segunda-feira, agosto 25, 2008

O diário de Lot - O indiferente



"A esperança dos justos é alegria"

Desde o dia em que me encontrei com o João comecei a reparar quantos pequenos erros eu cometia todos os dias, e como aquilo me atrapalhava a viver a mensagem plenamente.

Comecei a vigiar mais os meus passos, e isso, de alguma forma, impressionou meus colegas da faculdade (as histórias da Maria e do João nunca ficaram conhecidas por lá).

Certo dia, um amigo meu, o André, perguntou o que tinha acontecido comigo...

L: Porque?
A: Vcoê tá diferente cara, sei lá...tá mais empolgado com a faculdade, não tá deixando as coisas para depois, até as meninas da sala estão reparando isso.
L: Nem reparei que tinha mudado muito não, sei lá, é que aconteceu uma parada aí, e eu...mudei um pouco.
A: Que parada?
L: A história é longa, a aula já vai começar agora véi, no almoço eu te conto falou?
A: Falou, é...
L: Fala.
A: Nada não, só estou achando engraçado você se preocupar em chegar na hora.
L: Ah...

Depois da aula, como combinado, o André e eu saímos para almoçar.

A: E aí cara, que bicho te mordeu?
L: Então véi, foi muito doido, eu...

Eu contei então para ele como tinha ouvido a mensagem, como acreditava nela,e o que tinha acontecido desde então. Fiquei apreensivo no começo, porque o André é meu melhor amigo e, por mais que eu soubesse que a mensagem mudaria a vida dele para sempre, falar dela para ele era estranhamente mais difícil que o normal.

A: Cara! Bacana demais essa parada!
L: Não é cara? Eu disse que foi doido, a gente conversa mais sobre ela quando você quiser.
A: Pois é cara, é bacana a mensagem mesmo, mas tem muitas mensagens bacanas né?
L: É, tem...mas cara, você não está entendendo, essa é a mensagem!
A: Falou véi, aqui, já estou indo que tenho um tanto de coisa pra fazer, valeu?
L: Falou...

Eu fiquei parado um tempo a mais onde nós almoçamos e fiquei pensando, como alguém podia permanecer tão inerte e indiferente após ouvir a mensagem?

Isso nunca tinha acontecido antes, desde que eu comecei a compartilhá-la com outras pessoas. Eu vi a vida do João, da Maria e das pessoas que os cercavam ser completamente mudadas, e para melhor!

Lembrei do fato de que o André me conhecia muito bem, porque éramos amigos desde o colégio.

Talvez meu modo de vida tenha impactado negativamente as pessoas que me conheciam, como o André.Quando voltei para casa conversei com a minha mãe a respeito do que acontecera.

M: Filho, a mensagem chegar às pessoas é sua parte, mas ela transformar a vida das pessoas não depende de você.
L: Como assim?
M: Toda a sua vida você viu a mensagem aqui em casa, mas só quando você a ouviu aquele dia que você tomou a decisão de aceitá-la.
L: É, mas eu contei para o André do jeito que ouvi, contei tudo que aconteceu com o João, com a Maria, nossas vidas sempre tomaram rumos parecidos, achei que ele ia ter a mesma reação que eu tive.
M: Não é você que vai convencê-lo. Lembre-se, a VERDADE liberta, não você.
L: É verdade mãe. Valeu, te amo.
M: Também te amo.

Custei a pegar no sono nesse dia, mas no dia seguinte fui para aula disposto a tentar falar da mensagem de novo para meu amigo.

L: E aí, véi?
A: E aí, beleza?
L: Tudo, e aí?
A: Cara, essas mudanças todas na sua vida, isso foi por causa daquela parada que você me contou?
L: Foi, foi sim.
A: Ah...então tá, vamos para aula?
(nã tinha acreditado que aquilo estava acontecendo)
L: Vamos.

