terça-feira, agosto 13, 2013

Mais que eu sonhava - a viagem pra Carolina do Norte e o festival Wild Goose

Bom, colocar o blog de volta à ativa com essa postagem e a próxima que se segue realmente me deixa muito feliz - primeiro, porque estou voltando a atualizar o blog (quem escreve sabe a angústia que é ficar meses sem nenhum texto novo) e segundo porque contar essa experiência aqui com certeza me deixa muito contente.

Eu vou contar essa história por meio de personagens - sejam eles lugares ou pessoas - porque com certeza essa viagem com a surreal experiência que eu tive, foi construída por meio de personagens muito importantes. Um deles, ou dois, Philip Yancey e sua esposa, Janet, vão ficar pro próximo post, porque são um capítulo à parte disso tudo, sem dúvidas.

Algumas considerações a serem feitas antes da introdução dos personagens: por ser um post extremamente pessoal, estou contando minha experiência, sem intenção nenhuma de causar nenhuma polêmica em nada que falar. O Festival Wild Goose é um festival cristão que tem como base a justiça social, igualdade e um espaço para promover arte e música cristãs.

Então vamos parar com a enrolação e começar nossa aventura:

GreyHound

Famosa linha de ônibus dos Estados Unidos. Minha host mother me sugeriu olhar o valor e, realmente, era muito mais barato que ir de avião. Super curti a ideia, porque poderia viajar e observar a passagem enquanto ainda tivesse luz do sol para tanto.

O interessante é que 90% dos passageiros eram negros, assim como no bairro onde a estação fica localizada. Como a maioria dos leitores desse blog deve saber, eu não estou nem perto de ser morena, haha. As pessoas me olhavam como se eu não pertencesse àquele lugar. No caminho de volta até sofri de um "racismo ao contrário" que nem vale à pena citar aqui.

Mas achei no mínimo interessante estar "do outro lado" e sentir literalmente na pele o que os negros sofrem por alguns momentos. Claro que foi uma parte bem superficial do processo. Sei que a situação dos negros, especialmente aqui nos EUA é ainda bem complicada. Sei que o racismo vai muito além do que vivi. Porém, como "imigrante" aqui também sei como funciona essa divisão de classes por aqui.

Tim Gosset

Conheci o Tim num evento criado no Facebook para o festival. Dividimos o carro que ele alugou junto com mais duas garotas.

Mas a história do Tim é tão fantástica, que não poderia deixar de citar. Em uma conferência de jovens, muitos anos atrás, Tim conheceu uma pessoa que o inspirou e incentivou a escrever. Mesmo sem nunca ter planejado se tornar escritor, ele hoje já tem alguns livros publicados e escritor se tornou uma das carreiras que ele tem.

Ele é casado. Tentaram engravidar por alguns anos mas, sem sucesso, partiram para tentar a adoção. Queriam adoção internacional como a maioria dos americanos, já que o processo para adoção local nos EUA é complicado e às vezes o governo pode simplesmente decidir devolver a criança para os pais biológicos, uma vez que esses se recuperem de vícios ou prostituição.

Enfim, tentaram, sem sucesso também, adotar uma criança de El Salvador. Conheceram então uma moça de El Salvador que era cristã e queria dar seu bebê para adoção. Tudo acertado, até o momento do parto, onde a mãe resolveu que não queria mais dar o bebê.

Começaram o processo todo de novo, até acharem uma jovem de sua igreja. Tudo certo de novo, mas a moça perdeu o bebê.

Por fim, há alguns anos, quando estavam prestes a desistirem, conheceram uma moça e foi assim que vieram a ser pais de um doce menininho de três anos.

Tim é líder de um grupo de jovens em sua cidade em Idaho.

Natureza

Foi o meu primeiro acampamento de verdade. Repelentes não foram suficientes e estou toda cheia de picadas de insetos (às quais sou alérgica). Presenciei a captura de uma cobra e acordei um dia com uma linda (e gigante) aranha no "teto" da minha barraca. Agradeci a Deus por ter minha cama e banheiro sem ser químico de volta.

Mas faria 10, 100 vezes mais de novo. O contato com a natureza, por mais que tenha seus contratempos (a gente não a controla, o que é uma das coisas mais bacanas de se estar em contato com ela), é algo simplesmente fantástico.

Antes desse acampamento o mais perto que tinha chegado do que vivi foram minhas "escaladas" pela Serra do Curral e as viagens para São Sebastião de Soberbo (a minha roça, que ia sempre, antes que se precipitem em dizer que o primeiro parágrafo dessa seção vêm de "menina da cidade"), mas ainda assim o acampamento foi absolutamente fantástico.

Um dia acordei mais cedo e sentei em beira ao rio que cortava o acampamento. Eu esqueci o nome, mas me lembro da Janet (Yancey) me dizer algo como "é o rio mais antigo e um dos mais importantes daqui dos EUA". Fiquei por horas apenas observando o rio correr.

Vocês já notaram o fato óbvio que o rio nunca para de correr? Que ele está sempre em movimento? O rio só para de correr se não tiver mais água nenhuma, pois até um filetezinho ele ainda faria correr. O rio só para quando está morto.

