Olá amigos do Menininha.com!
Estou há muito tempo sem atualizar o blog porque estou aproveitando as férias para colocar minha leitura em dia. Aliás, eis o motivo dessa postagem! Estava eu dizendo a uma amiga minha paixão pelos livros e indicando a ela o site www.vidaacademica.net quando achei um artigo do pastor Ricardo Gondim exatamente com o título desse post. Ao ler esse texto descobri que tenho muito em comum com o admirável pastor Gondim, então resolvi postar aqui para que vocês pudessem se apaixonar também por esse que é o único " tipo de consumismo que não me oponho". Deliciem-se;)
Ricardo Gondim
Meu amor pelo livro - 5/1/07
Meu pai lia obsessivamente. Todas as vezes que o surpreendia, abrindo a porta do seu quarto sem bater, eu o flagrava com um livro na mão. Ele assinava pelo menos duas revistas de notícias semanais e vários pasquins.
Ele comprava folhetos subversivos não sei onde e os trazia perigosamente para casa. Papai era professor de história, mas seu fascínio maior era a II Guerra Mundial. Em sua biblioteca, sobravam tomos, fotografias e artigos sobre o conflito que marcou sua infância.
Só há um tipo de consumismo que não me oponho: comprar livros. Aliás, todas as vezes que entro numa livraria, gasto mais do que posso - divido em prestações o que não consigo pagar à vista. Não cogito fazer qualquer viagem de avião sem ler o tempo todo. Só há um momento que odeio o sono, quando estou avidamente envolvido com um romance.
Antigamente eu resumia minha leitura a textos conceituais, de não-ficção. Por causa da minha necessidade de aprender a escrever - faltei às aulas de português do Liceu - aprendi a devorar literatura brasileira e portuguesa.
Hoje abocanho com igual apetite, biografias, romances, poesias, ficção científica e contos. Os livros grossos já não me metem medo. Sou capaz de perseverar em mil páginas.
Tenho tanta avidez de compensar os anos perdidos em que não abri uma página, que faço vigília até altas horas da madrugada para terminar um livro - só não passo a noite em claro, porque, casado, obedeço ordens superiores, que zelam pela minha saúde.
Acredito que o livro faz parte da conspiração divina. Quando Deus quis falar aos homens, não fez pirotecnia celestial, apenas inspirou homens que escrevessem. Por isso, todas as vezes que Moisés subia a montanha, Jeová mandava que trouxesse um bloco de anotações. Tem razão a frase latina: Scripta manent, verba volant - 'O escrito fica, as palavras voam'.
Digo sem medo: todo livro é sagrado. O livro é relicário santo onde se registram as memórias, as fantasias, as angústias, os medos, as bravuras, a grandeza e os pecados da humanidade.
Não existe livro impuro, apenas o mal escrito. Literatura é a mais completa de todas as artes. Se um personagem numa pintura, escultura ou cinema aparecer contemplando um relvado, ninguém conhecerá com exatidão o que ele pensa. O bom escritor, contudo, discerne não só os seus pensamentos como o que move suas entranhas.
Louvado seja o livro, pois sem ele não conheceríamos o amor trágico de Tristão e Isolda, de Romeu e Julieta e de Bentinho e Capitu; jamais celebraríamos a coragem enlouquecida de Dom Quixote; não saberíamos sobre a força do ciúme em Otelo; e nunca partilharíamos da coragem do capitão Acabe.
Jorge Luis Borges afirmou que, em sua vida, procurou mais reler do que ler: Ele dizia: 'Creio que reler é mais importante que ler, embora para reler seja preciso haver lido'.
Borges, já sem enxergar, fez uma linda declaração de amor ao livro:
'Continuo fingindo não ser cego; continuo comprando livros, continuo enchendo minha casa de livros. Há poucos dias fui presenteado com uma edição de 1966 (ele escreveu isso em 1978) da Enciclopédia Brockhaus.
Senti a presença dessa obra em minha casa; eu a senti como uma espécie de felicidade. Aí estavam os vinte e tantos volumes, com uma letra gótica que não posso ler, com mapas e gravuras que não posso ver; e, no entanto, o livro estava aí. Eu sentia como que uma gravitação amistosa do livro. Penso que o livro é uma das possibilidades de felicidade que temos, nós, os homens'.
A humanidade não vive só de pão, mas de palavras. No livro não se acha sabedoria pura e simples, nele está a fonte da felicidade. Deus é escritor e os que querem se achegar a Ele, devem aprender a gostar de ler.
Soli Deo Gloria
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