sexta-feira, julho 29, 2011

O desempregado agraciado

"E por que me chamais: Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos mando?" - Lc 6:46

Havia um homem desempregado que nunca deu muito valor aos estudos. Não chegou a concluir o Ensino Fundamental I e lia muito pouco, era um semi-analfabeto.

O dono de uma grande empresa (talvez a maior existente no país) passou por ele e resolveu dar-lhe o cargo mais importante da empresa abaixo dele, a despeito de suas qualificações.

O desempregado hesitou um pouco, mas por ser uma proposta irresistível (e na verdade a única possível) ele aceitou.

O dono custeou os estudos do ex-desempregado, e o treinou para suas atribuições. Transformou, inclusive, seu guarda roupa.

O agora empregado sabia que seria praticamente impossível fazer algo que pudesse pagar o favor que seu novo chefe o tinha concedido.

Um dia, porém, depois de acostumado com esse favor, o empregado resolveu fazer o que achava mais conveniente. O chefe, ao chamar a atenção do empregado, foi interrompido por ele: "Mas senhor...". Ao que o chefe lhe respondeu: "E por que me chama de senhor, se você não faz o que eu mando?"

O empregado, que naquele momento poderia ter se tornado um desempregado de novo (o que não aconteceu devido à bondade do chefe) entendeu que era impossível ser considerado praticamente o filho do dono da empresa, se não houvesse mudança de postura por parte dele.

O favor que ele recebera, sem nenhum mérito, exigia uma postura de obediência e agradecimento ao seu chefe.

quarta-feira, julho 27, 2011

A morte de John Stott



Aproveitar que hoje é dia de frases para dizer algo sobre a perda do John Stott, brilhante escritor.

John Stott é conhecido como um grande teólogo e escritor do século XX, e entre suas obras encontram-se "Por que sou cristão?", "Ouça o espírito, ouça o mundo", "Cristianismo básico" e "Crer é também pensar".

Ele foi um dos principais autores do Pacto de Lausanne, de 1974, e foi considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

John Stott morreu na manhã de hoje, aos 90 anos e três meses, por complicações devido à idade avançada.

Mas para mim esses dados não são suficientes para dizer a perda que esse autor significa para mim. Há alguns dias me lamentei pela morte da Amy Winehouse, a jovem cantora britânica que morreu no último final de semana. O interessante é que é desnecessário eu fazer essa explicação, enquanto o que disse acima sobre John Stott é uma grande novidade para muitos.

A morte de Amy me deixou triste pela vida perdida dela, porque ela se perdeu em meio à vida de devassidão que levava. A morte de Stott deixa um espaço na alma, porque ele me faz falta enquanto escritor. Há alguns meses li a triste notícia de que seu último livro havia sido lançado, mas ao mesmo tempo fico inspirada. Afinal, se Stott só se aposentou aos 90 anos, eu posso chegar lá.

Meu pastor, o pr. Lucinho, sempre diz que quando um grande nome do meio cristão falece, significa que nossa missão e responsabilidade na terra aumentam. E hoje, com a morte de Stott, sinto mais do que nunca o peso dessa frase. Está certo que eu ainda não sou escritora, com livro escrito, mas sei que essa é minha missão. E sem Stott eu devo me mobilizar mais.

Stott me ajudou muito na faculdade, quando li pela primeira vez os livros "Por que sou cristão?", uma resposta ao livro "Por que não sou cristão?", de Bertrand Russel. O livro de Stott me auxiliou muito, mesmo que meu curso não tenha sido daqueles onde se fala contra o cristianismo. Na época da faculdade li também "Crer é também pensar", que fez minhas convicções ficarem ainda mais claras e fortes.

O fato é que ele fará falta. Mas agora deve estar batendo um papo cabeça com Lewis, Wilkerson e tantos outros que já partiram para a eternidade.

John Stott (1921-2011)

sexta-feira, julho 22, 2011

Pecados expostos

"E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testemunhava: Ele me disse tudo quanto tenho feito." - Jo 4:39

Ninguém gosta de ter seus erros expostos. Ainda que uma crítica produtiva nos ajude a melhorar, a verdade é que preferimos não errar ou, ao menos, que nossos erros não sejam expostos.

No trecho acima lemos o início do desfecho da história da mulher samaritana que havia tido cinco maridos e se encontrava amasiada quando Jesus foi conversar com ela.

Jesus, como israelita e homem, nem ao menos deveria ter dirigido a palavra a ela, pois, além de mulher, era samaritana e, portanto, uma das pessoas mais indignas da sociedade da época. Mas foi porque Ele falou, e expôs os pecados dela, apresentando a solução para livrar-se deles, que ela creu nEle, como pudemos ver no trecho destacado.

Apesar dos milênios que se passaram, a situação não é diferente conosco. Afinal Cristo, o próprio Deus, se rebaixou à condição de criatura, de humano, para que tivéssemos acesso à salvação.

Quando o Espirito Santo nos leva a entender essa mensagem de boas novas somos convencidos de que somos pecadores indignos de reconciliação com o Deus que não aceita nada menos que plena justiça para se achegar a Ele. Portanto, nada além da graça de que o próprio Deus pague o preço que exige para a nossa salvação pode nos levar para a vida eterna.

É por esse motivo que os salvos se alegram por terem seus pecados expostos por Deus, já que é a razão de recebermos a graça da salvação e termos nossos pecados perdoados e esquecidos por Ele.

