segunda-feira, setembro 22, 2008

O diário de Lot - O impaciente

"O homem paciente dá prova de grande entendimento, mas o precipitado revela insensatez"

Era um dia de prova de uma das matérias mais difíceis da faculdade, e eu estava estudando no caminho para a faculdade. Um dos passageiros do ônibus, a quem chamarei de Frederico, notou minha camisa que dizia algo a respeito da mensagem. Ele disse:

F: Você acredita mesmo nisso?
L: Acredito em que?
F: Nisso que está escrito em sua camisa.
L: Claro que sim (afinal se eu estava vestindo a camisa – pensei)
F: Se esse seu livro não fosse de um curso superior eu diria que você não devia saber nem ler.
L: Eu tenho uma prova muito difícil e importante agora amigo, mas quem sabe um dia possamos discutir sobre isso?
F: Deixou de estudar pra espalhar essa baboseira?
L: Eu estou estudando há dias, mas é que a prova é realmente difícil.
F: Você está usando desculpas porque não pode argumentar.
L: Eu não acreditava nessa mensagem até pouco tempo atrás, e não sou uma pessoa tão fácil de acreditar em algo, portanto, isso faz sentido pra mim, mas, como eu disse, eu tenho uma prova agora e preciso me concentrar aqui. Aliás, nem dá mais tempo, está chegando no meu ponto.

Enquanto eu descia apressado com medo de estar atrasado para a prova, Frederico disse algo sobre o próximo dia às 17hs, mas como eu estava sem muita paciência, respondi que estava combinado, e desci do ônibus.Enquanto fazia a prova, me dei conta do que eu havia feito, e fiquei muito decepcionado comigo mesmo. Acabei perdendo um pouco da concentração, e fiquei em dúvida das respostas de várias questões.

No dia seguinte, tentava me lembrar do que seria às 17 horas, e onde, que Frederico tinha dito e que eu havia concordado, mas não adiantava, não conseguia me lembrar. Eram exatamente 17hs quando me dirigi ao ponto de ônibus e lá estava ele. De início fiquei assustado, mas depois me lembrei de que era no ponto de ônibus que ele tinha falado: “amanhã, nesse ponto, às 17hs, quero ver se você tem mesmo algum argumento”.

L: Oi...qual seu nome mesmo?
F: Sou o cara do ônibus, você não se lembra?
L: Lembro, mas eu estava com pressa, então nem perguntei seu nome.
F: Tudo bem, meu nome é Frederico, e o seu?
L: Lot.
F: E então Lot, quais argumentos que você tem a favor dessa mentira?
L: Eu já tive muitas experiências de gente tendo a vida transformada por essa verdade.
F: Esse é seu argumento? Sabia! Isso não basta pra mim. Conheço um tanto de gente que ganhou na loteria e também teve sua vida transformada.
L: Não me referia a melhora de vida financeira, e sim à mudança de caráter, para melhor.
F: Quer dizer que não acredita que isso pode te trazer...como falam mesmo? Prosperidade? Não vai ficar podre de rico só por acreditar nela?
L: Não. Você não pode argumentar comigo se nem ao menos conhece a mensagem.
F: Eu sempre ouvi a mesma história de quem conta essa mensagem: dinheiro no bolso, saúde e sucesso. É só isso que essa mentira parece oferecer, mas obviamente é ilusão.
L: Como disse, você precisa conhecer a mensagem, e sobre quem ela fala, para poder argumentar comigo. Você não pode supor que é mentira se você não conhece. Vai basear seus argumentos em senso comum? Aposto que não come jiló, não porque provou e viu que era ruim, mas porque todo mundo falou pra você que é ruim, por isso você nem experimentou...
F: OK então, eu leio o livro com a mensagem, e então conversamos de novo, mas tenho certeza que é mentira, portanto, isso não vai fazer a mínima diferença.
L: Quanto tempo você vai demorar para ler?
F: Daqui a três meses a gente se encontra aqui de novo.
L: Combinado.