Algumas pequenas atitudes minhas em sala de aula chamavam a atenção de alguns professores. O meu orientador de monografia disse que estava impressionado com o progresso do meu trabalho. Um outro professor achou legal a monitoria voluntária que eu tinha oferecido para alguns colegas e disse que no próximo semestre eu poderia auxiliá-lo nessa aula, que poderia até considerar isso como estágio remunerado. Algumas colegas agradeceram por algumas gentilezas e brincavam com os caras da sala que se eu tinha começado a fazer isso, qualquer um poderia se esforçar e conseguir.

Como eu já disse antes, eu não tinha resolvido fazer todas essas mudanças, elas simplesmente aconteciam cada vez que eu tomava alguma decisão a respeito da mensagem. O que para mim tinha sido um processo extremamente natural, impressionava aqueles que me conheciam. Todos eles, exceto o Adnré.

A: Ei véi, beleza?
L: Tudo tranquilo, e você?
A: Beleza, aqui, tudo dando certo né Lot? A monografia, o estágio, o sucesso com as meninas. Tô felizão por você, essa parada te fez bem.
L: É, muito bem. Você devia experimentar tomar a mesma decisão que eu.
A: Me leva a mal não Lot, essa parada toda é muito legal, muito mesmo. Ouvi dizer que os professores ficaram sabendo da mensagem, as meninas também, soube que alguns deles até acreditaram, mas sabe, pra mim essas paradas são todas meio iguais, acho tudo válido sabe, depende da pessoa.
L: Só, mas só achar legal não basta pra ver os efeitos dela na sua vida cara...
A: Isso não é pra mim véi, pelo menos não por enquanto. Não tô afim de mudar. E na boa véi não tenta coomigo não, sou seu amigo e não quero que nossa amizade acabe por causa dessa parada. Então não insiste mais não, valeu?
L: Tá...

Aquele dia depois desse conversa foi um dos piores da minha vida. O meu melhor amigo, totalmente indiferente ao que estava acontecendo. Ele via quando eu conversava com alguém sobre a mensagem, chegou a ver um cara que ninguém apostaria que ia acreditar na mensagem e acreditou, mas na vida dele mesmo, nada mudava. Ele continuava dizendo o quanto aquilo era legal, que me fazia bem, que as pessoas deveriam me escutar, mas ele não queria saber daquilo pra vida dele. Continuava o velho André de sempre, sem nenhuma mudança.

Desse dia em diante eu ficava sempre muito feliz a cada vez que a vida de alguém era transformada pela mensagem, mas nunca deixei de torcer para que o André tomasse a decisão de acreditar nela também.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Crônicas do coletivo II


O mesmo ônibus de ontem. Depois da cena divertida comecei a ouvir uma conversa de duas senhoras (não que eu quisesse, mas elas falavam a uma intensidade suficiente para até o motorista ouvir).

A: - Você se casou?
B: - Deus me livre! Só morei com ele durante 14 anos.
A: - Casamento é muito ruim!
B: - É uma desgraça. Eu nunca casei, graças a Deus.
A: - A única coisa boa é entrar de branco na Igreja, a festa depois...
B: - Não vale a pena o sacrifício...
A: - Dependendo, casar no civil vale até a pena. Casa com um homem bem rico, e depois separa, e fica rica também.
B: - Mas o meu era pobre, miserável, e eu tive que aguentar por 14 anos.
Nisso o filho da senhora A, de uns três anos, começou a "cantar":
Aa: - Queeeeeeeu...queeeeeeeeu....veloxidade dois...queu queu queu queu...

Depois de um longo dia de aula, resolvi dar um cochilo.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Crônicas do coletivo


Eu sou uma pessoa que freqüentemente reclamo dos ônibus coletivos. Tanto pela demora, quanto pelo fato de eles sempre virem cheios, quanto pela falta de educação de cobradores, motoristas e passageiros (é, eu sei, reclamo muito).

Hoje presenciei uma cena engraçada.

Uma senhora entrou no ônibus com duas plantas gigantes, que pareciam estar bem pesadas. Nisso, um senhor que estava sentado à minha frente olhava inquietamente para ela, esperando que ela retornasse o olhar. Então ele disse (bem baixo, como se fosse um segredo mundial):
- Eu vou descer logo mais, no Biocor...