Quando reconhecemos o quão ruim somos percebemos que apenas por ação da vontade dEle - e não por mérito nosso - podemos ser salvos. Nada mais além da graça.

sexta-feira, julho 15, 2011

Crendo sem ter fé

                               

"Imediatamente o pai do menino clamou: Eu creio! Ajuda-me na minha incredulidade." - Marcos 9:24

A frase de fé mais sincera do mundo - é o que essa frase representa para mim. O pai desse menino da história bíblia teve sua fé colocada à prova. Ele pede a Jesus que, se puder, cure seu filho, que sofre convulsões há muito tempo. Jesus então diz a famosa frase que muitos usam sem ler o contexto: "Tudo é possível ao que crê."

Imagino o que está se passando na cabeça desse pai nesse momento:

"Bem, eu não sei ao certo se Ele pode curá-lo. Ele é Jesus, é claro que pode curá-lo! Eu já o vi curando muitas pessoas, porque não meu filho? Mas são tantos anos, tantas tentativas em vão de vê-lo curado, será que vai dar certo? Bem, ele me disse que tudo é possível àquele que crê..." Então ele diz: "Eu creio! Me ajude com minha falta de fé".

É como se ele estivesse dizendo: "Jesus, eu vi você fazendo isso antes, e eu quero crer que isso é possível, mas não sei se consigo suportar mais uma decepção, mais uma falsa esperança. Eu creio no seu poder, mas me ajude com a minha incredulidade!"

Muitos tentam ser super-heróis do cristianismo, achando que tem que acreditar que tudo será perfeito em sua vida. Se um problema surgir, é só crer, porque "tudo é possível" ao que crê.

Por muitos anos eu tentei viver assim, mas a cada milagre não ocorrido, a cada pessoa que morria, eu me sentia culpada, me sentia menos cristã, achava que talvez nem para o céu eu iria, porque não tinha fé suficiente para mudar os problemas da minha vida.

Quando li esse versículo atentamente vi que Jesus não requer uma fé de super-herói, Ele não quer que creiamos sem termos fé, Ele quer passos de fé. Ele quer que creiamos nele, mesmo que estejamos inseguros. Pode ser que os milagres aconteçam ou não, mas a graça dele sempre estará conosco.

A vida cristã não é isenta de problemas, mas Ele está conosco - e Ele venceu o mundo.

terça-feira, julho 12, 2011

O pai da fé

"Pela fé Abraão, quando Deus o pôs à prova, ofereceu Isaque como sacrifício. Aquele que havia recebido as promessas estava a ponto de sacrificar o seu único filho,embora Deus lhe tivesse dito: 'Por meio de Isaque a sua descendência será considerada'.Abraão levou em conta que Deus pode ressuscitar os mortos; e, figuradamente, recebeu Isaque de volta dentre os mortos." - Hebreus 11:17-19

Abraão é conhecido em todo meio cristão como o "pai da fé". Isso se deve ao fato de, principalmente, ele ter aberto mão de seu único filho em um sacrifício que o próprio Deus o impediu de concretizar.

Mas será que estamos conscientes sobre o que significou essa atitude de Abraão?

Isaque era a promessa de Deus para Abraão que, por meio de sua descendência, Deus encheria a Terra. 

Tanto se fala hoje da promessa de Deus, e eu creio que Ele não muda suas promessas. Deus tinha prometido a ele que por meio de Isaque uma grande nação se ergueria. Ao prontamente decidir obedecer a Deus e sacrificar seu único filho, ele estava abrindo a mão da promessa que Deus havia feito. 

Em uma sociedade evangélica onde se fala em tomar posse da promessa, não é tarefa fácil abrir mão dela. Mas Abraão disse pra Deus com suas atitudes que Ele era o que mais importava, e não Suas promessas. 

Oro para que Deus me dê, dia a dia, essa fé. Quero crer em Deus por quem Ele é, e não por aquilo que Ele pode me oferecer. E, mesmo que Ele me ofereça, quero estar disposta a abrir mão disso também. A graça de Jesus, que recebi pela salvação e que se mostra presente em todos os dias da minha vida, me basta.

segunda-feira, julho 11, 2011

O diário de Lot - O homossexual

"Portanto, você, que julga, os outros é indesculpável; pois está condenando a si mesmo naquilo em que julga, visto que você, que julga, pratica as mesmas coisas."

Estava me dirigindo ao local de reunião daqueles que acreditam no Autor, quando um rapaz me parou. Ele tinha uma feição tão triste que era impossível não notar que ele não estava bem. O líder de jovens havia me convidado para dar uma palavra na reunião, por isso não podia me atrasar. O rapaz insistiu que precisava conversar comigo por alguns instantes. O nome dele era Timóteo.

T: Desculpe, eu sei que você está atrasado. Todos estão. Mas é que eu preciso de alguém que me escute, nem que seja por um segundo.
L: Já que é por um segundo então tudo bem (eu sorri, e ele acompanhou o sorriso, embora tenha sido um sorriso amarelo).
T: Eu só preciso conversar com alguém, e acho que já ouvi falar de você...você é o Lot, certo?
L: (eu ainda não tinha me acostumado com pessoas estranhas me reconhecendo, mas eu respondi) Sou eu mesmo. Em que posso ajudar amigo?
T: Bem, pensando melhor, não quero te atrapalhar. Posso ir com você onde está indo, e depois a gente conversa?
L: Claro! - e seria mesmo uma excelente ideia, já que eu poderia, quem sabe, ajudá-lo por aquilo que iria falar na reunião.
T: Ótimo. Onde você está indo?
L: Para uma reunião de jovens, logo ali na frente.
T: Bem...nesse caso acho melhor esperar aqui fora, caso não se importe.