Não é uma lição para nós? A gente não pode parar de "correr", de batalhar pelos nossos sonhos, de correr para o nosso alvo. Às vezes, em tempos muito difíceis, tudo que nos resta é um pouquinho de água (força), mas temos que continuar fazendo essa água correr. E, na verdade, nós não temos que fazer isso por nós mesmos. Quem controla a correnteza do rio, muito além das explicações científicas, é o mesmo que nos controla. Deus sempre vai nos dar a força para continuarmos em frente. Mesmo quando parece que estamos prestes a "morrer", Ele está lá. As circunstâncias às vezes vão evidenciar o contrário, mas o fato é que Ele sempre está conosco.

Brasil

Na sexta-feira sentei no chão e fiquei esperando a pregação do Philip Yancey. Estava enrolada na minha bandeira do Brasil.

Um senhor veio falar comigo em português, dizendo que morou no Brasil por alguns anos e, depois, uma senhora e sua filha vieram falar comigo em português também. Elas são missionárias.

Essa senhora e sua filha se tornaram minhas amigas de congresso. Enquanto não estava trabalhando eu assistia às programações com elas.

Elas já foram também pra Moçambique e são fundadoras (ou ajudam bastante, nem me lembro bem) de um orfanato em Goiás que cuida de cerca de 25 crianças.


Voluntários

Já faziam alguns anos desde que eu trabalhava como voluntária em grandes eventos. Ah, como a saudade batia, foi fantástico poder fazer parte de um time como esse de novo.

Os meus líderes, Shane e Janie Rager, são pessoas absolutamente fantásticas! O carinho e o cuidado que eles tiveram comigo desde o dia em que cheguei (e fomos procurar minha barraca no escuro e chovendo, mesmo ela já tendo trabalhado mais de 12 horas naquele dia) até o momento da despedida, foram inenarráveis.

Também conheci o David, o Dan, o Douglas, o Charles e o Brighton, voluntários do estacionamento, com os quais dei muitas risadas. Foi debaixo de chuva que trabalhei com eles também, mas foi excepcionalmente divertido.

Não só nesse último grupo, mas em todo o grupo de voluntários e, na verdade, no festival inteiro, tinha gente de toda idade e jeito.

O Festival

O espírito do ganso selvagem é, obviamente, inspiração pro nome do festival. E é sempre algo maravilhoso pra mim quando vejo a diversidade da Igreja. No festival tinha gente tatuada e idosos de cabelos branquinhos. Tinham famílias com seus filhinhos de colo, e tinham gays e lésbicas. Tinham cadeirantes e tinham crianças correndo e brincando na lama. Tinha, enfim, todo tipo de gente que tem no mundo, numa pequena amostra de mil pessoas.

As palavras sobre justiça social, a fantástica entrevista com Brian McLaren que, entre outras coisas, disse: "se os pastores pregassem durante um mês sobre a abdicação das posses terrenas, como Jesus fazia, logo logo as igrejas iriam reduzir drasticamente em número de membros". E também disse, ao comentar sobre a reação dos cristãos ao seu filho gay: "na igreja católica o processo de excomungação é muito claro e estruturado. Na igreja evangélica é mais complicado. Muito antes desse episódio eu acredito que já tenha sido lentamente excomungado da igreja evangélica, então não tive tanta reação assim. O engraçado é que, na essência da fé cristã: "eu acredito em Jesus como senhor e salvador, e na palavra de Cristo como revelação de fé", eu acredito que sou mais "cristão" que muitos dos que me excluíram. Quantas igrejas você vê falando sobre o amor de Deus, sobre Jesus, hoje em dia?"

Houve também um representante dos direitos civis, um senhor negro que falou brilhantemente sobre a sociedade americana e a igreja emergente. Algumas frases que anotei:

"Os EUA precisam se desenvolver não mais como exemplo de democracia para o mundo, mas como desenvolvimento de fé."

"Qual a diferença entre a Igreja emergente e a sociedade americana? No que combinam e no que não? Se não combinam em nada, o que esta igreja está buscando?"

Houve também a palavra, na mesma "roda de discussão" do senhor acima, uma senhora, escritora, chamada Phyllis:

"Não apenas a mente, mas o seu corpo tem que acreditar/adorar a Jesus."

Por ser bem alternativo, tinham uns momentos zen também, como no momento de dança coletiva, onde as pessoas se reuniram e começaram a dançar, conforme o que a música os fazia sentir.

Nunca vou me esquecer no momento em que, em frente à tenda da cerveja, todos começaram a cantar "Amazing Grace".


Apesar do gigantesco post, acreditem, esse é só o resumo desses dias pra mim. Ah, esqueci de comentar dos livros, ganhei vários livros durante o festival, o que, com certeza, é um ponto super positivo, haha.

E eu voltei pra casa, assim como os velhinhos, as crianças, os bebês, as famílias, os gays, e todos os que estavam naquele festival. O que faremos daqui pra frente é o que vai contar, no final das contas, mas com certeza foram dias inesquecíveis.





Um comentário:

PRATIC VIDA disse...

Que diversidade! Mto nos surpreende a graça do autor de tudo

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