"O homem paciente dá prova de grande entendimento, mas o precipitado revela insensatez"Era um dia de prova de uma das matérias mais difíceis da faculdade, e eu estava estudando no caminho para a faculdade. Um dos passageiros do ônibus, a quem chamarei de Frederico, notou minha camisa que dizia algo a respeito da mensagem. Ele disse:
F: Você acredita mesmo nisso?
L: Acredito em que?
F: Nisso que está escrito em sua camisa.
L: Claro que sim (afinal se eu estava vestindo a camisa – pensei)
F: Se esse seu livro não fosse de um curso superior eu diria que você não devia saber nem ler.
L: Eu tenho uma prova muito difícil e importante agora amigo, mas quem sabe um dia possamos discutir sobre isso?
F: Deixou de estudar pra espalhar essa baboseira?
L: Eu estou estudando há dias, mas é que a prova é realmente difícil.
F: Você está usando desculpas porque não pode argumentar.
L: Eu não acreditava nessa mensagem até pouco tempo atrás, e não sou uma pessoa tão fácil de acreditar em algo, portanto, isso faz sentido pra mim, mas, como eu disse, eu tenho uma prova agora e preciso me concentrar aqui. Aliás, nem dá mais tempo, está chegando no meu ponto.
Enquanto eu descia apressado com medo de estar atrasado para a prova, Frederico disse algo sobre o próximo dia às 17hs, mas como eu estava sem muita paciência, respondi que estava combinado, e desci do ônibus.Enquanto fazia a prova, me dei conta do que eu havia feito, e fiquei muito decepcionado comigo mesmo. Acabei perdendo um pouco da concentração, e fiquei em dúvida das respostas de várias questões.
No dia seguinte, tentava me lembrar do que seria às 17 horas, e onde, que Frederico tinha dito e que eu havia concordado, mas não adiantava, não conseguia me lembrar. Eram exatamente 17hs quando me dirigi ao ponto de ônibus e lá estava ele. De início fiquei assustado, mas depois me lembrei de que era no ponto de ônibus que ele tinha falado: “amanhã, nesse ponto, às 17hs, quero ver se você tem mesmo algum argumento”.
L: Oi...qual seu nome mesmo?
F: Sou o cara do ônibus, você não se lembra?
L: Lembro, mas eu estava com pressa, então nem perguntei seu nome.
F: Tudo bem, meu nome é Frederico, e o seu?
L: Lot.
F: E então Lot, quais argumentos que você tem a favor dessa mentira?
L: Eu já tive muitas experiências de gente tendo a vida transformada por essa verdade.
F: Esse é seu argumento? Sabia! Isso não basta pra mim. Conheço um tanto de gente que ganhou na loteria e também teve sua vida transformada.
L: Não me referia a melhora de vida financeira, e sim à mudança de caráter, para melhor.
F: Quer dizer que não acredita que isso pode te trazer...como falam mesmo? Prosperidade? Não vai ficar podre de rico só por acreditar nela?
L: Não. Você não pode argumentar comigo se nem ao menos conhece a mensagem.
F: Eu sempre ouvi a mesma história de quem conta essa mensagem: dinheiro no bolso, saúde e sucesso. É só isso que essa mentira parece oferecer, mas obviamente é ilusão.
L: Como disse, você precisa conhecer a mensagem, e sobre quem ela fala, para poder argumentar comigo. Você não pode supor que é mentira se você não conhece. Vai basear seus argumentos em senso comum? Aposto que não come jiló, não porque provou e viu que era ruim, mas porque todo mundo falou pra você que é ruim, por isso você nem experimentou...
F: OK então, eu leio o livro com a mensagem, e então conversamos de novo, mas tenho certeza que é mentira, portanto, isso não vai fazer a mínima diferença.
L: Quanto tempo você vai demorar para ler?
F: Daqui a três meses a gente se encontra aqui de novo.
L: Combinado.