Eu já estava acostumado com algumas coisas, então disse que poderia ser muito bom que ele entrasse, que poderia ajudá-lo. Ele ainda ficou hesitante e preferiu não entrar, prometendo que me esperaria lá fora, quando terminasse.

Ao terminar a reunião Timóteo estava lá, no mesmo lugar, e então fomos conversando no caminho.

T: Desculpa eu não ter entrado, pude ouvir que foi você quem falou, mas eu não poderia entrar ali, não me sinto bem nesses lugares.
L: Tudo bem, mas então fale, em que posso te ajudar?
T: Então...eu...como posso dizer...minha mãe segue esse Autor aí que você tanto fala. Eu fui criado em lugares desses. Meus pais são divorciados e quando adolescente resolvi que isso não era pra mim, então fui morar com meu pai. E lá pude admitir...assumir...eu sou gay. Meu pai é um excelente pai, e minha mãe também sempre foi excelente mãe, não tive nenhum trauma, como se ouve falar por aí. Eu sei lá, só acho que nasci assim. O problema, na verdade, não é esse. Hesitei muito pra falar porque você é seguidor desse Autor, então achei que não me receberia bem, mas ouvi dizer também que você tem algo de diferente dos demais. O fato é que, eu não quero deixar de ser gay, estou feliz assim. Mas tem me incomodado que por causa disso meus pais, que se divorciaram há muitos anos, começaram a brigar. Eles se divorciaram porque viram que se casar só porque eu tinha nascido não foi uma boa escolha. Terminaram amigos, e hoje estão em pé de guerra. Por isso me sinto culpado, imensamente culpado, de tudo que acontece com eles.
L: Calma, muita informação para processar ao mesmo tempo. Ok, deixa eu ver se eu entendi. Você é gay, não ligava pra isso até que isso afetou uma relação amistosa que seus pais tinham, certo? Mas me explique uma coisa. Você disse que foi pra casa do seu pai enquanto adolescente, e que lá mesmo se assumiu. Então porque isso está te incomodando só agora?
T: Eu não estou me relacionando com ninguém, mas meu pai e eu ficamos felizes de que a união homossexual estável foi aprovada, e eu fiquei chateado porque minha mãe disse que aquele projeto de lei é contra tudo que é certo. E ela nem sabe do que se trata o projeto. E eu comentei com meu pai. E aí começou a briga.

Eu tinha que pensar muito sobre como me posicionar sobre o assunto, por isso fiquei calado por alguns instantes. Afinal, eu conhecia o projeto de lei e era contra ele também, não pelo motivo pelo qual a maioria dos seguidores do Caminho eram, mas porque feria o direito constitucional que eu tenho de me expressar. E eu não era conivente com o homossexualismo, como muita gente andava me acusando desde que falei sobre esse assunto uma vez numa reunião, mas, apesar de saber que eles estavam errados, eram simplesmente pessoas que estavam fora do caminho, como tantas outras, como os mentirosos, os invejosos, os cobiçadores...ao mesmo tempo, me incomodava o fato de que estava se formando uma "ditadura homossexual", onde o errado na sociedade parecia ser o heterossexual. E ainda me incomodava a hipocrisia de ambas as partes. Dos que não seguiam o Caminho, e falavam que estava tudo bem (até que isso atingisse a família deles) e dos seguidores do Caminho, que queriam apedrejar os homossexuais como a pior raça de pessoas que pudesse existir. Era um discurso desiquilibrado dos dois lados. E como expressar o amor que o Autor me ensinara àquele rapaz? Foi por isso que mantive silêncio durante algum tempo.