Enquanto os três meses não se passaram, eu recebi o resultado da prova, que não foi tão desastroso quanto eu previa, mas foi muito ruim mesmo assim. Às vezes, encontrava com Frederico no ônibus, e acabamos virando amigos, ainda que com opiniões muito diferentes acerca da vida. Ele ia falando das aparentes contradições da mensagem, e eu explicava a importância do contexto em qualquer literatura, e das peculiaridades daquele livro. Mas tinha ficado combinado que a verdadeira discussão só aconteceria dali a três meses, então ele se continha na maior parte das vezes, e ia anotando as dúvidas em um caderno. Ele me deu alguns textos para ler, e eu fui fazendo minhas anotações à parte também. Foi um período de muito estudo para nós dois. Quando os três meses se passaram nos encontramos, às 17hs, no ponto de ônibus em frente à minha faculdade.

L: E então, o que tem a dizer agora?
F: Em primeiro lugar, eu acredito que ou vocês contam essa mensagem de forma muito errada, ou então as pessoas que acreditam nela são muito burras...
L: Como assim?
F: Você estava certo, eu não conhecia a mensagem, e aquilo que sempre vi e ouvi a respeito dela a distorcia completamente.
L: Onde você via e ouvia falar da mensagem?
F: Em programas de TV, e com algumas pessoas conhecidas.
L: Bom, não que todos os programas de TV sobre a mensagem sejam ruins, mas uma boa parte é, e não conheço as pessoas que você disse contarem da mensagem pra você, mas há muitas pessoas com conceitos errados sobre a mensagem mesmo. Mas isso não é o ponto central da questão, o que você acha da mensagem agora?
F: Estou menos convicto de que ela seja mentira, mas ainda não estou convencido de que ela seja verdade. Há algumas coisas que não fazem sentido.
L: Eu já te expliquei sobre as aparentes contradições.
F: Não é isso mas...o que você achou dos textos que eu dei pra você ler?
L: Não mude de assunto...
F: Pra eu dizer as coisas que não fazem sentido, preciso saber o que você achou do que você achou a respeito do que leu.
L: Alguns daqueles textos eu já conhecia, e eram minha base sólida contra a mensagem, mas os que eu não conheciam não fazem o menor sentido, inclusive se você usar a ciência para pensar a respeito deles.
F: Os outros, eram...sua base? Porque não mais?
L: Eles tem argumentos que condizem com aqueles primeiros seus, portanto, quando conheci a mensagem de verdade, eu estudei mais a respeito deles, e eles não são textos lógicos, usam argumentos passados e desatualizados para combater a mensagem.

Tivemos uma longa conversa sobre a mensagem e sobre os textos, e apresentei todos os argumentos contra as hipóteses de Frederico. Então ele disse:

F: Se eu resolver acreditar na mensagem, vou ter que deixar tudo que é divertido pra trás?
L: Parece com isso o que você leu?
F: Não, mas é o que parece que acontece com as pessoas que acreditam nela.
L: Você precisa conhecer alguns amigos meus, nós vamos a festas, ao cinema, jogamos futebol, nos divertimos como qualquer outro jovem de nossa idade, até mais, porque nossa diversão não é momentânea.
F: Vou pensar a respeito.
L: Ok, me fala se tiver qualquer dúvida.
F: Ok.

Antes mesmo de pegar o ônibus ele voltou e disse:

F: Acho que a dúvida que ainda existe não é maior que o desejo de viver pela verdade

Nada de melhor poderia ter acontecido naquele dia. Conversamos um pouco mais, e eu disse a ele mais coisas sobre a mensagem.

Mas essa situação toda me fez refletir sobre as graves conseqüências que a precipitação e o foco exagerado em si mesmo pode causar. E também de como as pessoas que vivem pela mensagem parecem não ler o livro, ou não lêem da mesma maneira que Frederico leu, buscando conhecimento e respostas para a vida, mas parecendo fazer do livro um jogo de loteria, onde o que for sorteado será verdade para todos. Com isso eles distorcem a mensagem, e a fazem parecer estúpida aos olhos de quem não a conhece.

