terça-feira, fevereiro 05, 2013

Crônicas do coletivo - IV


Diálogo entre um homem de 39 anos (H) e uma moça de uns 30 (M):


H: Eu quero ter um milhão e meio até meus 50 anos.
Não precisamos ter dinheiro pra ter ousadia e visão. É preciso, sobretudo, de perseverança.

M: (risos)
H: Não é impossível não, veja só. Teve uma época que eu trabalhava como autônomo, e eu ganhava R$30 por dia. Eu todo dia guardava R$10 e ficava com o resto, colocava esses R$10 num porquinho que eu comprei. Quando eu não tinha algum dia, porque não tinha trabalhado, no dia seguinte guardava R$20, pra compensar. No fim do ano eu quebrei o porquinho e tinha R$3650.
M: É, é preciso determinação.
H: Outra vez, eu estava desempregado e fui ao centro da cidade. Eu era novo na cidade e tinha só R$28 no bolso. Estava na época da copa do mundo que o Brasil ganhou, a última. Eu orei a Deus e pedi pra ele me ajudar a multiplicar o meu dinheiro. Lá na praça Sete estava cheio de gente vendendo bandeirinhas, daí tomei coragem e perguntei pra um moço onde ele tinha comprado as bandeirinhas. Ele me falou que foi na "Armando Nacionais e Importados", lá na Santos Dumont. Daí eu ofereci a ele pra tomar um café, numa lanchonete lá perto, e ele foi. E lá eu ofereci um biscoito de queijo também, e ele aceitou (dos R$28 eu já tinha só R$26). Daí pedi pra ele ir comigo lá nessa loja, que eu não conhecia nada em BH. E ele foi. Daí lá ele deu a dica de não comprar bandeirinhas, porque todo mundo já estava vendendo. E eu vi aquelas cornetinhas, que só começaram a fazer sucesso depois, e perguntei o preço. Era R$0,19 se fosse por atacado, e R$1 se fosse individual. Peguei meus R$26 e comprei tudo em cornetinha (não tinha dinheiro nem mais pra voltar pra casa). Fui pra Afonso Pena (naquela época ainda podia camelô) e comecei a tentar vender. A primeira cornetinha que eu soprei, veio um guarda e disse que eu não poderia vender lá. Daí perguntei onde podia vender, ele me falou que em qualquer rua, menos ali. Fui pra São Paulo, em frente à Galeria do Ouvidor, e no fim do dia tinha vendido todas as 100 cornetinhas que tinha conseguido. No dia seguinte voltei na loja e fiz a mesma coisa. E no dia seguinte também.  E um dia, era 15h e eu já tinha vendido as 100 do dia. Daí um amigo meu (a gente acabou ficando amigo de vender na rua) disse que no bar da esquina ia transmitir os jogos, pra eu comprar mis e ir lá vender. A Armando fechava às 17h, então eu fui lá correndo e comprei mais 100. O Brasil ganhou naquele dia e eu vendi todas as cornetinhas. No fim do mês, depois da copa, eu tinha tido um lucro de R$1800. 
M: Uau!
H: É, ainda faltam 11 anos, eu quero meu um milhão e meio até meus cinquenta anos.

Não precisamos de dinheiro para ser ousados. Precisamos, sobretudo, de perverança.


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