L: Desculpe a demora, estava refletindo sobre algumas coisas. Eu vou dizer algumas coisas, e você vai me prometer ouvir até o fim, ok?
T: Ok.
L: Eu não vou dizer que eu acho o que você está fazendo com sua vida algo correto. Também não vou dizer que você não merece conhecer o Autor por causa disso. O Autor, ao contrário do que tenham pintado para você a respeito dele, é Amor. Entende isso? Ele é o amor, Ele não tem amor, Ele é o amor. E ele também é justo. E por ser justo todos os nossos erros cheiram mal para Ele, cheiram como carniça. Carniça acumulada há dias. Todos os nossos erros, seja meu erro de às vezes mentir, seja seu erro de se relacionar com alguém com o qual não foi feito para se relacionar, são desagradáveis a ele. Eu sei que não é por isso que você veio me procurar, mas é minha obrigação dizer. Então, como esses erros são nojentos para Ele, não podemos nos aproximar dEle. Mas Ele é amor, como eu havia falado. E, por ser o amor, Ele quer que estejamos com Ele. Como Ele resolveu esse dilema? Ele se tornou homem como nós e morreu em nosso lugar. Nós merecíamos a morte, mas Ele pagou o preço por todos nós. E, por isso, e apenas por isso, não porque somos bonzinhos ou fazemos coisas boas, podemos ter acesso a Ele. E quando o conhecemos ainda erramos, mas não como prática de vida, mas como acidentes de percurso. Talvez a indignação de sua mãe seja por isso, talvez seja porque ela levou tudo como ofensa pessoal. Não tem como eu dizer, porque não a conheço. Talvez tenha sido um desabafo de mágoa. Esse projeto de lei tem um problema, caro amigo Timóteo. Ele fere o direito de liberdade de expressão, que está garantido na constituição. Ele não ser aprovado não significa que você perdeu seus direitos, mas que todos nós deixamos de perder esse direito de livre expressão. Se esse projeto fosse aprovado o simples fato de eu ter falado tudo isso para você poderia me levar à prisão. E eu posso discordar de você, sem te ofender, concorda?
T: Sim, mas...
L: Calma, hehe, eu sei que é muita coisa, mas aguarde eu terminar. Eu entendo porque você não quis entrar comigo naquela reunião. Os seguidores do Caminho têm se preocupado mais em julgar do que em receber com o amor com o qual fomos recebidos. Eu reconheço essa falha. E eu não me importo com o que você fez até agora, estou pronto para me tornar seu amigo. Mesmo que você decida não mudar. Eu prefiro que você mude porque sei que será melhor para você, que você siga o curso biológico natural a você, como homem. Mas mesmo que decida não fazer isso posso ser seu amigo. E mais, você pode ir lá, se alguém te julgar, eu mesmo me encarrego de chamar a atenção dessa pessoa. Mas eu sinceramente não tenho como intervir em sua família. Aja com amor, tanto em relação ao seu pai como em relação à sua mãe. Já que mora com seu pai, tente conversar com ele, para ele relevar. Tente mostrar para sua mãe que você a ama.
T: Eu não sei bem o que dizer Lot. Eu realmente não esperava ouvir nada disso. Vi você resolvendo tantos problemas (ou melhor, ouvi falar dos problemas que você resolveu), que eu simplesmente esperava que você fosse lá e resolvesse tudo. Eu conheço o Caminho. Eu sei que não estou totalmente certo. Mas eu sou assim, não posso mudar quem eu sou. E se isso não é bom o suficiente pra Ele, que Ele não me fizesse assim.
L: Você sabia que há estudos comprovando que muitas pessoas têm tendência a serem violentas? É natural delas. Na mente delas passam crueldades que nós jamais poderíamos imaginar. Mas porque não há tantos psicopatas por aí? Porque essas pessoas conseguem suprimir esse desejo pelo mal. Algumas não conseguem por si próprias, mas encontram forças no Autor. Desde que o ser humano errou pela primeira vez ele tende a continuar errando. Somos maus por natureza. Cada um com seu tipo de maldade. Mas cabe a nós entregar essa  natureza errante para Ele, para que Ele viva em nós, e então, por não vivermos mais nós mesmos, mas Ele, tenhamos uma vida que O agrada.
T: O que você está me dizendo é que é só eu dizer que aceito assim, como se fosse um presente, tudo que Ele fez por mim, e então eu vou mudar de vida, porque Ele próprio vai mudar? Por que então Ele mesmo não me muda de uma vez?
L: Ele não é intrometido. Se nós não aceitarmos o convite, Ele não entra em nossas vidas. Mas uma vez aceito o convite, nós somos impelidos a viver em eterna gratidão a Ele, por isso tentamos agradá-lo o tempo todo.
T: Lot, vou ser sincero. Até agora nunca ouvi nada de ninguém de...me perdoe pelo termo...ninguém de sua laia, porque sempre foram muito agressivos comigo. Eu, como gay, concordo que até mesmo os protestos têm sido exagerados. Mas foi uma manifestação que estava presa há muito tempo e, já que a sociedade agora nos aceita melhor, resolvemos expressar. Apenas queremos que essas pessoas entendam que somos seres humanos como elas, não pessoas do mal. Pessoas que querem destruir a família delas. Eu não sei se posso mudar de vida. Eu sou assim, eu nasci assim, mas pela primeira vez alguém me mostrou que essa Mensagem pode ser bonita e receptiva, e não acusatória.
L: Eu admito, com muito pesar Timóteo, que eu sei que é verdade. Mas eu não tenho medo de dizer que te amo, só porque podem me chamar de gay. Eu te amo porque eu sei que o Autor te ama, e sei que essas pessoas acabam demonstrando que Ele te odeia, mas não é verdade. Ele odeia nossos erros, de todos nós, não só os seus. E por Ele te amar tanto, Ele quer que você entregue sua vida nas mãos dEle, porque ninguém mais pode saber cuidar melhor que Ele da sua vida, já que foi Ele quem te criou.
T: Eu acho que talvez eu consiga apaziguar tudo em casa de uma outra forma. Eu acho que posso tentar aceitar esse amor dEle. Mas eu tenho medo de entrar num lugar desses Lot. Eu me sinto a pior pessoa do mundo em meio a um bando de santos perfeitos.
L: Eu não posso expressar o tanto que estou feliz com essa sua decisão. Como eu disse, muitas pessoas não sabem lidar com os pecadores, porque elas mesmas se esqueceram de onde foram tiradas. E acham que somente seguir no Caminho, sem levar ninguém com elas, é o suficiente. Não posso julgar, mas acho até que muitas dessas pessoas nem sabem o que é o Caminho.

