"Desvia os meus olhos de verem a vaidade, e vivifica-me nos teus caminhos."
Nem toda história que escrevo aqui se trata de meus encontros com outras pessoas. Hoje achei necessário falar de mim um pouco. Se é que alguém vai ler essas linhas algum dia pode ser que você venha a ficar surpreso, mas em todo caso estou escrevendo para mim, pois quero evitar cair no mesmo erro de novo. É chato começar um ano falando de erros, ao invés de esperanças ou metas, mas creio que seja necessário uma mudança em mim mesmo, caso eu queira que esse ano seja diferente - para melhor.
Explico-me. Deixei-me corromper pelo orgulho. Não que seja fácil admitir isso, mas visto que ele é, na minha opinião, a "obra-prima" de todos os erros que me afastam (e a todos os humanos) do Autor, não é tão difícil assim cair em suas armadilhas. Ainda bem que o Autor conhece minha natureza corrupta e me deu a graça de perceber isso há tempo. E me perdoou. E continua me perdoando.
Eu fiz, de fato, coisas importantes nos últimos anos. Coisas que talvez nenhum outro seguidor da mensagem tenha feito. Muito mais que a maioria teria conseguido, na verdade. E o ser humano tem a tendência a se achar auto-suficiente, a buscar a independência e a querer ser "bem-sucedido" em tudo na vida. E eu, além de fazer mais que a maioria, ainda tenho um excelente emprego e creio que esteja cumprindo bem meus papéis familiares. Isso é coisa que eu jamais falaria em outros tempos, justamente por medo do orgulho. Mas percebi que fugi para o lado errado. Ao tentar negar que tinha feito tudo isso, fui me esquecendo que não teria conseguido nada disso sem que o Autor tivesse me ajudado. Ou melhor, ajudado não, tivesse me capacitado, tivesse tornado tudo isso possível. Ao negar tudo isso estava dizendo a mim mesmo que eu era bondoso demais para admitir que tinha feito isso.
Que audácia a minha achar que fui eu o "conquistador" disso tudo, não? Mas o mais interessante é que nunca tive esse pensamento. Nunca mesmo, nem agora que me reconheço como orgulhoso. É que, apesar de saber que eu, principalmente considerando minha história (coisa que fica pra um outro dia, quem sabe), sou totalmente incapaz disso tudo, eu me deixei corromper.
O orgulho não é aquele tipo de erro escandaloso que as pessoas que cruzaram meu caminho normalmente apresentavam. Não, o orgulho é muito mais sutil. O orgulho é interno, então é fácil ninguém perceber que você é orgulhoso. Até que ele seja tão grande que se torne visível.
É como um tumor no pulmão, que cresce devagar, sem deixar rastros, até que se torne complicado demais. O câncer de pulmão até apresenta sintomas, mas por serem tantas vezes tão semelhantes a quadros clínicos mais comuns, como uma gripe, são facilmente ignorados. O mesmo ocorre com o orgulho. No início seus "sintomas" podem ser facilmente confundidos com a alegria de ter feito algo bacana, mas ele cresce, cresce, cresce, até ser muito complicado. Aqueles que cruzaram meu caminho tinham mais sorte, pois o que tinham eram uma lesão superficial, muito mais fácil de tratar do que a minha.
É preciso, claro, esclarecer que ficar feliz por ter feito algo bacana não é ruim, nem um erro em si. Mas o foco dessa alegria deve ser mantido bem claro. Não ouso estimar a que ponto meu orgulho cresceu, tal como um clínico poderia fazer com um câncer, porque eu mesmo não teria essa capacidade, bem como um paciente com câncer não teria essa capacidade de identificar a doença em si mesmo, ainda que fosse médico, sem auxílio. O fato é que eu o notei.
Eu o notei e estou tão envergonhado, tão chateado, que poderia simplesmente parar por um tempo com tudo que tenho feito. Mas isso também não seria orgulhoso de minha parte? Achar que EU posso parar de fazer algo porque EU me senti orgulhoso demais? Se essa, por assim dizer, missão, não depende de mim, mas do Autor, então não há motivos inteiramente meus, ainda que um erro grave como esse, que deveriam me impedir de continuar a cumpri-la.
Não que eu saiba como lidar com isso exatamente, estou bem confuso, pra dizer a verdade. Eu me percebi orgulhoso no dia que constatei tudo aquilo que eu tinha feito, com orgulho, ao mesmo tempo que me orgulhei de não ter me orgulhado por ter feito tudo aquilo. Veja que é bem difícil de se explicar o orgulho, tal grande é sua sutileza de manifestação.
Mas eu pretendo mudar. Não sei mesmo como, mas eu tenho que mudar. Agora, achar que eu posso fazer isso por mim mesmo seria apenas mais uma faceta do orgulho infiltrado em mim. Eu não posso fazer isso, não consigo. Sou naturalmente orgulhoso, e isso é um fato. Mas o Autor pode me ajudar. Ele pode corrigir meu foco, minha visão de mim mesmo e do que tenho feito. Estive o tempo todo vendo tudo isso com uma visão distorcida, mas agora Suas lentes podem corrigir tudo isso.
Não prometo nunca mais cair no mesmo erro, porque sei quem eu sou o suficiente pra saber que prometer isso seria orgulhoso também. Se depender de mim eu volto a ficar orgulhoso no momento que terminar esse texto, me vangloriando de quão humilde eu fui ao admitir tudo isso e resolver mudar de vida.
Se alguém estiver mesmo lendo essas linhas, que me perdoe a sinceridade dolorosa, o desapontamento com a minha pessoa. Mas era necessário. E talvez até seja bom para que você perceba que eu não sou perfeito. Já demonstrei isso aqui tantas vezes, mas talvez meus feitos tenham sobrepujado minha natureza corrompida.
Eu, Lot, não sou o melhor ser humano que existiu nessa terra. Eu sou corrompido. Eu erro. Eu sou orgulhoso. No programa de Alcoólatras Anônimos o primeiro passo é admitir seu vício. Então pronto, vou seguir o mesmo caminho. Sou viciado em orgulho.
Importante salientar, claro, que nem sempre faço as coisas com orgulho. Na verdade, em todos os casos onde relatei aqui não ser merecedor ou digno de tanta coisa bacana acontecendo comigo, estava realmente querendo dizer isso, expressei o que sentia. Mas acho que meu orgulho foi justamente me orgulhar em não me orgulhar. Eu comecei a me orgulhar da minha humildade antes mesmo de me orgulhar de "meus" feitos, o que provavelmente tenha sido bem pior. Ou não, não sei se há escala segura quando se trata de orgulho. Orgulho é orgulho, e não há orgulho pior ou melhor.
Então, nesse ano, o que quero mesmo é não ser orgulhoso. Não vou ser estúpido a ponto de tomar isso como resolução de ano novo, porque, como disse, isso também seria orgulho. Mas o que quero é me livrar desse tumor, e sei que tenho o médico mais competente do mundo, de todos eles, pra lidar com isso por mim, basta eu deixar o mais instável de meus órgãos - o coração - em suas mãos. Não vai ser fácil, mas Ele há de me ajudar nisso também.
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