E pegou uma das plantas gigantes da senhora. Só que um outro lugar foi liberado, e ela sentou, com suas plantas gigantes.

O ônibus estava relativamente cheio, então essa senhora cutucou uma outra senhora que estava em pé um pouco mais a frente (uma que tinha recusado que um moço segurasse a bolsa pra ela) e disse que o tal senhor ia descer logo logo. Ela rapidamente andou até lá. Mas então outro lugar foi liberado, e ela também sentou.

Algum tempo depois, uma outra senhora chegou (uma que eu já tinha segurado a bolsa certa feita) e a moça ao meu lado avisou que o moço iria descer em breve.

E daí ele desceu.

Gentileza hoje em dia é uma coisa tão rara, que quando acontece em massa, se torna um fato extraordinário (e dessa vez até divertido).

segunda-feira, agosto 04, 2008

O diário de Lot - O mentiroso


Olá novamente, sou eu, o Lot. Da última vez em que nos encontramos eu falei sobre meu encontro com Maria. Bem, Logo após ter conhecido Maria e sua trágica história, passei a viver de modo diferente. Engraçado que eu não tinha decidido isso. Apenas decidi acreditar naquela mensagem e, naturalmente, me surpreendi pensando e agindo de modo diferente. E a cada experiência que eu tinha, como no caso de Maria, o meu novo modo de viver era fortalecido.

A minha mãe percebia isso. Aquele sorriso que ela deu quando eu levei Maria para casa nunca mais desapareceu do cotidiano dela. Eu nunca a vira tão feliz. E isso me deixava feliz.

Algun dias se passaram desde que eu tinha levado Maria de volta para casa. Caminhando pela rua (eu passei a gostar muito de fazer isso desde aquele dia), encontrei um jovem que devia ter mais ou menos a minha idade rindo. Era uma risada estranha, um tanto quanto nervosa. Eu iria continuar andando, mas eu não pude deixar de perguntar (chamarei o jovem de João):

L: Está tudo bem?

João parou repentinamente de rir e foi andando rapidamente, como se fugindo de mim.

L: Desculpe! Eu só queria saber se estava tudo bem! Eu não vou fazer nada com você (eu me arrependeria mais tarde, mas me senti extremamente poderoso naquele momento, mesmo sendo um jovem não muito forte).

"Ele não está fugindo de você" (voltei à realidade nesse momento) - uma senhora disse atrás de mim. Era a mãe de João, que chamarei de Ana.

L: Ele está bem?
A: Ele está...como sempre está.
L: Como assim?
A: Você é amigo dele?
L: Não, na verdade eu só estava passando na rua, quando o vi rindo e...bom, desculpe a intromissão. Eu vou indo.
A: Não! Quer dizer, por favor fique. O meu filho...ele se chama João. Sempre foi um garoto exemplar. Desde que o pai dele faleceu ele não para de mentir. Antes ele até se arrependia, mas agora parece até que está acreditando nas suas próprias mentiras. Eu já o levei a psicólogos, médicos...eles sempre dizem que é trauma da perda do pai, que logo vai passar, mas eu já estou cansada de esperar.
L: Sinto muito pelo seu marido. Foi há quanto tempo?
A: Tem dois anos. E nós...nós éramos divorciados. Eu me separei dele por causa das mentiras dele. Ele morreu num acidente de carro. O João tinha perguntado se ele ia viajar de carro, e ele disse que ia de avião. O João não gostava que ele dirigisse porque ele corria muito, parecia um adolescente quando pega a estrada pela primeira vez depois de tirar a carteira. Daí um caminhão desgovernado atingiu o carro dele. Ele não teve nem chance.
L: Eu...sinto muito por tudo isso.
A: Está tudo bem. Você quer entrar e esperar o João chegar?
L: É...eu...
A: Entre, está frio aqui fora.
L: Tudo bem, com licença.