Passaram-se algumas horas e alguns quilômetros desde que Timóteo e eu começamos a conversar. Ele chegou em casa e conversou com seu pai sobre tudo que tinha acontecido. O pai dele ficou muito feliz, ele disse, e resolveu que valia à pena ver que Caminho era esse. Foram juntos à reunião onde sua mãe ia, e ela chorou de alegria. Eles (mãe e filho) começaram um trabalho para levar o amor a pessoas como ele.

Alguns anos se passaram sem que eu tivesse notícia de Timóteo, até que um dia recebi em casa um convite de casamento. E era um casamento duplo. Os pais de Timóteo se casaram novamente e no mesmo dia ele se casaria com uma moça que tinha conhecido nesse lugar. Na carta em anexo ele me contou que ainda lutava com seus desejos homossexuais eventualmente, mas que amava aquela moça como jamais imaginou amar alguém. E não via a hora de ser pai, algo que ele poderia ser legitimamente agora.

É claro que a situação não mudou, e os "santos" continuavam julgando os "impuros". Mas o trabalho que a mãe de Timóteo, ele, e agora a sua esposa e seu pai, desenvolviam, mudou a vida de muitos jovens como ele. São apenas pingos no oceano, mas o que seria do oceano se não houvesse cada um daqueles pingos, não é mesmo?

sexta-feira, julho 08, 2011

Perder a vida por Cristo


"Pois quem quiser preservar sua vida, irá perdê-la; mas quem perder a vida por causa de mim e do evangelho irá preservá-la" - Mc 8:35

O versículo acima é muito utilizado para falar de sofrimento, da igreja preserguida principalmente. Mas você já pensou que pode ter uma verdade para nós também, da igreja livre, nesse trecho?

Perder nossa vida não significa perder a vida no sentido literal, apenas.

Perder a vida por Cristo é saber que você pode perder seu status em seu antigo grupo social.

Perder a vida por Cristo significa perder a vida antiga que você tinha.

Perder a vida por Cristo significa abrir mão de todos os seus sonhos e entregá-los nas mãos dEle.

Perder a vida por Cristo é ter a segurança de não ter segurança alguma.

Perder a vida por Cristo é saber que suas decisões não são mais feitas pela sua vontade, mas submetê-las à vontade dEle.

Parece radical?

Mas ao perder nossas vidas por Cristo nós a ganharemos de volta.

Nós teremos nossa personalidade restaurada e melhorada.

Nós não iremos querer nossa antiga vida de volta, pois saberemos que ela não era, de fato, vida, mas sim morte.

Nós teremos a certeza de que nossos sonhos serão realizados, dentro da vontade de Deus.

Nós teremos a segurança de estarmos nEle.

Nós saberemos que a vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável, será cumprida em nossas vidas. E isso é melhor do que qualquer coisa que desejaríamos.

quarta-feira, julho 06, 2011

Anotações de "O evangelho maltrapilho"

Brennan Manning


"Dito sem rodeios: a igreja evangélica dos nossos dias aceita a graça na teoria, mas nega-a na prática (...). De modo geral o evangelho da graça não é proclamado, nem compreendido, nem vivido. Um número grande  demais de cristãos vive na casa do temor e não na casa do amor." - p. 16

"Deus tem um único posicionamento inflexível com relação a nós: ele nos ama. Ele é o único Deus jamais conhecido pelo homem que amou os pecadores." - p. 20

"Deus não apenas me ama como eu sou, mas também conhece como sou. Por causa disso não preciso aplicar maquiagem espiritual para fazer-me aceitável diante dele. Posso reconhecer a posse de minha miséria, impotência e carência." - p. 23

"Há um toque de vaidade nos santos dos homens e mulheres. Não há razão para negar. E eles sabem que a realidade morde, se não for respeitada." - p. 24

"Viver pela graça significa reconhecer toda a história da minha vida, o lado bom e o lado ruim." - p. 25

"A Boa Nova no evangelho da graça grita em voz alta: somos todos mendigos, igualmente privilegiados, mas não-merecedores, às portas da misericórdia de Deus." - p. 26

"As crianças são nosso molde porque não têm qualquer pretensão ao céu." - p. 27

"Nunca confunda sua percepção de você mesmo com o mistério de que você é realmente aceito." - p. 28

"Ao olharmos para cima ficamos surpreendidos por encontrar os olhos de Jesus abertos em assombro, profundos em compreensão e gentis em compaixão." - p. 28

"Jesus vem para os profanos, até mesmo no domingo de manhã. A sua vinda dá um fim ao que é profano em nós e nos faz dignos." - p. 29

"Somos enamorados e encantados pelo poder de Deus. Gaguejamos e hesitamos diante da santidade de Deus. Trememos diante da majestade de Deus...e apesar disso mostramo-nos melindrosos e reassabiados diante do amor de Deus." - p. 35

"Não devemos jamais permitir que a autoridade de livros, instituições ou líderes substituam a autoridade de conhecer Jesus Cristo pessoalmente e diretamente." - p. 44

"Em essência, há uma única coisa que Deus pede de nós - que sejamos (...) gente para quem Deus seja tudo e para quem Deus seja suficiente." - p. 46

"Temos paz quando o Deus gracioso é tudo que buscamos. Quando começamos a buscar qualquer coisa além dele, nós a perdemos." - p. 46

"A aceitação do eu não implica em resignar-me com o estado das coisas. Ao contrário, quanto mais plenamente aceitamos a nós mesmos, mais começamos a crescer de forma bem-sucedida. O amor é um estímulo muito superior à ameaça e à pressão." - p. 49