Enquanto os três meses não se passaram, eu recebi o resultado da prova, que não foi tão desastroso quanto eu previa, mas foi muito ruim mesmo assim. Às vezes, encontrava com Frederico no ônibus, e acabamos virando amigos, ainda que com opiniões muito diferentes acerca da vida. Ele ia falando das aparentes contradições da mensagem, e eu explicava a importância do contexto em qualquer literatura, e das peculiaridades daquele livro. Mas tinha ficado combinado que a verdadeira discussão só aconteceria dali a três meses, então ele se continha na maior parte das vezes, e ia anotando as dúvidas em um caderno. Ele me deu alguns textos para ler, e eu fui fazendo minhas anotações à parte também. Foi um período de muito estudo para nós dois. Quando os três meses se passaram nos encontramos, às 17hs, no ponto de ônibus em frente à minha faculdade.
L: E então, o que tem a dizer agora?
F: Em primeiro lugar, eu acredito que ou vocês contam essa mensagem de forma muito errada, ou então as pessoas que acreditam nela são muito burras...
L: Como assim?
F: Você estava certo, eu não conhecia a mensagem, e aquilo que sempre vi e ouvi a respeito dela a distorcia completamente.
L: Onde você via e ouvia falar da mensagem?
F: Em programas de TV, e com algumas pessoas conhecidas.
L: Bom, não que todos os programas de TV sobre a mensagem sejam ruins, mas uma boa parte é, e não conheço as pessoas que você disse contarem da mensagem pra você, mas há muitas pessoas com conceitos errados sobre a mensagem mesmo. Mas isso não é o ponto central da questão, o que você acha da mensagem agora?
F: Estou menos convicto de que ela seja mentira, mas ainda não estou convencido de que ela seja verdade. Há algumas coisas que não fazem sentido.
L: Eu já te expliquei sobre as aparentes contradições.
F: Não é isso mas...o que você achou dos textos que eu dei pra você ler?
L: Não mude de assunto...
F: Pra eu dizer as coisas que não fazem sentido, preciso saber o que você achou do que você achou a respeito do que leu.
L: Alguns daqueles textos eu já conhecia, e eram minha base sólida contra a mensagem, mas os que eu não conheciam não fazem o menor sentido, inclusive se você usar a ciência para pensar a respeito deles.
F: Os outros, eram...sua base? Porque não mais?
L: Eles tem argumentos que condizem com aqueles primeiros seus, portanto, quando conheci a mensagem de verdade, eu estudei mais a respeito deles, e eles não são textos lógicos, usam argumentos passados e desatualizados para combater a mensagem.
Tivemos uma longa conversa sobre a mensagem e sobre os textos, e apresentei todos os argumentos contra as hipóteses de Frederico. Então ele disse:
F: Se eu resolver acreditar na mensagem, vou ter que deixar tudo que é divertido pra trás?
L: Parece com isso o que você leu?
F: Não, mas é o que parece que acontece com as pessoas que acreditam nela.
L: Você precisa conhecer alguns amigos meus, nós vamos a festas, ao cinema, jogamos futebol, nos divertimos como qualquer outro jovem de nossa idade, até mais, porque nossa diversão não é momentânea.
F: Vou pensar a respeito.
L: Ok, me fala se tiver qualquer dúvida.
F: Ok.
Antes mesmo de pegar o ônibus ele voltou e disse:
F: Acho que a dúvida que ainda existe não é maior que o desejo de viver pela verdade
Nada de melhor poderia ter acontecido naquele dia. Conversamos um pouco mais, e eu disse a ele mais coisas sobre a mensagem.
Mas essa situação toda me fez refletir sobre as graves conseqüências que a precipitação e o foco exagerado em si mesmo pode causar. E também de como as pessoas que vivem pela mensagem parecem não ler o livro, ou não lêem da mesma maneira que Frederico leu, buscando conhecimento e respostas para a vida, mas parecendo fazer do livro um jogo de loteria, onde o que for sorteado será verdade para todos. Com isso eles distorcem a mensagem, e a fazem parecer estúpida aos olhos de quem não a conhece.