4 comentários:

Frederik disse...

Normalmente, mesmo um não-cristão sabe alguma coisa sobre a terra, os céus e outros elementos deste mundo, sobre o movimento e a órbita das estrelas e mesmo seus tamanhos e posições relativas, sobre eclipses previsíveis do sol e da lua, os ciclos dos anos e das estações, os tipos de animais, arbustos, pedras, e assim por diante.Tais conhecimentos ele sustenta, tendo-os como certos por conta da razão e da experiência.

Agora, é algo vergonhoso e perigoso para um infiel ouvir um cristão que tira conclusões precipitadas a respeito do sentido das Sagradas Escrituras e diz bobagens sobre esses tópicos; e devemos empregar todos os meios para evitar esse tipo de situação constrangedora, na qual as pessoas mostram seu vasto desconhecimento sobre os cristãos e fazem pouco deles.

É muita vergonha, não porque um indivíduo ignorante é ridicularizado, mas porque as pessoas que não conhecem a religião acham que nossos sagrados escritores sustentam tais opiniões e, infelizmente para aqueles por cuja salvação trabalhamos arduamente, os autores de nossas Escrituras são criticados e rejeitados como se fossem ignorantes. Se encontrarem um cristão cometendo um erro em um campo que eles conheçam bem e o ouvirem defendendo suas opiniões idiotas sobre nossos livros, como acreditarão nesses livros e em assuntos referentes à ressureição dos mortos, à esperança de vida eterna e ao reino dos céus, quando pensam que suas páginas se acham cheias de falsidades sobre fatos que eles aprenderam pela experiência à luz da razão?.
(Santo Agostinho. Comentário ao Gênesis, 19:39.)

Frederik disse...

Desculpa se o primeiro comentario, não era exatamente o meu. apesar de ser minha opinião, mas o final do seu texto, pedia esse texto, é dificil você falar de Cristo para as pessoas, quando elas ouvem tantas mentiras e bobagens a respeito dela.

Quanto ao titulo do texto, eu sou engraçado, ao mesmo tempo sou extremamente paciente com as coisas, tenho um espírito manso, e extremamente impaciente com outras coisas, eu não sou a pessoa mais perfeita do mundo(alguns dizem que sim maas uehauehuaheuahheua..to zuano), sou pecador, cometo muitas falhas, e não sei 100% de todas as coisas( ainda uehauhea), mas a coisa que realmente me tira os cabelos, é ouvir distorções da Verdade, que escolhi pela qual viver. Não consigo ficar calado, ou calmo, meu espírito inflama de raiva por ouvir tais coisas.

Eu preciso também de paciência pra muitas áreas da minha vida, é difícil sentar e esperar, na Comunidade do É pra já! onde tudo é quase momentanêo, mas tenho que aprender !!


Gostei muito do texto amiga, eu to sem meus 1% de inspiração e os 99% de transpiração, mas espero escrever algo em breve =]

Na verdade, desisti de ter um blog, acho q vou fazer um diario na internet que seja público, porque meus textos parecem diário, ninguem lê ¬¬

Bjo amiga

Dani Lucas disse...

Nem precisa desistir do blog amigo. Eu nunca desisti do meu...e olha que já tem uns anos que eu o tenho hein?
Blog é algo que acabamos escrevendo pra nós mesmos, se alguém ler é lucro, se alguém comentar, ganhamos nossos dias. Mas isso não é motivo pra desistir.

Bjos amigo^^

Dani Lucas disse...

=p Que menino chato

Na verdade, o título "O impaciente", não foi para discutir sobre o Lot discutir com o Frederico sobre as questões sobre os quais eles acreditam, mas sobre ele ignorar o cara só porque tava apressado por causa da prova. A impaciência dele era devido a isso, e seria a mesma, independentemente de quem fosse, mesmo se fosse um dos outros personagens que se encontrasse no ônibus com ele.

Acabei imitando inconscientemente as idéias do Agostinho, mas pelo menos imitei uma coisa legal =D

Bjos amigo mais chato do mundo=p

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