"O céu estará repleto de gente com cinco anos de idade." - p. 65

"(...) o arrependimento não é o que fazemos para obter o perdão, é o que fazemos porque fomos perdoados." - p. 75

"Quando, porém, aceitamos a posse de nossa impotência e nosso desamparo, quando reconhecemos que somos miseráveis à porta da misericórdia de Deus, então Deus pode fazer algo de belo de nós" - p. 79

"Os pobres de espírito são as menos condenatárias das pessoas; convivem bem com pecadores." - p. 81

"Como é difícil ser honesto, aceitar que sou inaceitável, abrir mão da autojustificação, renunciar à pretensão de que minhas orações, meu discernimento espiritual, meus dízimos e meus sucessos no ministério fizeram-me  agradáveis para Deus. Nenhuma beleza preexistente  me faz atraente a seus olhos. Sou amável apenas porque Deus me ama." - p. 85

"Quando damos a qualquer coisa mais prioridade do que damos a Deus, cometemos idolatria. Portanto, todos cometemos idolatria incontáveis vezes ao dia." - p. 85

"A honestidade não nos distancia de Deus, mas nos leva de arrasto para ele - como nenhuma outra coisa consegue fazer - e nos deixa abertos para o fluir da graça (...). É através da graça apenas que qualquer um de nós pode ousar esperar tornar-se mais como Cristo." - p. 87

"Você deve estar convencido disso, deve confiar nisso e não deve jamais esquecer de lembrar disso. Todo o restante passa, mas o amor de Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente. A fé se tornará visão, a esperança se tornará possessão, mas o amor de Jesus Cristo, que é mais forte do que a morte, permanecerá para sempre. No final, é a única coisa à qual você pode se apegar." - p. 88

"Poetas foram sempre mais importantes e influentes que teólogos e bispos." - p. 96

"O amor humano, com toda a sua paixão e emoção, é um tênue eco do amor paixão/emoção de Iavé" - p. 102

"O amor explica a feliz irracionalidade da conduta de Deus." - p. 102

"Injusto? No nosso modo de pensar, sim. Graças a Deus! Estou maravilhosamente satisfeito com um Deus que não me trata como meus pecados mereciam." - p. 103

"A maior parte de nós adia uma decisão esperando que Jesus se canse de esperar e que a voz interior da Verdade acabe contraindo laringite." - p. 114

"A confiança que depende da resposta que obtém não é de fato confiança (...). Quando o anseio por tranquilizações é contido, a confiança acontece." - p. 116, 117

"A graça de abrir mão do controle e deixar Deus ser deus flui da confiança em seu amor sem limites." - p. 120

"O espírito de Caifás é mantido vivo em todos os séculos nos burocratas religiosos que condenam sem hesitação gente boa que quebrou leis religiosas ruins." - p. 140

"(...) como lido com gente normal em sua confusão normal num dia normal podem ser melhor indicação da minha reverência pela vida do que um adesivo contra o aborto preso ao pára-choque do meu carro." - p. 141

"É triste, mas é verdade: os cristãos querem ser escravos. É mais fácil os outros tomarem as decisões ou apoiar-se na letra da lei." - p. 146

"Nenhuma criancinha é incapaz de colorir mal; tampouco nenhum filho de Deus é de fazer uma oração ruim." - p. 155

"Se no nosso coração não cremos realmente que Deus nos ama como somos, se ainda estamos maculados pela mentira de que podemos fazer algo para que Deus nos ame mais, estamos rejeitando a mensagem da cruz." - p. 165

"[Palavras de Deus]Minhas palavras estão escritas no sangue do meu filho (...). Você entende que, motivado apenas pelo amor, seu Deus tornou-se seu escravo no cenáculo?" - p. 166,167

"A fé significa que você quer Deus e não quer querer mais nada." - p. 167

"Não se pode ser discípulo sem compromisso, e se há hoje em dia muitos discípulos hesitantes, o motivo é que não fizeram ainda um compromisso decisivo." - p. 171

"Deus nos quer de volta [quando pecamos e nos afastamos voluntariamente dele] mais do que jamais seríamos capazes de desejar voltar." - p. 172

"Ele não apenas requer que aceitemos sua espécie sua espécie inexplicável e embaraçosa de amor, mas, uma vez que o aceitamos, ele espera que nos comportemos do mesmo modo com os outros." - p. 173

"O cristão profundo é o cristão que fracassou e aprendeu a viver com isso." - p. 175

"O que fazemos com respeito ao senhorio de Jesus é melhor indicação da nossa fé do que pensamos. É isso o que o mundo quer da nossa retórica, o que o homem de Deus anseia nos pastores das ovelhas - ser ousado o bastante para ser diferente, humilde o bastante para cometer erros, selvagem o bastante para arder com o fogo do amor, real o bastante para que os outros vejam o quanto somos falsos." - p. 177

"Jesus foi vitorioso não porque nunca hesitou, respondeu asperamente ou questionou, mas porque, tendo hesitado, respondido asperamente e questionado, manteve-se fiel." - p. 182

"O que faz discípulos autênticos não são visões, êxtases, domínio de versículos e capítulos da Bíblia ou um sucesso espetacular no ministério, mas a capacidade de manter-se fiel. Fustigados pelos ventos volúveis do fracasso, surrados pelas suas próprias emoções rebeldes e machucados pela rejeição e pelo ridículo, os discípulos autênticos podem ter tropeçado e caído com frequência, experimentado lapsos e relapsos, ter se deixado algemar pelos prazeres da carne e se aventurado em territórios distantes. Mas permanecem voltando para Jesus." - p. 182, 183

