado (...). Assim, o espírito humano, de senhor da natureza humana passou a ser um simples hóspede em sua própria casa, ou até mesmo um prisioneiro." - p. 93,94
"O que realmente ocorreu foi uma alteração radical de sua constituição [do homem], um distúrbio da relação entre as partes que o compunham e uma perversão interna de uma delas." - p. 95
"Daí a necessidade de morrer diariamente: por mais que julguemos ter destruído aquele 'eu' rebelde, ainda o encontraremos vivo." - p. 104
"E o sofrimento não é só o mal imediatamente reconhecível, mas o mal impossível de se ignorar." - p. 105
"Deus nos sussurra em nossos prazeres, fala em nossa consciência, mas brada em nosso sofrimento. O sofrimento é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo." - p. 105,106
"(...) as coisas mais repulsivas na natureza humana são perversões de características boas e inocentes." - p. 107
"Não resta dúvida de que o sofrimento, na forma de megafone de Deus, é um instrumento terrível, pois pode levar à rebelião definitiva e sem arrependimento. Ele propicia, contudo, a única oportunidade que o homem mau pode ter para se emendar. Ele retira o véu ou finca a bandeira da verdade na fortaleza da alma rebelde." - p. 108
"Se a primeira operação do sofrimento, a inferior, dissipa a fantasia de que está tudo bem, a segunda despedaça a ilusão de que o que temos, independentemente de ser bom ou mau em s mesmo, é nosso e nos basta." - p. 108
"'Temos tudo o que queremos' é uma frase terrível quando 'tudo' não O inclui." - p. 109
"Enquanto o que chamamos 'nossa vida' continuar satisfatório, não o entregaremos a Ele." - p. 109
"é lamentável arriarmos a bandeira e nos render a Deus quando o barco já está afundando. É lamentável dirigirmo-nos a Ele como o último recurso, ofertar 'o que nos pertence' quando isso não é mais digno de ser conservado." - p. 110
"Dificilmente será lisonjeiro para Deus que O escolhamos como alternativa para o Inferno: no entanto, até isso Ele aceita." - p. 110
"Se Deus (...) não nos aceitasse enquanto não chegássemos a Ele impulsionados pelos mais puros e melhores motivos, quem poderia ser salvo?" - p. 111
"Os perigos da aparente auto-suficiência explica por que Nosso Senhor considera os vícios dos fracos e dissolutos de maneira tão mais tolerante que os vícios que levam ao êxito mundano. As prostitutas não correm o risco de achar a vida que têm satisfatória a ponto de não poderem se voltar para Deus. Já o orgulhoso, o avarento e o hipócrita estão correndo perigo." - p. 111
"A vontade de Deus é determinada por Sua sabedoria, a qual sempre percebe,e por Sua bondade, que sempre acolhe, o intrinsecamente bom." - p. 113
"(...) ao obedecer, a criatura racional conscientemente desempenha seu papel de criatura, inverte o ato pelo qual decaímos, executa os passos da dança de Adão ao contrário e faz o caminho de volta." - p. 114
"A vontade humana torna-se verdadeiramente criadora e verdadeiramente nossa quando é inteiramente de Deus, e esse é um dos muitos sentidos pelos quais aquele que perde sua alma a deverá encontrar." - p. 115
"O Cristianismo ensina-nos que a terrível tarefa já foi em certo sentido realizada para nós, que a mão de um mestre segura a nossa enquanto tentamos traçar as letras difíceis e que nosso roteiro precisa ser apenas uma 'cópia', não um original." - p. 117
"(...) o sofrimento não é bom em si mesmo. O que é bom em toda experiência do sofrimento é, para o sofredor, sua submissão à vontade de Deus e, para os espectadores, a compaixão despertada e os atos de clemência a que ela conduz." - p. 126
"Pois com certeza você realizará os propósitos de Deus, independentemente de seus atos, mas para você faz diferença se está servindo como Judas ou como João." - p. 126
"Se você fizer o serviço dele [de Satanás], também deverá estar preparado para receber o respectivo salário." - p. 127
"'O que quero é submeter o que quero à vontade de Deus.'" - p. 129
"Depois de um erro, você precisa não apenas eliminar as causas (...), mas de corrigir o próprio erro." - p. 132
"Se a felicidade de uma criatura está na renúncia de si mesma, ninguém pode fazer essa renúncia, a não ser ela mesma (embora muitos possam ajudá-la a fazer isso), como também ela pode recusar-se a isso." - p. 134
"Entrar no céu é tornar-se mais humano do que jamais se conseguiu ser na Terra; entrar no interno é ser banido da humanidade." - p. 141
"Ser um homem completo significa ter as paixões obedientes à vontade e a vontade ofertada a Deus: ter
sido um homem - ser um ex-homem ou um 'fantasma condenado' - presumivelmente significa consistir em uma vontade inteiramente concentrada em seu eu e em paixões totalmente incontroláveis pela vontade." - p. 141
"(...) uma consequência da queda do homem foi que sua animalidade retrocedeu da humanidade a que fora elevada, mas sobre a qual não se podia mais ter domínio." - p. 152
"É seguro dizer aos puros de coração que eles verão a Deus, pois só os puros de coração querem vê-lo" - p. 162
O amor, por definição, busca usufruir aquilo que é objeto de seu amor." - p. 162
"Será que as amizades que duram a vida toda não nascem no momento em que você finalmente encontra outro ser humano que tenha alguma noção (embora tênue e incerta, mesmo no melhor dos casos) daquilo que você nasceu desejando e que, sob o fluxo de outros desejos e em todos os silêncios momentâneos entre as paixões mais estrondosas, noite e dia, ano após ano, da infância até a velhice, você procura, espera e ouve?" - p. 163
"Pois não é a humanidade em teoria que deve ser salva, mas você - o leitor individual, fulano ou beltrano." - p. 165
"Deus, contudo, olhará para cada alma como a seu primeiro amor porque Ele é seu primeiro amor, e seu lugar no céu parecerá ser feito para você, e só para você, porque você foi feito para ele - ponto por ponto, como a luva é feita para a mão." - p. 165
"Às vezes, o cenário do cotidiano parece-nos grande com seus segredos." - p. 166
"Se todos conhecessem a Deus da mesma forma e lhe oferecessem em troca um culto idêntico, a canção da Igreja em triunfo não seria sinfonia, seria como uma orquestra em que todos os instrumentos tocassem a mesma nota." - p. 168
"(...) a alma é apenas um vazio que Deus preenche." - p. 169
"Do mais alto ao mais baixo, o eu existe para que dele se abdique e, por meio dessa abdicação, tornar-se eu de maneira mais verdadeira, para ser, logo em seguida, no entanto, o mais abdicado, e assim eternamente." - p. 170
"O sofrimento propicia uma oportunidade para o heroísmo, e essa oportunidade é aproveitada com frequência surpreendente." - Dr. R. Havard, citado na p. 175