"E é por meio de Cristo que temos tal confiança em Deus. Não que tenhamos capacidade de pensar alguma coisa, como se viesse de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus." - II Co 3:4-5
Se fosse me dada a tarefa de resumir esses 365 dias em uma palavra, minha escolha seria certamente pela palavra "aprendizados".
Aprendi a desapegar de coisas materiais. Em janeiro tive um paciente domiciliar, um grande desafio para uma recém-formada como eu, e fiz um preço bem abaixo do mercado. Ainda assim não recebi por esse atendimento, desisti de cobrar, e me desapeguei daquelas poucas centenas de reais. No mesmo mês aprendi que só a graça de Jesus pode me fazer vencer tentações, e não eu mesma. E aprendi o valor da solidariedade e hospitalidade, por meio de pessoinhas nipônicas que nos receberam de braços abertos no Espírito Santo.
Aprendi a esperar o impossível e a não desistir de sonhos por causa de planos frustrados. E isso tudo sem criar planos mirabolantes e impossíveis.No início do ano não sabíamos como manter meu irmão em sua escola, porque nossas condições financeiras não nos permitiam arcar com a mensalidade da escola. Propus um projeto de intervenção fonoaudiológica para o diretor, mas ele não compreendeu adequadamente o projeto, e rejeitou a proposta. Entretanto, me ofereceu para substituir uma professora que estava em licença maternidade.
De fevereiro até metade de maio tive a experiência mais gratificante da minha vida. Cada uma daquelas 36 criaturinhas me fará falta pra sempre. Aprendi a ensinar, a ter paciência, a ser criança de novo, a ter amor pelo que faz. Não me surpreenderia se desistisse da minha faculdade para passar a lecionar. Com meu salário paguei minhas dívidas (acumuladas há anos) e as despesas escolares do meu irmão.
O versículo encontrado em II Coríntios 3:4-5, que introduz esse post, retrata bem o restante do meu ano, que foi basicamente constituído por estudos para concursos. Não passei em nenhum dos dois que fiz, mas de fato aprendi que só pela graça, não por conhecimento nenhum meu, passarei em algum concurso se assim Ele quiser. E fiquei bem tranquila em relação a isso.
No primeiro concurso, em São José do Rio Preto, fui mal na prova específica, e muito bem em saúde pública, informática, raciocínio lógico e português. E lá comecei a aprender o que é saudade e coragem. Foi a primeira vez na vida que andei de avião, e estava indo para uma cidade onde não conhecia ninguém, e muito menos a cidade. Apesar de ter sido apenas um dia e meio, e nem ter passeado pela cidade, vi tudo na minha vida ser questionado, simplesmente pela possibilidade de ser afastada assim, centenas de quilômetros de casa.
Voltei e fui trabalhar numa clínica de umas amigas - anjos que o Senhor colocou pra que eu pudesse sobreviver enquanto não tinha nada de concreto. E depois de um tempo surgiu a oportunidade de substituir uma fono em Divinópolis, cidade a 200 e poucos quilômetros de BH. E aprendi mais. Quase aprendi a morar sozinha, já que fiquei em uma pensão e os donos dela eram como pais substitutos para mim. Mas aprendi a me controlar melhor financeiramente, a ter responsabilidades de "dona de casa", a ser Fono, já que era a primeira vez, desde formada, que atendia de fato a pacientes por um longo tempo, a diversos pacientes.
Aprendi a ter responsabilidades para atingir objetivos. Voltando de Divinópolis de fato já era uma pessoa diferente. Mais livre, por assim dizer. Comecei a me dedicar integralmente ao concurso que faria no fim do ano, indo para a faculdade sempre, até que minhas amigas me chamaram para voltar pra clínica que tinha atendido primeiro. Aceitei o convite e continuei estudando. Houve dias em que o cansaço vencia a determinação? Com certeza, mas Deus me deu forças sobrenaturais para continuar estudando. O resultado desse concurso ainda não saiu, mas minha pontuação - creio eu - foi muito baixa para uma aprovação. De qualquer forma, foi mais uma vez a oportunidade para eu ver que as coisas não dependem de mim, por mais que eu me esforce.
Reaprendi a sentir saudades, a me compadecer pela dor causada pela morte. Há apenas uma semana meu "vodrasto" faleceu, depois de uma embolia pulmonar que dizimou sua vida longa e saudável em apenas 15 dias. Foram 16 anos de convivência com uma pessoa incrivelmente bondosa, carinhosa e carismática. Seu Álvaro, em seus 87 anos de vida, ensinou a todos que tiveram o privilégio de conviver com ele - a "tratar bem não importa quem". E a viver uma vida de simplicidade - amor aos filhos, diversão com amigos, viver a vida - ainda que na velhice - ao lado de sua esposa (e fazê-la feliz).
E, pela graça, aprendi esse ano mais sobre a graça do que em qualquer ano da minha vida. Foi um ano de desenvolvimento espiritual, aperfeiçoamento de caráter, por assim dizer. Ainda estou longe de ser uma pessoa que dependa inteiramente da graça para tudo. Meu ego vive querendo tomar as rédeas da vida de novo, mas entendi um pouco mais sobre a graça, aprendi sobre a vida de homens e mulheres fantásticos, que viveram para ela - e diminuí minha tolerância com aquilo que ia contra ela. Mas aprendi a enxergar o mundo mais pelas lentes da graça. Por isso sei que até mesmo essas pobres criaturas que não sabem viver por ela podem ser alcançados e terem uma vida completamente transformadas.
E em 2012? Sem planos, sem metas. Sonhos sim, mas quero mesmo é voltar a ser criança mais um pouco, tenho levado a vida muito a sério. E a graça me ensinou também a valorizar cada simples momento da vida...coisas que só crianças sabem fazer. Aprendi, pela graça, a fazer mais "uaus", para as situações da vida. Então, a música abaixo resume o que quero para 2012:
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