"A trivialidade de nossa vida é mudo testemunho da surrada mobília de nossa alma." - p. 186

"O perdão de Deus é uma libertação gratuita da culpa. Paradoxalmente, a convicção da pecaminosidade pessoal torna-se ocasião para um encontro com o amor misericorioso do Deus redentor." - p. 187

"Sua vida [de Thomas More] é uma declaração atemporal - é possível viver-se nesse mundo de forma sóbria, honesta, não fanática, não pietista, séria e ao mesmo tempo jubilosa; fiel, Qual a mensagem da vida desse homem? Faça uma escolha radical na fé, a despeito de toda sua pecaminosidade, e sustente-a ao longo da vida diária com Cristo, o Senhor, e seu reino." - p. 192

"A fidelidade a Jesus implica que com todos os nossos pecados, cicatrizes e inseguranças, mantemo-nos de pé diante dele; que somos formados e informados pela sua Palavra." - p. 192

"No dia final, quando chegarmos à Grande Chalé no céu, muitos de nós estarão ensanguentados, fustigados, contundidos e mancando. Mas, por Deus e por Cristo, haverá uma luz na janela e uma placa de 'bem-vindo ao lar' na porta" - p. 194

"Depois de dois mil anos, o Corpo de Cristo permanece terrivelmente dividido em doutrina, história e vida diária (...). O Corpo da Verdade está sangrando de mil ferimentos." - p. 199

"Embora com nossa linguagem cristã continuemos louvando a Deus da boca pra fora, nosso modo de funcionar pressupõe a ideia de que Deus está morto ou em coma." - p. 199

"Afinal, o discipulado é uma vida de sublime loucura." - p. 199

"Nenhum mal pode resistir à graça para sempre." - p. 200

"Desde o dia em que Jesus apareceu em cena desenvolvemos vastos sistemas teológicos, organizamos igrejas de alcance mundial, enchemos bibliotecas de brilhante tradição cristã, engajamo-nos em controvérsias devastadoras e embarcamos em cruzadas, reformas e avivamentos. Ainda assim há pouquíssimos de nós com desatino suficiente para fazer a louca troca de tudo por Jesus, apenas um remanescente com a confiança de arriscar tudo no evangelho da graça; apenas uma minoria que cambaleia com a delirante alegria do homem que encontrou um tesouro enterrado." - p. 201

"Não tente sentir nada, pensar em nada, fazer nada (...). Não force a oração. Simplesmente relaxe na presença do Deus em que você meio que acredita e peça por um toque de desatino." - p. 203

"O segredo do mistério é: Deus é sempre maior. Não importa quão grande pensemos que ele seja, seu amor é sempre maior." - p. 206

"Minha única exortação - andemos juntos. Minha única oração - que Jesus Cristo nos converta ao desatino do evangelho." - p. 206

"A Bíblia é a história de amor de Deus com seu povo. Deus chama, persegue, perdoa e cura. Mesmo nossa resposta ao seu amor é dádiva dele." - p. 207

"Jesus é tão insuportavelmente perdoador, tão infinitamente paciente e tão infindavelmente amoroso que nos provê com os recursos que carecemos para vivermos vida de graciosa retribuição." - p. 208

"Não há maiores pecadores do que os supostos cristãos que desfiguram a face de Deus, mutilam o evangelho da graça e intimidam os outros através do medo. Eles corrompem a natureza essencial do cristianismo." - p. 208,209

"Os maltrapilhos não sentam-se para ser servidos; eles ajoelham-se para servir." - p. 213

"Eles [os maltrapilhos] sabem que qualquer declaração de independência da bondade dos outros é pura insensatez." - p. 214

"Inevitavelmente, a experiência pessoal de Jesus Cristo produz confiança (...). Sua segurança [dos que fazem isso] reside em não ter segurança nenhuma." - p. 215

"Apenas o maltrapilho compreende com acerto em que consiste a vida. Nenhum esforço é grande demais, nenhum empreendimento ousado demais, nenhum sacrifício doloroso demais por amor ao reino. O maior risco que ele poderia jamais correr é ainda ínfimo demais." - p. 216

"[Os maltrapilhos] Não são rápidos em dizer 'Deus me disse...' Ao longo de sua vida neste mundo, dão testemunhos proféticos sem proferirem uma palavra." - p. 216


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sexta-feira, julho 01, 2011

O sofrimento em "A imitação de Cristo"

A Imitação de Cristo é um livro que deveria ser livro de cabeceira de qualquer cristão (seja ele católico ou protestante), é tido como a mais importante obra da literatura cristã, depois da Bíblia. Normalmente atribuído a Tomás de Kempis, o livro enfatiza a vida espiritual,   afirma a comunhão como prática para fortalecer a fé e encoraja uma vida pautada no exemplo de Cristo.