João e Ana viviam em uma casa bem próxima à minha. Os tempos modernos não permitem que a gente conheça nem nossos próprios vizinhos. Na verdade, eu já os tinha visto algumas vezes na rua, mas eram vizinhos novos, eu não os conhecia.

A: O João estava rindo porque eu descobri uma de suas últimas mentiras. Ficou nervoso e disse que se eu dispensei o pai dele por falta de confiança, então ele também não queria minha presença. Acho que ele nunca superou nosso divórcio.
L: Deve ser difícil para você...e pra ele também.
A: É...um pouco.

João entrou em casa. Olhou para mim, para a mãe preparando-me um chocolate quente, e entrou para o seu quarto. Não demorou muito e me perguntou:
J: Você é o Lot, que mora a algumas quadras daqui?
L: Sou sim.
J: Podemos conversar...às sós?
L: Claro.

Depois que eu levei Maria para minha casa, eu fiquei relativamente famoso no bairro. Não sei como, mas a história se espalhou. Obviamente, cada um tinha sua versão.

J: É verdade que você engravidou a prostituta e então descobriu que a família dela morava aqui e a levou de volta para casa?
L: Bem, na verdade não fui eu quem a engravidou, mas sim, a levei de volta para a casa dos pais.
J: Ah...as pessoas espalham muitas mentiras.
L: É.
J: Minha mãe deve ter falado com você que eu tinha contado uma mentira, que meu pai era mentiroso,e que eu tinha ficado igual ele depois que ele morreu.
L: Hmm...ela está preocupada com você. Mas o que aconteceu?
J: Eu fui demitido do meu emprego porque meu patrão roubava o dinheiro da empresa.
L: Você foi demitido porque ele roubava?
J: Porque falei isso com ele.
L: Ah...mas como você sabe disso?
J: Eu vi. A minha mãe não acredita em mim porque...porque há algum tempo que eu não tenho falado muito a verdade.
L: E porque você não fala a verdade?
J: Eu não sei. Começou com "estou estudando", só para não lavar a louça, e foi aumentando de forma incontrolável. Agora parece que só sei mentir.
L: Ouvi dizer que quem causa problemas à sua família herdará somente vento...e também que a mentira tem perna curta.

João ficou em silêncio por um tempo e depois respondeu.

J: Apesar de óbvio, fazia tempo que eu não pensava nisso.
L: Acho que você precisa falar a verdade. Para o seu bem e de sua família.
J: Não é tão fácil. Virou uma espécie de vício.
L: Eu sei que não é. Mas você tem que começar, tem que dar o primeiro passo.
J: Eu sei...eu amo muito minha mãe. E o meu pai causou muitos problemas com as mentiras dele.
L: Você sente a falta dele não é?
J: Muita. Ele não podia ter mentido pra mim. Ele devia ter viajado de avião.
L: Mas ele não foi. Olha, o final da sua história são suas escolhas que vão definir.
J: É, mas a história do emprego é verdade.
L: A verdade então logo virá à tona.
J: É, acho que devo desculpas para minha mãe...e acho que ou começar a dar uns passos. Ei...
L: Lot.
J: Isso, Lot. Só mais uma coisa. O que você sabe sobre a verdade?
L: Eu conheci uma que me libertou.
J: Boa resposta. Pode me falar sobre ela um dia desses?
L: Claro.

Depois de tomar o meu chocolate quente, me despedi de João e Ana e fui embora. Voltei lá outras vezes, e numa dessas vezes falei com os dois sobre a verdade que me libertara. Ela os libertou também. E João deu o primeiro, o segundo, o terceiro passo, até parar de mentir de vez.

Mais tarde descobriu-se que o ex-chefe de João tinha mesmo roubado o dinheiro da empresa, e como João havia denunciado o fato, foi recontratado pela empresa, num cargo superior ao que tinha antes.

Quanto a mim, ganhei um novo amigo. E cheguei à conclusão de que devia me preocupar mais com meus vizinhos. Outro dia emprestei meu videogame para um garoto do prédio ao lado da minha casa.

Veja mais em

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...