Lendo essa obra-prima esses dias achei trechos muito interessantes, a respeito do sofrimento, e resolvi compartilhar com vocês. Segue: 



CAPÍTULO 29
Como, durante a tribulação, devemos invocar a Deus e bendizê-lo
    1. A alma: Senhor, bendito seja para sempre o vosso nome! Pois quisestes que me sobreviesse esta tentação e este trabalho. Não lhes posso fugir, mas tenho necessidade de recorrer a vós, para que me ajudeis e tudo convertais em meu proveito. Eis-me, Senhor, na tribulação, com o coração aflito; e quanto me atormenta o presente sofrimento. Pois que direi eu agora, Pai amantíssimo? Apertado estou entre angústias: "Salvai-me nesta hora. Veio sobre mim este transe, só para que vós fôsseis glorificado (Jo 12,17), quando eu estivesse muito abatido e fosse por vós livrado". "Dignai-vos, Senhor, livrar-me" (Sl 39,14); pois, pobre de mim, que farei e aonde irei, sem nós? Daí-me, Senhor, paciência ainda por
    2. esta vez. Socorrei-me, Deus meu, e não temerei, por mais que seja atribulado.
  1. E que direi em tamanha necessidade? Senhor, seja feita a vossa vontade. Bem mereço ser atribulado e angustiado. Convém-me sofrer, e oxalá seja com paciência, até que passe a tempestade e volte a bonança. Bastante poderosa é, entretanto, vossa mão onipotente para tirar-me esta tentação, e moderar-lhe a violência, a fim de que não sucumba de todo; assim como já tantas vezes tendes feito comigo, ó meu Deus e minha misericórdia. E quanto mais difícil para mim, tanto mais fácil para vós é esta mudança da destra do Altíssimo (Sl 76,11).
CAPÍTULO 30
Como se há de pedir o auxílio divino e confiar para recuperar a graça
  1. Jesus: Filho, eu sou o Senhor, que te conforta no dia da tribulação (Na 1,7). Vem a mim quando te achares aflito. O que mais te impede de receber a consolação é que tarde recorres à oração. Antes que ores com atenção, procuras consolar-te, recreando-te com vários divertimentos exteriores. Daqui vem que pouco proveito tiras de tudo, até que conheças que sou eu quem salva do perigo os que em mim esperam, e que fora de mim não há auxílio valioso, nem conselho útil, nem remédio durável. Uma vez, porém, que recobraste alento depois da tempestade, procura readquirir forças à luz das minhas misericórdias; pois estou perto, diz o Senhor, para tudo restaurar, não só com integridade, mas também com abundância e profusão.
  2. Porventura há para mim alguma coisa dificultosa (Jer 32,37), ou sou semelhante àquelas que dizem e não fazem? Onde está a tua fé? Tem firmeza e segurança! Mostra-te corajoso e magnânimo, e a seu tempo te virá a consolação. Espera por mim, espera! Virei e te curarei. É tentação o que te atormenta, é temor vão o que te assusta. Que ganhas com a solicitude de um futuro contingente, senão que tenhas tristeza sobre tristeza? A cada dia basta seu fardo (Mt 6,34). Coisa vã e inútil é entristecer-se ou regozijar-se com as coisas futuras, que talvez nunca venham a realizar-se.
  3. É próprio do homem deixar-se iludir por tais imaginações, mas é sinal de pouco ânimo ceder tão facilmente às sugestões do inimigo. A ele pouco importa se é por meios verdadeiros ou falsos que te seduz e engana, se é com amor dos bens presentes, ou com o temor dos males futuros que te deita a perder. "Não se perturbe, pois, teu coração, nem se amedronte" (Jo 14,27). Crê em mim, e tem confiança em minha misericórdia. Quando te julgas muito longe de mim, mais perto estou, às vezes, de ti. Quando pensas que está tudo quase perdido, muitas vezes está próxima a ocasião de granjeares maior merecimento. Nem tudo está perdido, por te acontecer alguma contrariedade. Não julgues pela impressão do momento, nem te aflijas com qualquer tribulação, venha donde vier, como se não houvesse esperança de remédio.
  4. Não te julgues inteiramente desamparado, ainda quando, de tempos a tempos, te mando alguma tribulação ou te privo de alguma consolação desejada; porque é este o caminho por onde se vai ao reino dos céus. E isto, sem dúvida, convém mais a ti e a todos os meus servos, serdes exercitados nas adversidades, do que se tudo vos sucedesse à vossa vontade. Eu conheço os pensamentos escondidos, e sei que muito importa à tua salvação seres, às vezes, privado de toda consolação espiritual, para que não te exalte o bom progresso e te desvaneças do que não és. O que dei posso tirar, e dar de novo, quando me aprouver.
  5. É sempre meu o que dou, e quando o tiro; não tomo coisa tua, pois "de mim procede qualquer dádiva boa de todo dom perfeito" (Tg 1,17). Se eu te enviar qualquer pena ou contrariedade, não te revoltes nem desfaleça teu coração; eu posso num momento aliviar-te e transformar tua mágoa em alegria. Todavia, procedendo eu assim para contigo, sou justo e digno de louvor.
  6. Se refletires bem e julgares as coisas segundo a verdade, não deves afligir-te tanto com a adversidade, nem desanimar, mas, ao contrário, alegrar-te e dar-me graças. Até deve ser tua única alegria que eu te aflija com dores, sem poupar-te. Assim como meu Pai me amou, também eu vos amo a vós (Jo 15,19), disse eu a meus diletos discípulos, e, entretanto, não os enviei às delícias temporais, mas às grandes pelejas, não às honras, mas aos desprezos, não aos passatempos, mas sim a produzir fruto copioso na paciência. Meu filho, lembra-te bem destas palavras. 
Bjim e fiquem com Deus!!

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